Comissão da Verdade de Joinville (SC) ouviu ex-militar, hoje integrante do Governo Udo Döhler

Fraiz é hoje secretário de Governo do prefeito Udo Döhler
Fraiz é hoje secretário de Governo do prefeito Udo Döhler

A Comissão da Verdade de Joinville, única de caráter municipal em Santa Catarina, fechou o calendário de cinco audiências públicas do mês de setembro ouvindo, na noite de segunda-feira, mais duas pessoas envolvidas em prisões durante a ditadura militar de 1964 a 1985.

A primeira foi a senhora Zilma Gonçalves Serpa, mulher do militante do Partido Comunista do Brasil Júlio Serpa – preso e torturado entre 1975 e 1976 em Curitiba e Florianópolis,na chamada Operação Barriga Verde.

O fato que surpreendeu a todos os presentes no plenário da Câmara de Vereadores, inclusive os integrantes da Comissão, foi a presença do ex-tenente do Exército Afonso Carlos Fraiz, que integrou o 62º Batalhão de Infantaria de 1974 a 1979 e que participou de duas prisões por razões políticas – de Júlio Serpa e Rosemarie Cardoso.

Fraiz já havia sido convidado a depor na Comissão Estadual da Verdade, porém disse que optou por depor na Comissão de Joinville por livre e espontânea vontade. “Para mim, isso é uma opção pessoal e obrigação moral”, explicou.

Das onze pessoas já ouvidas em Joinville em cinco audiências, o ex-militar é o único que esteve “do outro lado” na condição de integrante do Batalhão de Infantaria de Joinville. “Não tenho qualquer constrangimento em estar aqui porque cumpríamos ordens que, em resumo, eram as de levar essas pessoas para o batalhão. Vale lembrar que ninguém ficou em cela ou foi torturado. A Rosemarie, por exemplo, ficou o tempo todo na sala de Relações Públicas. E poucas pessoas, no Batalhão, sabiam dessas detenções”, destacou.

Paranaense de Curitiba, Afonso Fraiz relatou que chegou a Jonville em 1974, com 24 anos, e vivenciou três episódios marcantes relacionados com prisões políticas.

Dois foram as detenções de Rosemarie Cardoso e Júlio Serpa. A terceira foi a missão de buscar, na casa de um preso, uma mala de roupas, onde sentiu o clima de apreensão e medo no rosto da mulher que o atendeu e de duas crianças de três a cinco anos que estavam na sala. “Até hoje essa cena me marca muito. Para quem cumpria aquele tipo de ordem não era nada agradável”, relatou.

Disse também que o 62º BI serviu unicamente como ponto de apoio para as prisões. Todos que ali chegavam, segundo relatou, eram levados para outros lugares (Curitiba e Florianópolis) no mesmo dia.

“Nenhum preso era resultado de investigação do Batalhão. Ninguém sofreu qualquer tratamento degradante. A lista de nomes vinha de Itajaí e outros lugares”, relembrou.

Essa dinâmica foi confirmada pela mulher de Júlio Serpa, Zilma, que relembrou na mesma audiência que na primeira prisão ele foi detido pelo Exército e solto no mesmo dia. As outras prisões foram por outros órgãos de segurança. “Na segunda vez, sumiu. Ficou duas semanas desaparecido. Depois, ficou dez meses entre Curitiba e Florianópolis, onde passou por torturas como choques e pau-de-arara”.

Zilma relembrou que, como outras mulheres de presos, a família ficou toda desorientada, especialmente ela que tinha três filhas e estava grávida da quarta, que nasceu prematura de sete meses. “Sofremos muito até soltarem ele. Na retomada da vida, Júlio teve o emprego de volta na mesma empresa. Depois, éramos tachados de comunistas até por parentes. Ficamos isolados, com medo de sair de casa, medo só de ver um policial na rua. Depois de três meses, nossa casa apareceu toda revirada”, recordou Zilma.

Reta final
A Comissão da Verdade de Joinville fechou a agenda de audiências, mas ainda haverá tempo hábil para ouvir outras pessoas. É composta por dez membros entre titulares e suplentes que representam os poderes Executivo, Legislativo, Ordem dos Advogados do Brasil, Instituições de ensino superior e instituições de defesa dos direitos humanos.
Durante os 21 anos do golpe militar, de 1964 a 1985, são conhecidos casos de 90 pessoas que foram presas ilegalmente em Santa Catarina, quase todas ouvidas pela Comissão Estadual da Verdade.

Com informações da Secom/PMJ

Mulheres relatam torturas à Comissão da Verdade em Joinville (SC)

As quatro mulheres ouvidas nas duas primeiras audiências públicas da Comissão da Verdade de Joinville confirmaram a existência de um padrão de ação dos órgãos de segurança durante a Operação Barriga Verde, entre 1975 e 1976. Em sequências idênticas, seus maridos foram encapuzados e levados ao Batalhão do Exército de Joinville, transferidos para Curitiba onde passaram por torturas durante uma ou duas semanas e, por fim, transportados para Florianópolis, onde ficaram presos por vários meses na penitenciária ou na Polícia Federal.

“Fomos massacradas, porque lutávamos por um Brasil melhor”, disse Lúcia Schatzmann, emocionada. Os sequestros ocorreram em novembro de 1975. Todos foram devolvidos às famílias em outubro de 1976 em péssimo estado de saúde em decorrência das torturas com choques elétricos, pau-de-arara, afogamento e empalação. “Encontrei meu marido em Florianópolis em estado deplorável”, relembrou Maria Damásio.

Os depoimentos colhidos nos dias 2 e 8 deste mês foram dados por Lúcia Schtzmann, mulher de Edegar Schatzmann; Maria Damásio, mulher de Valdemar Damásio; Linete Borges, mulher de Irineu Borges; e Glória Rocha, mulher de Osni Rocha. Dos quatro, apenas Edegar Schatzmann está vivo.

As mulheres destacam a criação de forte laço de amizade entre elas que dura até hoje, nascido nas tentativas de localização dos maridos, e um apoio material oferecido pela Prefeitura e Câmara de Vereadores, que cederam carros e cestas básicas de alimentos.

Traços em comum nos depoimentos das mulheres são a militância sindical de seus maridos, vinculação com o Partido Comunista do Brasil, humilhação nos órgãos de segurança, perseguição, tachação de subversivos, instabilidade emocional, familiar e financeira. “Até hoje não entendo a ameaça que nossos maridos representavam”, disse Linete Borges. “O medo da polícia era tanto que cheguei a enterrar dois sacos de livros no quintal para me afastar dessa cruz”, relembrou. “Meu marido caiu na depressão e no alcoolismo”, disse Glória Rocha.

A Comissão da Verdade de Joinville, constituída por lei municipal em agosto, é a única criada em âmbito municipal em Santa Catarina e tem como meta ouvir vítimas e testemunhas de episódios de violação de direitos humanos. O relatório final será incorporado pelo trabalho da Comissão Estadual da Verdade até o mês de novembro.

É integrada por representantes da Prefeitura, Câmara de Vereadores, Ordem dos Advogados do Brasil, Centro de Direitos Humanos Maria da Graça, Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos, Departamento de História da Univille e Curso de Jornalismo do Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/Ielusc.

As primeiras audiências foram realizadas nos dias 2 e 8 de setembro. Outras três estão marcadas para os dias 15, 22 e 29 na Câmara de Vereadores de Joinville (Av. Hermann August Lepper, 1100), às 19 horas.

Com informações da Secom/Prefeitura de Joinville.

Comissão da Verdade promove segunda audiência pública em Joinville (SC) na segunda-feira (8/9)

A Comissão Municipal da Verdade de Joinville (CMV) realiza na segunda-feira (8) a segunda audiência pública para ouvir vítimas e apurar fatos relacionados a violações de direitos humanos durante a ditadura militar do Brasil, de 1964 a 1985, principalmente em 1975 quando foi realizada a Operação Barriga Verde em Santa Catarina.

O local é a Câmara de Vereadores, às 19 horas. Na primeira audiência pública, realizada dia 2 de setembro, foram ouvidas duas mulheres que relataram a prisão de seus maridos, a fragilidade familiar e as humilhações que passaram em corredores de órgãos de segurança.

Para a segunda audiência está prevista a ouvida de outras duas mulheres. Ao todo, a Comissão da Verdade ouvirá pelo menos cinco pessoas, cujos relatos serão formalmente encaminhados à Comissão Estadual da Verdade.

A Comissão da Verdade de Joinville, criada por lei no dia 26 de junho, é a única em âmbito municipal em Santa Catarina. É composta por dez membros entre titulares e suplentes que representam os poderes Executivo, Legislativo, Ordem dos Advogados do Brasil, Instituições de ensino superior e instituições de defesa dos direitos humanos.

O coordenador, Luiz Henrique Lima, procurador do Município, explica que além de ouvir as vítimas será feito um resgate histórico daquele período. “A comissão será um importante canal para ouvirmos vítimas e outras pessoas envolvidas nesses episódios e que queiram se manifestar”, explicou. Interessados podem entrar em contato com integrantes da CMV pelos endereços eletrônicos comissaodaverdade@oab.org.br, luizhlima@hotmail.com, rossana.cunha@gmail.com e maikon.jean.duarte@gmail.com .

Um dos integrantes da CMV, o professor de história Maikon Jean Duarte, disse que outro objetivo que a comissão pode alcançar é identificar a cadeia de comando das operações de repressão com base em nomes que atuaram direta e indiretamente na repressão. “Uma grande dificuldade é a identificação desses nomes. A comissão ouvirá vítimas ou acusados que queiram se manifestar. O objetivo é expor o outro lado da história”, explicou.

Durante os 21 anos do golpe militar, de 1964 a 1985, são conhecidos casos de 90 pessoas que foram presas ilegalmente em Santa Catarina, quase todas ouvidas pela Comissão Estadual da Verdade. “As que ainda não foram ouvidas precisam se sentir encorajadas a falar, seja como forma de colaborar com a verdade histórica, seja na fundamentação de possíveis medidas jurídicas cabíveis”, exortou o jornalista e professor do curso de Jornalismo do Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/Ielusc, Sílvio Melatti.

Ditadura Militar: Comissão da Verdade começa a funcionar em Joinville (SC)

Presidente da Comissão da Verdade, Luiz Henrique Lima
Presidente da Comissão da Verdade, Luiz Henrique Lima

A Comissão Municipal da Verdade de Joinville (CMV) confirmou nesta quarta-feira (27), durante entrevista coletiva à imprensa, que o principal foco dos trabalhos será o depoimento cinco pessoas vítimas diretas ou indiretas da repressão militar, especialmente durante a Operação Barriga Verdade, em 1975.

Para ouvir essas pessoas em audiência pública já foi estabelecido um calendário durante o mês de setembro, na Câmara de Vereadores. A primeira será no dia 2, a partir das 19 horas.

As informações coletadas nesses depoimentos complementarão os trabalhos da Comissão Estadual da Verdade. “Nosso prazo é até o final de novembro, porém nada impede de prosseguirmos na apuração de fatos relacionados com violações de direitos humanos para resgate da verdade histórica”, enfatizou o coordenador da CMV, advogado Luiz Henrique Lima.

Um dos integrantes da CMV, o professor de história Maikon Jean Duarte, disse que outro objetivo que a comissão pode alcançar é identificar a cadeia de comando das operações de repressão com base em nomes que atuaram direta e indiretamente na repressão. “Uma grande dificuldade em todo país é a identificação desses nomes. A comissão ouvirá vítimas ou acusados que queiram se manifestar. O objetivo é expor o outro lado da história”, explicou.

Durante os 21 anos do golpe militar, de 1964 a 1985, são conhecidos casos de 90 pessoas que foram presas ilegalmente em Santa Catarina, quase todas ouvidas pela Comissão Estadual da Verdade.

“As que ainda não foram ouvidas precisam se sentir encorajadas a falar, seja como forma de colaborar com a verdade histórica, seja na fundamentação de possíveis medidas jurídicas cabíveis”, exortou o jornalista e professor do curso de Jornalismo do Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/Ielusc, Sílvio Melatti.

A Comissão
A Comissão da Verdade de Joinville, criada por lei no dia 26 de junho, é a única em âmbito municipal em Santa Catarina. É composta por dez membros entre titulares e suplentes que representam os poderes Executivo, Legislativo, Ordem dos Advogados do Brasil, Instituições de ensino superior e instituições de defesa dos direitos humanos.

“Além de ouvir as vítimas e realizarmos um resgate histórico daquele período, a comissão será um importante canal para ouvirmos outras pessoas envolvidas nesses episódios e que queiram se manifestar”, explicou o coordenador. Interessados podem entrar em contato com integrantes da CMV pelos endereços eletrônicos comissaodaverdade@oab.org.br, luizhlima@hotmail.com, rossana.cunha@gmail.com e maikon.jean.duarte@gmail.com.

Opinião: 50 anos do Golpe Militar – Comissão da Verdade em Joinville já!

Audiência Pública foi pouco prestigiada por vereadores, população, mas teve ótimo conteúdo.
Audiência Pública foi pouco prestigiada por vereadores, população, mas teve ótimo conteúdo.

Quem viveu o período triste, violento, de perseguições, torturas, censuras e de total falta de liberdade da ditadura militar no Brasil entre 1964 e 1985 sabe o quanto é salutar viver na democracia. Poder dizer o que pensa onde quiser, participar de eleições votando ou sendo votado, fiscalizar sem medo de ser preso, exercer a cidadania, e principalmente, ter a liberdade como bem maior. Quem gosta de ditadura é o autoritário, o conservador que deseja tudo para si e os seus, que detesta o debate, o pensamento dos demais, ou melhor, quer a liberdade total restrita aos seus. Nada mais reacionário. Gosto do pensamento que exprime o seguinte: posso não concordar com nada do que pensas, mas defenderei até a morte o direito de dizeres o que pensas.

Dito isso, quero dizer que vivenciei momentos únicos no plenário da Câmara de Vereadores de Joinville (SC) na noite de terça-feira (11/3) na audiência pública que marcou os 35 anos do Centro dos Direitos Humanos da maior cidade catarinense, o terceiro a ser criado no país. O representante da Comissão da Verdade de SC, Naldi Otavio Teixeira, esteve palestrando para uma pequena plateia para um tema tão importante e fundamental para a sociedade que viveu mais de 20 anos sob a ditadura militar. Presentes ao evento ex-presos políticos da cidade, perseguidos políticos, e que contaram as dores de ver o ente querido sequestrado e desaparecido pelas mãos dos militares, como contou a dona Lucia Schatzmann, esposa de Edgar Schatzmann, que foi por duas vezes preso.

Coisas que me chamaram a atenção. Uma, e significativa, foi a presença de apenas três dos 19 vereadores. Sequer o presidente do Poder Legislativo, João Carlos Gonçalves, esteve no evento. Rodrigo Fachini, Adilson Mariano e Manoel Bento se manifestaram em apoio às atividades da Comissão Estadual da Verdade, mas timidamente e se preocupando mais em agradar a plateia presente ou enaltecer os seus. Vergonhoso para um poder que é a Casa do Povo, e que só existe hoje de forma independente (será?) por conta da luta de milhares de brasileiros em favor da liberdade e da democracia. Outra questão é o atraso dos trabalhos da Comissão no Estado, claramente engessada, com falta de apoio financeiro, logístico e institucional claro. Afinal, todos estão de certa forma atrelados ao governo estadual. Este tem fortes raízes politicas fincadas nos anos da ditadura.

Ouvi, emocionado, os relatos de pessoas que sentiram na pele o autoritarismo. Ouvi também atentamente as falas de professores, militantes do Partido Comunista, e resolvi colocar o dedo na ferida, pedindo a palavra. Relatei que sou um defensor da democracia e da liberdade, e que sou pesquisador assíduo deste período, leitor de varias bibliografias sobre as torturas. Contei sobre entrevistas que fiz com a família do senhor Conrado de Mira, o primeiro sindicalista de Joinville, que foi preso e torturado. A família foi estigmatizada pela sociedade de então. Do senhor João Schmitz, que estava presente à audiência, que foi o primeiro candidato a prefeito do PT na cidade, também perseguido. Do senhor Elmar Zimmermann, ex-vereador e já falecido, que abrigava os perseguidos pela ditadura. E fiz uma cobrança que repito aqui no Palavra Livre.

De que é imperioso que a Câmara de Vereadores de Joinville crie por lei a Comissão Municipal da Verdade para trazer a luz tudo o que aconteceu durante os anos de chumbo na maior cidade catarinense. Afinal, aqui não era o paraíso. Segundo dados relatados pelo professor Maycon Duarte, cerca de 70 pessoas foram presas. Quem sabe quais foram, para onde foram, se foram torturadas? Como saber sem a obrigação de um poder democrático e constitucional como o poder legislativo em buscar a verdade? Quem apoiou o Golpe Militar em Joinville? Quem torturou, quem comandou perseguições, prisões? Onde estão hoje? Tudo isso para passar a limpo a nossa história e trazer à tona as verdades necessárias à sociedade! Porque o medo, a falta de coragem tão falada nos discursos da noite pelos vereadores presentes? Falta coragem aos vereadores para encarar o peso de expor, talvez, apoiadores de campanha?

Penso que a sociedade joinvilense precisa se mobilizar via Centro dos Direitos Humanos, partidos políticos, Câmara de Vereadores, e de forma individual mesmo a cobrar a instalação aqui também da Comissão da Verdade! Sem revanchismos, sem perseguições, mas com o intuito de tirar da escuridão os nomes dos beneficiados por um regime que deve sim satisfações à sociedade. É um dever cívico dos vereadores abrirem imediatamente a Comissão, sem titubear! Eles só estão nos cargos e eleitos pelo voto por causa da luta destes homens e mulheres que deram a vida pela liberdade. E para que definitivamente cessem os sussurros perigosos dos saudosos da ditadura, que não conseguem conviver com a liberdade de todos, com o direito de todos, com a democracia! Finalizo parabenizando ao CDH pelo trabalho realizado na cidade, e a todos os que lutaram pela liberdade que hoje desfrutamos. Sem liberdade, não há vida.

* Salvador Neto é jornalista profissional e diplomado, é também blogueiro, escritor, cronista e consultor. Especializado em assessoria de imprensa e comunicação política, empresarial, sindical e do terceiro setor. Escreveu para o jornal Notícias do Dia na seção Perfil. Apresenta o programa de entrevistas Xeque Mate na TV Babitonga Canal 9 da NET em Joinville (SC).Tem mais de 20 anos de experiência nas áreas de comunicação, marketing e planejamento.

Bolsonaro tumultua visita da Comissão da Verdade ao antigo Doi-Codi no Rio

Deputado deu um soco na barriga do senador Randolfe Rodrigues e conseguiu entrar no prédio do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na zona norte da cidade.

A visita da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro ao 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, na zona norte da cidade, começou com tumulto. O motivo foi a chegada do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Militar da reserva do Exército, o deputado não faz parte da comissão nem estava na lista dos integrantes da visita.

A confusão começou quando Bolsonaro forçou a passagem, no portão do quartel, e chegou a dar um soco na barriga do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que tentava impedir a entrada do deputado federal. Representantes de movimentos como o Tortura Nunca Mais e o Levante Popular da Juventude exigiam, aos gritos, a saída de Bolsonaro, que conseguiu entrar.

A comitiva, no entanto, recusou-se a fazer a visita na presença de Bolsonaro. O parlamentar permaneceu dentro do quartel. Dezenas de pessoas esperavam em frente ao batalhão o resultado da visita da comissão. No prédio, onde hoje está o Batalhão de Polícia do Exército, abrigava o Destacamento de Operações de Informações-Centro de Defesa Interna (Doi-Codi) e foi local de tortura e prisões arbitrárias durante a ditadura militar (1964 a 1985).

Além de Randolfe Rodrigues, acompanham a visita da comissão o senador João Capiberibe (PSB-AP), que foi torturado nas dependências do batalhão durante a ditadura, e as deputadas federais Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Luiza Erundina (PSB-SP).

Do Brasil Econômico

Comissão da Verdade de SC ouvirá ex-presas políticas do Estado

A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright vai ouvir mulheres catarinenses que foram presas políticas na época do regime militar. Os depoimentos serão colhidos durante audiência pública que será realizada nesta quinta-feira, dia 5, às 14h, no Plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis. A audiência integra a programação da Semana Paulo Stuart Wright – 40 anos de seu desaparecimento, organizada pelo Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça.

Foram convidadas a prestar informações sobre a experiência na prisão Anne Beck, Anita Maria Silveira Pires, Brigitte Buchele de Souza, Derlei Catarina De Luca, Hildegart Brand, Lígia Giovanella, Marize Lippel, Marlene de Souza Soccas, Rosangela de Souza e Rosemeri Cardoso. De acordo com o coordenador da Comissão Estadual da Verdade, o procurador do Estado Naldi Otávio Teixeira, o objetivo da audiência é coletar dados, informações e prestar esclarecimentos a respeito das violações de direitos humanos praticadas por motivação exclusivamente política no Estado de Santa Catarina.

A Comissão
A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV) foi criada em 2013 com o objetivo de examinar violações de direitos humanos ocorridas no período de setembro de1946 aoutubro de 1988, além de subsidiar a Comissão Nacional da Verdade (CNV). As atividades desenvolvidas pela CEV são consideradas públicas, exceto nos casos em que seja necessário manter sigilo para resguardar a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem das pessoas envolvidas.

O nome da Comissão homenageia Paulo Stuart Wright, político catarinense que nasceu em Herval d’Oeste, em 2 de junho de 1933. Quando deputado foi cassado por ato da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Posteriormente, foi preso em São Paulona primeira semana de setembro de 1973, data a partir da qual não se teve mais notícias do paradeiro dele.

“Capitão Pereira deu um tiro na nunca de cada um deles”, diz ex-agente da ditadura

Em depoimento que terminou às altas horas desta quinta-feira, o ex-agente da repressão Valdemar Martins de Oliveira falou durante a audiência pública realizada da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. Ex-paraquedista, Valdemar disse a Rodrigo Vianna, em reportagem exclusiva veiculada nessa quarta-feira 15 pelo Jornal da Record, que abandonou o Exército brasileiro por discordar de torturas e assassinatos cometidos pelos militares contra militantes políticos que se opunham à ditadura.

Valdemar foi testemunha do assassinato do casal Catarina Abi-Eçab e João Antônio dos Santos Abi-Eçab, em 1968, no Rio de Janeiro. Os dois militavam no movimento estudantil e eram suspeitos de ter participado da execução do capitão do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em 12 de outubro de 1968, feita pela ALN e pela VPR.

Durante muito tempo prevaleceu a versão policial que atribuiu a morte do casal à explosão do veículo em que viajavam, em consequência da detonação de explosivos que transportavam, no km 69 da BR-116, próximo a Vassouras (RJ).

A versão divulgada na imprensa foi a de que ambos foram vítimas de um acidente de automóvel: “[…] chocaram-se contra a traseira de um caminhão que transportava pessoas em sua caçamba”. No veículo em que estavam, teria sido encontrada uma mala com armamentos e munição.

No boletim de ocorrência, que registrou o suposto acidente, consta:

Foi dado ciência à Polícia às 20h de 08/11/68. Três policiais se dirigiram ao local constatando que na altura do km 69 da BR116, o VW 349884-SP dirigido por seu proprietário João Antônio dos Santos Abi-Eçab, tendo como passageira sua esposa Catarina Helena Xavier Pereira (nome de solteira), havia colidido com a traseira do caminhão de marca De Soto, placa 431152-RJ, dirigido por Geraldo Dias da Silva, que não foi encontrado. O casal de ocupantes do VW faleceu no local. Após os exames de praxe, os cadáveres foram encaminhados ao necrotério local.

O laudo da exumação, elaborado pelos legistas Carlos Delmonte e Isaac Jaime Saieg, em 23 de julho de 2000, concluiu que a morte foi conseqüência de “traumatismo crânio-encefálico” causado por “ação vulnerante de projétil de arma de fogo”. Sua morte ocorreu em decorrência de um tiro que a atingiu pelas costas. Além disso, os legistas não encontraram sinais de autópsia feita anteriormente. A causa mortis apresentada em 9 de novembro de 1968, pelos médicos Pedro Saullo e Almir Fagundes de Souza, do IML de Vassouras, foi “fratura de crânio, com afundamento (acidente)”.

A reportagem feita pelo jornalista Caco Barcellos, veiculada no Jornal Nacional (TV Globo) em abril de 2001, desmentiu a versão policial de acidente e demonstrou que João Antonio e Catarina foram executados. Na entrevista ao repórter Rodrigo Vianna, Valdemar deu detalhes:

– O capitão Pereira deu um tiro na nuca de cada um deles.

Na véspera, em depoimento à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, na Assembleia Legislativa, Valdemar revelou o nome do “capitão Pereira”:

– O coronel Freddie Perdigão deu um tiro na nuca de um e outro tiro na nuca do outro.

Em depoimento à Comissão Nacional Verdade, o ex-militar já havia revelado o nome de Freddie Perdigão. Como lá a audiência foi fechada, a informação não veio a público.

Dr. Nagib

Segundo o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, o nome de Freddie Perdigão, conhecido como o Dr. Nagibnos porões da ditadura, aparece em duas listas do Projeto Brasil Nunca Mais, como Major atuando no DOI/CODI do Rio de Janeiro, em 1970. Em documento de 2008, o Tortura Nunca Mais/RJ, relata:

“Na primeira destas listas, a de “Elementos Envolvidos Diretamente em Torturas”, à página 39 do Tomo II, volume 3 “Os Funcionários”, seu nome é denunciado por Tânia Chao que, em dezembro de 1970 era professora, tendo 25 anos. Seu depoimento encontra-se à pág 769 do Tomo V, volume 3, “As Torturas” do Projeto BNM, transcrito abaixo:

( ) … que a declarante anteriormente a assinatura de suas declarações foi agredida de diversas maneiras sofrendo, inclusive, choques elétricos pelo corpo sendo que esses fatos foram presenciados pelo Encarregado do IPM; que a declarante foi agredida, inclusive, pelas pessoas de nome Plínio e Nagib, e, também, por Timóteo Ferreira por palmatória; que a declarante na prisão não tem obtido tratamento médico necessário uma vez que sofre de artrite rematoide e de úlcera; que em sua prisão não tem o mínimo conforto necessário no que se refere a higiene uma vez que não há banheiro na cela …( )

Estas declarações de Tânia Chao encontram-se no Processo N.º 81/70 da 1ª Auditoria da Militar, da 1ª RM/CJM, com Apelação no STM de n.º 39.519 consta de dois volumes e dois apensos ( informações contidas à pág 209, Tomo II, Volume 1 “A Pesquisa BNM” do Projeto Brasil Nunca Mais).

Este processo, trata de réus acusados de pertencerem a ALA, no Rio de Janeiro, em 1970, tendo conseguido do dono de uma gráfica autorização para imprimirem identidades falsas, o que efetivamente fizeram. Alguns réus fundaram um curso para obter fundos para a Ala, onde era impresso em mimeógrafo o jornal Unidade Operária

Na segunda lista, a de “Membros dos órgãos da Repressão”, à página 233 do Tomo II, Volume 3 “Os Funcionários”, o nome de Nagib é denunciado também em abril de 1971 e aparece no mesmo Processo citado acima.

O Coronel Freddie Perdigão foi denunciado pelo estudante Sérgio Ubiratan Manes em depoimento ao Tribunal Superior Militar (STM), em 1969, segundo reportagem do jornal O Globo de 04/07/99, como um dos torturadores que o espancaram na Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita.

Nessa mesma reportagem, o General Newton Cruz revela que o Capitão Perdigão o avisou daOperação Riocentro e esteve no local do atentado com o grupo de militares que colocaram a bomba no estacionamento do Riocentro, durante um show em homenagem ao Dia do Trabalhador, em 30/04/81, onde morreu o sargento Guilherme do Rosário e ferindo o capitão Wilson Machado, ambos agentes do DOI/CODI.

Segundo o jornalista Elio Gaspari, publicado na sua coluna, no jornal O Globo, no dia 24/10/99 “…O grupo terrorista a que Perdigão estivera ligado em 1968 voltou a agir em 1976.

Seqüestraram, espancaram, pintaram de vermelho e deixaram nu numa estrada o bispo de Nova Iguaçu, Dom Adriano Hipólito…”

Do Correio do Brasil, assinado por Conceição Lemes é jornalista e escreve para o sítio Viomundo.

“Brilhante Ustra”: “Nunca ocultei cadáver”, diz coronel à Comissão da Verdade

ustrraEm depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra negou a acusação do Ministério Público Federal de ocultação de cadáver. “Agi com a consciência tranquila. Nunca ocultei cadáver. Sempre agi dentro da lei”, disse Ustra, que comandou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército em São Paulo (DOI-Codi-SP), entre 1970 e 1974.

O coronel compareceu hoje à comissão e, apesar de decisão judicial que lhe garantia o direito de não se pronunciar durante o depoimento, Ustra falou aos membros da comissão e negou também que tenha cometido assassinato, tortura e sequestro. O ex-comandante afirmou ainda que nenhuma tortura foi cometida dentro das instalações do órgão de repressão do governo militar.

Além do coronel Ustra, fala à comissão o ex-sargento Marival Chaves, que atuou na mesma instituição e já prestou dois depoimentos espontâneos à CNV. Marival Chaves e Carlos Ustra estão sendo ouvidos dentro da linha de pesquisa dos grupos de trabalho sobre as Graves Violações de Direitos Humanos cometidas por agentes do Estado ou pessoas a seu serviço entre 1946 e 1988.

Da EBC

Vlado: jornalista relaciona morte a declarações de José Maria Marín contra TV Cultura

A jornalista Rose Nogueira afirmou em entrevista à EBC que o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, intimidava a TV Cultura durante a ditadura militar (1964-1987). Ela integrou a equipe de jornalismo da emissora, dirigida por Vladimir Herzog na década de 1970. A declaração da profissional foi divulgada na noite dessa segunda-feira, 25.

Em 1975, ano em que Vlado foi assassinado, Marin era deputado estadual pela Arena e fazia discursos sobre o que ele chamava de controle comunista da TV Cultura. “Lembro perfeitamente desses discursos, como a gente da redação ficava apavorada cada vez que esse homem fazia um discurso”, disse Rose. No dia nove de outubro daquele ano, o atual dirigente pediu ação contra a emissora administrada pelo estado de São Paulo”É preciso, mais do que nunca, uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar, não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos”, conforme publicado no Estadão.

Rose atribuiu o assassinato de Vlado às declarações feitas pelo ex-parlamentar e avaliou que Marin não pode continuar à frente de uma entidade representativa do esporte de maior comoção nacional. “Ele tem que ficar longe da CBF. Temos o futebol como esporte nacional (…) Não, a CBF não pode ser dirigida por alguém que pedia a prisão e a repressão de uma emissora, que aliás é estatal, dizendo que havia subversivos comunistas. Essa opinião formada em relação ao ‘A Hora da Notícia’, o nosso telejornal, e ao nosso diretor Vladimir Herzog, inesquecível, contribuiu para essa tragédia”.

A morte de Vlado
Herzog foi convocado para prestar depoimento no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). O comando do Exército divulgou nota oficial informando que, em 25 de outubro de 1975, Vlado tinha se suicidado na cela onde estava preso. O Tribunal de Justiça de São Paulo, entretanto, determinou, em 24 de setembro de 2012, a retificação do atestado de óbito do jornalista, indicando assassinato.

Relações entre Dilma e Marin
O jornalista Juca Kfouri denunciou em seu blog, em 26 de junho do ano passado, que a presidente Dilma Rousseff se recusa a se encontrar com Marin, por ele ter incitado a prisão de Vlado, 16 dias antes da morte do jornalista. O Palácio do Planalto, contudo, nega os motivos citados por Kfouri.

Ainda no ano passado, durante o sorteio da Copa das Confederações, a presidente sentou ao lado de Marin, também presidente do Comitê Organizador Local da Copa (COL). Na ocasião, o Lancenet ouviu uma pessoa próxima do cartola que considerou o gesto como “um marco”. Em discurso, Dilma enfatizou que o Brasil é um país democrático e que respeita os direitos humanos. O comandante da CBF costuma se irritar quando questionado sobre esse tema.

Da Redação do Comunique-se