Opinião – Eleição Presidencial 2014: Deixemos de hipocrisia!

Corrupção é o ato ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra. É tirar vantagem do poder atribuído.

“Corrupção” vem do latim corruptus, que significa “quebrado em pedaços”. O verbo “corromper” significa “tornar-se podre”. Estamos aqui falando de algo extremamente humano, o ato de corromper, a intenção e vontade de se corromper, existente em nossa vida desde que o mundo é mundo.

Nesta eleição presidencial a oposição colocou na pauta, como aríete, como sua arma maior o tema corrupção. Aécio Neves aposta tudo no carimbo idealizado para marcar a testa de Dilma Rousseff como, no mínimo, suscetível à corrupção.

Ocorre que a corrupção é como um câncer, uma metástase que acomete o tecido social, as células que formam nosso corpo Brasil, e como tal, é de difícil diagnóstico, tratamento e solução que não agrida nosso organismo. Por vezes não há como vencer tal doença, porque não a percebemos antes. E esse câncer nos vence.

Digo isso porque chegamos ao século 21 com bases muito baixas na discussão do futuro do país. Pautar um debate que envolve o coletivo apenas em corrupção é apostar também que somos todos anencefálicos, ou no mínimo, não pensamos e sequer percebemos onde vivemos, o que vivemos e, principalmente, como vivemos.

Como já disse, a corrupção é como um câncer que se espalha rapidamente sem hora marcada. E ele está presente em nosso organismo social. Isso é inegável. Não defendo a corrupção, quero é ver o país olhando a outros horizontes, mais produtivos.

Se há corrupção, é claro que existem corruptores, e aí, corrompidos. Porque as causas da corrupção jamais são debeladas? Por que o poder está em 50% mais um nas mãos dos corruptores, gente endinheirada e gananciosa por mais fonte de dinheiro.

De outro lado, os corruptos, gente que por obra do destino, ou das mãos de gente – quem não conhece o ditado, jabuti em árvore, ou foi enchente, ou mão de gente – está em posições estratégicas do Estado (Governo Federal, Estadual, Prefeituras, Judiciário, Legislativos), ou até em empresas, porque não?

Proponho este debate por entender que pautar o tema corrupção a cada eleição é criar cortina de fumaça, é jogar o foco do debate para um lado nebuloso, ardiloso, uma terra movediça em que o eleitor, sempre ele, tem de decidir entre o mais ou o menos corrupto.

E vamos respeitar a nossa inteligência leitores: nem sempre há corruptos de lado a lado, nem do lado dos candidatos, tampouco dos eleitores. Mas todos, sim, todos, podem ter abraçado a corrupção em algum momento da vida. A depender do ponto de vista, não se enxerga corrupção, não é mesmo?

Pedir um jeitinho, furar a fila no transito, nos postos de saúde, não parar na faixa para pedestres, estacionar em lugar de idosos, cadeirantes, colar na prova, enganar a esposa ou esposo com outro ou outra, é muito diferente de pedir, ou dar, 10 ou 15% de uma licitação ou concorrência pública? É diferente de fazer obras próximas a propriedades de amigos para valorizar terras?

Não, claro que não! Nós fazemos de conta que ao não terem os mesmos valores ($$) os delitos, a corrupção, ela não existe! Isso se chama hipocrisia, um falsear da realidade de acordo com o nosso desejo. Precisamos definitivamente fugir disso, e ter a superior decisão de compreender, e vigiar, para que não caiamos na mesma armadilha: o câncer da corrupção.

Quando os candidatos Aécio e Dilma entram na discussão “projetos de país”, aí sim vejo um caminho lúcido para que o eleitor possa avaliar os futuros rumos.

Analisar o que cada grupo representa, de onde vem, o que já fez. Com base em projetos deste nível que mostre quem defende o quê, fica muito mais interessante e altivo o debate. Afinal, temos de saber se A ou B defendem o capital especulativo ou desenvolvimentista. Se apoiam a igualdade social ou a separação entre quem tem mais ou menos, prega o mesmo credo ou não, se creem que é preciso apoiar quem tem menos para que encontrem um caminho ou se o Estado deve servir apenas ao mercado e capital.

Podemos ter mais claro qual projeto defende que todos têm os mesmos direitos, ou que, por exemplo, gays não tem o direito de constituir família, casar. Podemos ver quem é mais conservador, mais liberal. Enfim, quando o debate vai para algo mais concreto, visível, o eleitor, o povo que costuma não querer saber de política, se interessa sim, e com isso ganha a democracia, a cidadania, e todo o país.

O Brasil tem de crescer, e não regredir a cada eleição. Nestas de 2014 o que se viu, e se vê ainda no segundo turno presidencial e em alguns estados, é o atraso intelectual, político e de propostas.

Causas importantes como o meio ambiente, a inclusão social de pessoas antes abandonadas e sem futuro, os direitos dos GLBTs ao casamento e constituição de família, a busca por novas fontes de energia para sustentar a vida em sociedade – vejam a falta de água em SP, caso gravíssimo de falta de planejamento e sustentabilidade –, o investimento maciço em educação para a vida, e para a vida profissional, a moradia, o saneamento, e até a segurança, algo que só se resolverá com a diminuição das desigualdades sociais, e não com mais polícia e repressão.

Esses são os temas que devem estar na agenda nacional, das lideranças politicas, partidárias, empresariais, sociais, religiosas, movimentos sociais.

Mas não. O que se vê é o empobrecimento do debate, o não ataque às fontes da corrupção como uma ampla reforma politica que acabe com a farra de partidinhos de aluguel, eleições gerais de seis em seis anos, fim de coligações, financiamento público de campanha, voto distrital puro o misto, democratização da comunicação acabando com oligopólios midiáticos que colocam todo o seu peso para negociar (ou seria corromper?) com grupos políticos e do capital, em desfavor da sociedade. Esse empobrecimento interessa ao status quo.

Se queremos uma sociedade mais justa, com menos corrupção (acabar é impossível, seria como acabar com a humanidade…), mais desenvolvida intelectual e socialmente falando, precisamos elevar o debate.

Precisamos de novas lideranças que tenham os corações cheios de olhar social, de paz, voltados ao desenvolvimento humano, e não do crescimento puramente econômico, que por si só é excludente.

Essas lideranças, que hoje não tem espaço nos partidos tradicionais, mas estão envolvidas em empreendimentos sociais de fato, não de fachada, estão com muita energia para doar à sociedade. Se parte deles estiverem na politica em um novo momento, teremos chance de ver algo novo, uma sociedade melhor nascendo.

Por isso, ao se dirigir às urnas no próximo domingo, dia 26 de outubro, vá com a missão de escolher seu candidato para um país voltado à cultura da paz, socialmente mais justo e solidário.

Vá votar sem os cabrestos que partidos, líderes partidários, televisões e jornais, impõem no dia a dia. Faça a sua escolha após refletir muito sobre o que já viveu, o que já viu. Para quem já viveu tempos amargos e duros, isso é ainda mais importante. Os mais jovens, busquem informações em todos os lugares, comparando tudo para decidir.

Votar, em que pese milhões entenderem ser uma bobagem a ponto de anular votos, ou votar em branco, ou ainda pior, não votar, é um exercício de inteligência, de amor ao convívio em sociedade.

Vamos deixar de hipocrisia. Vamos pensar. Vamos analisar. Comparar. Perceber. Se envolver. E votar conscientemente pelo melhor candidato ou candidata. Mas não para por aí não. Depois é acompanhar a todos de perto, cobrar, fiscalizar. Depois, participe de algum projeto social, vá viver a experiência de se doar ao coletivo. Exercer a cidadania é isso. O resto é ignorância e pura hipocrisia e palavras ao vento! Bom voto a todos e todas!

* Escrito por Salvador Neto, jornalista e editor do Palavra Livre

Autor: Salvador Neto

Jornalista e escritor. Criador e Editor do Palavra Livre, co-fundador da Associação das Letras com sede no Brasil na cidade de Joinville (SC). Foi criador e apresentador de programas de TV e Rádio como Xeque Mate, Hora do Trabalhador entre outros trabalhos na área. Tem mais de 30 anos de experiência nas áreas de jornalismo, comunicação, marketing e planejamento. É autor dos livros Na Teia da Mídia (2011) e Gente Nossa (2014). Tem vários textos publicados em antologias da Associação Confraria das Letras, onde foi diretor de comunicação.

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