Crônica de um jovem talento: “Saudade”

Seu nome é Otavio Henrique Komar Hlenka. O conheci muito rapidamente em uma palestra que ministrei na Escola Estadual Arnaldo Moreira Douat, no bairro Costa e Silva, na cidade de Joinville (SC). Quando falava em sala de aula, antes de palestrar com mais duas turmas, e para todas em conjunto no auditório, percebi seu olhar atento lá no fundão.

O tema o agradou. Falei sobre jornalismo, comunicação de massas, a importância da leitura, da escrita, e nesta toada falei da nossa Associação das Letras, sediada em Joinville, mas com ação e abertura para o país e o mundo, fundada há pouco mais de três anos.

Mostrei que há caminhos sim para novos autores, sonhadores das palavras, maestros da rima, do encanto das histórias. Esparramei na sala a nossa força: sete mini antologias Letras da Confraria, duas antologias, a primeira edição de uma nova mini antologia Letras Associadas, e dois grandes encontros de escritores, já caminhando para o terceiro em novembro deste ano.

Creio que fisguei o Otavio, e ele veio ao diálogo. Via rede social Facebook, atamos amizade, e ele vai se associar à nossa luta pela literatura, participando e também escrevendo, quem sabe publicando um de seus textos em nossas antologias, iniciando a caminhada que tanto sonham os escritores: ver seu texto publicado em uma obra!

Mas ele fez ainda mais. Enviou-me sua crônica, “Saudades”, para que eu lesse e desse um parecer. Quem sou para tanto, sou apenas um escriba, um jornalista que cumpre seu destino que é provocar, informar, opinar, noticiar, denunciar, orientar. O estudante já sabe o caminho, e tem seu blog próprio – http: www.incrivelmundodeotavio.com.br, muito bacana, onde expõe seu talento, seus escritos… parabéns a ele! Me comprometi com ele a publicar seu texto aqui no Palavra Livre. Eis o texto para o crivo dos leitores deste Blog.

Façam com prazer e atenção esta leitura, e se possível comentem, curtam, compartilhem, pois Otavio, que rebatizei apenas de Otavio H. para o nome artístico, é uma daquelas pedras preciosas que encontramos onde já não temos tanta esperança de encontrar. E cada pessoa que conseguimos trazer à luz do conhecimento, da literatura, das artes, da batalha por paz, é uma vitória retumbante!

Com vocês, Otavio H. e sua crônica “Saudades”:

“Os entardeceres dos fins de primavera fazem falta. Minha família tomando o chimarrão na beira da calçada enquanto conversava. Falavam da vizinhança, do bairro, da cidade, ao observar os carros passando vagarosamente pelo logradouro, coberto por paralelepípedos.

O sol, suave, se escondia atrás do alto muro de cor bege e deixava com que a sombra refrescasse nossos corpos demasiadamente, trazendo arrepios de frio que acompanhavam o balançar das folhas de altas palmeiras, que mesmo distantes sofriam dos mesmos ventos que meus braços.

À medida que o sol se punha, a térmica ia se esvaziando, a erva-mate perdendo o sabor amargo, e logo todos resolviam entrar. Na cozinha já havia sido posto o desjejum que vovó fizera, com direito a pão, bolo, biscoito, doces… Tudo caseiro. No meu prato, morangos colhidos especialmente para mim, e acompanhados de um pequeno pires com açúcar, do jeito que sempre me agradou.       

E assim eram todos os anos. Viajávamos de carro centenas de quilômetros para encontrar toda a família na casa de vovó, e lá passar alguns dias, ou até uma semana. E estes eram os melhores dias das férias. Eu me apaixonava pela simplicidade daquilo tudo, ficava encantado, e tinha vontade de viver isso para sempre, a ponto de não me importar com as grandes viagens de férias que faria nas semanas seguintes, ao deixar a cidadezinha.

Há um tempo então, minha vontade fora realizada: Aqui estamos morando, na cidadezinha de meus avós. Eu os visito sempre, mas ainda fico vagando na espera de cessar minha saudade pelos antigos momentos. A térmica está aqui, em todos os entardeceres esvaziando na cuia a sua água, que tira o amargo da erva-mate, que amarga o paladar de toda a família reunida na calçada.

O sol se esconde, deixando a sombra nos atingir com seu vento gelado. E o desjejum caseiro de vovó nos espera na mesa de jantar, junto com meus morangos. Mas falta algo. Faltam os meus olhos de turista, que viam o comum como extraordinário.

Por Otavio Henrique Komar Hlenka, 2015 ( Saiba mais sobre ele em http://www.incrivelmundodeotavio.com.br)