Eleições 2012: ex-presidente do IPPUJ expõe dissidência no PT

Roberta se destacou pela campanha com a cor lilás, atividades sustentáveis e debates sobre mobilidade

Ela fez quase dois mil votos em sua primeira eleição, e se revelou como a nova liderança no PT joinvilense, uma surpresa para a cúpula partidária diante da suposta falta de base política e de capilaridade eleitoral em bairros. Roberta Schiessl, advogada e ex-presidente do IPPUJ, não aceitou o convite do prefeito Carlito Merss para retornar ao posto, o que causou estranhamento da opinião pública.

Até então só haviam rumores de suas manifestações internas no partido, reagindo ao atrelamento do PT e do Governo Carlito à candidatura do PSD de Kennedy Nunes, que também recebeu o apoio do ex-prefeito Marco Tebaldi. Em seu perfil no Facebook, Roberta abre publicamente a sua dissidência à decisão local do partido, invoca a posição estadual e federal do PT que encaminha o projeto de reeleição de Dilma Rousseff junto com outros aliados, em especial o PMDB.

Certamente haverá muita trovoada, chuvas torrenciais e ranger de dentes no núcleo duro do PT joinvilense. Na reta final das eleições 2012, um duro golpe nos interesses localizados das atuais lideranças do partido, e com reações imprevisíveis. Confira na íntegra o desabafo, até filosófico, da ex-presidente do IPPUJ, Roberta Schiessl:

“Aristóteles introduz a pergunta ética por excelência: o que está e o que não está no nosso poder quando agimos? Em outras palavras, o que depende de nós e o que não depende de nós numa ação? O ato ético voluntário é aquele que depende inteiramente de nós no momento da ação. As circunstâncias em que se realizará não dependem de nós, pois como vimos, são contingentes.
Como fazer para que, em qualquer circunstância, possamos agir eticamente, isto é, ter o pleno poder sobre nossa ação, ainda que não tenhamos poder sobre as circunstâncias que nos levam a agir? Adquirindo uma disposição interior (héxis) constante que nos permite responder racionalmente ou prudentemente a situações que não foram escolhidas nem determinadas por nós, isto é, realizando um ato voluntário feito por e com virtude.

Portanto, feito com escolha deliberada, com moderação e reflexão sobre os meios e os fins, em vista da excelência ou do melhor. (CHAUÍ, Marilena, In: INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA, p. 448. Companhia das Letras, 2ª. Edição).

Aproprio-me dessa citação da obra da professora Marilena Chauí, cantada e decantada pelos intelectuais de esquerda, para finalmente me manifestar acerca da conjuntura política das eleições municipais, e do imprevisível – ao menos para mim – apoio do meu partido, PT, ao candidato do PSD, que se soma ao apoio do PSDB, PP dentre outros.

Não poderia silenciar-me, porque não tenho dúvida que 1853 votos não vieram da arte de “ficar em cima do muro”. Sempre me posicionei e colhi críticas e apoios e, por conseqüência, inimigos e apoiadores. Atenho-me aos últimos. Eles merecem meu posicionamento acerca do apoio manifestado a um candidato que passou 3 anos e 10 meses rompido com o meu candidato a prefeito.

Não só isso, que em campanha formula propostas inexeqüíveis ou desconexas da realidade e as prioridades do município. Um “garrote” hábil e impiedosamente utilizado e que não será curado, ao menos em mim, petista, por intermédio de um apoio extraído das vísceras feridas por um governo que a urna não aprovou.

Portanto, não aceitei regressar à prefeitura, pois me faltaria coerência, dignidade e brios, características que não consigo flexibilizar diante de nenhuma circunstância.

Ato contínuo, vejo a militância tão envergonhada quanto eu, não sabendo o que dizer àqueles que perguntam “como assim?”. Talvez nem toda a militância, bem sei, mas aquela que sempre ficou fora das decisões de cúpula, convencida e então convicta de que a culpa é dos outros e que os outros nunca tem razão.

Que os outros seriam oportunistas, egoístas, golpistas e tantos outros adjetivos de sufixo “ista” que ouso propor – buscando uma análise menos fisiologista – sejam substituídos pelos de sufixo “dade. Humildade, liberdade, dignidade.

Um apoio rechaçado pelos diretórios nacional e estadual, que já sinalizaram com nitidez com quem o PT vai estar para dar continuidade ao processo de transformação política do país.

Joinville é maior e deve ser vista com mais maturidade nesse contexto. Não pode servir de palco para os interesses de grupos A, B, ou C, arriscando a credibilidade e a história de um partido que nasceu com uma postura crítica ao reformismo dos partidos políticos social-democratas.

Um olhar para além do nosso fígado nos leva a enxergar Chalita com Haddad no estado de São Paulo, um governo do estado em 2014 e muito mais importante, a reeleição da presidente Dilma, que não deve romper com seu vice.

Enfim, já que a conjuntura municipal não depende de mim, mas que ainda me cabe promover um ato voluntário ético, com moderação e reflexão, em vista da excelência ou do melhor, declaro-me dissidente. E que venha a chuva. Joinville – nem eu – nunca se intimidou diante dela”.

Perfil: A vida de Elmar Zimmermann, ex-vereador, professor e liderança comunitária do Boa Vista

É com pesar que recebi uma notícia vinda das bandas do bairro Boa Vista, em Joinville (SC), da morte do ex-vereador, professor e líder comunitário, Elmar Zimmermann, ocorrido ontem (domingo). Seu corpo é velado na capela da Igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição do Boa Vista, lugar onde viveu, defendeu, lutou e descansou. O enterro será a tarde, por volta das 15 horas, mas o local ainda não confirmei. Semanas atrás outra perfilada por mim nos deixou, a dona Maria Laura, ex-professora e diretora do Colégio João Colin. Também dias atrás a dona Mariazinha, mãe de meu amigo Wendel Ricardo, outra guerreira, catequista do Sagrado Coração de Jesus, nos deixou subitamente. Vou publicar ainda essa semana o seu perfil aqui no Blog.

Segue agora o perfil do grande cidadão Elmar Zimmermann, lutador de várias causas, homem que tinha muitas histórias prá contar, e contou uma delas que foi a do Monsenhor Boleslau, morto em condições até hoje mal explicadas, que foi o pároco da Igreja do Boa Vista. Com o título “O descanso do pescador”, seu Elmar contou parte histórica da política, da religião e da vida comunitária e trabalhista da maior cidade catarinense. Um retrato fiel de uma época em meio a turbulências e retorno à democracia. Ainda ontem, na Fala do Escritor na Feira do Livro de Joinville, citei ele e seu livro como referências de leitura! Quem sabe o que o Criador reserva e faz enquanto pensamos e falamos, e agimos? Fica aqui o meu sentimento de pesar para toda a família, e a homenagem do Blog a mais um guerreiro da cidade que nos deixa! Boa leitura.

“Elmar Zimmermann – Memória política e liderança comunitária

No auge da ditadura militar em 1971 um pequeno empresário e professor recebe duas figuras do mundo político em sua casa na rua Pedro Lessa, bairro Boa Vista. O advogado Luiz Henrique da Silveira e João Medeiros, do MDB, queriam que Elmar Zimmermann, líder comunitário de forte presença na região entrasse nas fileiras da oposição consentida ao regime militar. “Eu e meu sócio, o velho Halter, tínhamos iniciado uma pequena fábrica de aros para bicicleta, com máquinas antigas que durou uns três anos. Tinha trabalhado na Tupy até 1971, e aceitei o convite”, conta o ex-vereador, hoje aposentado após muita militância política e comunitária.

Naquela eleição de 1972 a luta era para derrotar a Arena com suas duas candidaturas contra Pedro Ivo do MDB. “Fui eleito com 2.264 votos, poucos a menos que Marco Antonio Peixer da Arena que fez 2.500 votos. Fui a surpresa da eleição, o que também foi o meu mal sabe”, relata Zimmermann, nascido em Gaspar e criado até os 15 anos na localidade de Nereu Ramos em Jaraguá do Sul. Veio para Joinville em 1958 para trabalhar no Laboratório Catarinense, onde ficou até 1960 quando por concurso entrou na Escola Técnica Tupy. Estudou técnico em metalúrgica e se formou em 1964, e já ficou lecionando na escola e trabalhando na maior fundição da América Latina ate 1971.

Elmar recorda que superou grandes nomes favoritos da época como Aderbal Tavares Lopes, Amandus Finder, Miraci Deretti, Nica, Osni Schroeder, Plácido Alves e outros. Candidatou-se a deputado estadual e fez quase 10 mil votos, ficando na segunda suplência. “O Pedro Ivo tinha desconfiança de mim, não me ajudou com obras na minha região, e aí me faltaram 600 votos”, explica o velho líder. Zimmermann é dos tempos em que vereador não recebia nada para representar o povo. Dava aulas na Escola Técnica Tupy e no Elias Moreira. “Ensinei OSPB e educação moral e cívica, e até inglês que sabia um pouco por traduzir documentos técnicos”, relembra às risadas.

Tentou a reeleiçao em 1976 mas fez mil votos a menos, resultado da falta de apoio, mas acabou no gabinete do prefeito eleito Luiz Henrique onde ficou até 1982. Depois foi diretor do Cesita do Itaum da Fundamas até 1994, de onde foi demitido por justa causa por um atual deputado estadual que dirigiu o órgao na época. “Foi uma sacanagem, mas consegui a reparaçao sete anos depois”, afirma com mágoas. Tentou outras eleições, mas nao teve sucesso, e terminou a carreira na politica assessorando vereadores, deputado e na secretaria regional do Comasa. Adoecido pelo diabetes, passou momentos difíceis.

O agravamento da doença o levou a amputar a perna esquerda, e hoje usa uma prótese a qual ainda se adapta. “Tem uma vantagem, não sofro com varizes, essas coisas”, faz graça. Com memória poderosa aos 68 anos, Elmar Zimmermann lembra dos riscos que correu na ditadura, quando protegeu amigos e até leu carta da tribuna da Câmara. “Li a carta da mulher do amigo preso sobre o que passavam na prisão. O Nagib dizia que iam me prender”, recorda. Casado há 45 anos com Leni Maria, quatro filhos e cinco netos, o líder comunitário já lançou um livro em 2006  sobre a história do Monsenhor Boleslau – “O descanso do pescador” – e pensa em lançar outro sobre a história política entre 1970 e 2000. “O nome é Caminhão do Povo, mas está só no começo”, afirma.

Homem de muita história, e de muitas histórias dos outros, Elmar tem orgulho da sua legislatura, que aprovou o Plano Diretor de 1973, de ter sido líder do governo Pedro Ivo, e não ter aceito a proposta da Arena para ser presidente da Câmara. “Fui leal”, diz. Sobre a política atual e aumento de vereadores, o veterano político tem opiniao. “Não fosse o alto salário hoje, podia ser 25 para representar o povo”. Sabedoria que poderá ser conferida no livro, não é seu Elmar?”

* Perfil publicado no jornal Notícias do Dia de Joinville em 2011.

Perfis: Lauro Lorenzi, o pequeno grande cidadão

Quem vê aquele pequeno homem em frente a casa na rua Rio das Antas no Comasa, vestindo um agasalho esportivo, de tênis e óculos não imagina o quanto de participação ele teve, e ainda tem, na vida da cidade. O senhor Lauro Loreni, aposentado, 72 anos, hoje passa seu tempo cortando a grama do jardim, pescando com os amigos da Associação de Pescadores Novos Horizontes, lendo e fazendo arte com arames e um pequeno alicate. Rosários e correntinhas surgem para presentear amigos e familiares, e também da igreja católica do bairro onde tem atuação antiga e ainda freqüente. Antes de chegar nessa fase de sossego, Lorenzi escreveu sua história na vida pública e na educação.

Nascido em Jaraguá do Sul em família de 12 irmãos, “família de colonos”, afirma, Lauro Lorenzi foi estudar nos Irmãos Maristas em Curitiba (PR), passando também por São Paulo onde lecionou no Colégio Arquidiocesano, Rio de Janeiro e Santos (SP), até chegar a Joinville em 1960/61. Trabalho na Cia Jordan como auxiliar de escritório até 1963 quando um amigo lhe indicou espaço para trabalhar na Tupy, a grande indústria da época. “Fui cronometrista, calculando tempos de produção das peças, e cheguei a ser cronoanalista. Saí em 1973”, conta Lauro, para atender a um chamado para a vida pública. Seu amigo Elmar Zimmermann, vereador do PMDB, perguntou se ele estava disposto a assumir a Intendência do Distrito do Boa Vista no governo de Pedro Ivo Campos.

“Eu não sabia nada disso, de serviço público. No dia da posse o prefeito falou comigo e disse que precisava de alguém que se preocupasse com a comunidade, e eu aceitei”, lembra orgulhoso. Assumiu o cargo em 1973 e ficou até 1978 quando assumiu a direção do então Colégio Cenecista José Elias Moreira sucedendo Gonçalo Nascimento. “Eu já lecionava história e geografia desde 1967 no Elias. Primeiro em salas no colégio Plácido Olimpio no Bom Retiro, depois na escola Castelo Branco no Boa Vista onde fui coordenador. Daí o Gonçalo me convidou e fui seu vice, até assumir a direção. Estudei administração na ACE, me formei, e fiquei até 1980”, narra Lorenzi. Da época ele guarda as melhores lembranças da vida, tem mais saudade. “Introduzimos o pré-escolar e construímos o auditório, coisas ousadas”, relata.

Lauro retornou à Prefeitura já com Luiz Henrique Prefeito, assumindo a administração regional sul.  Estimulado pelo prefeito, por Pedro Ivo e Freitag, o professor concorreu a vereador em 1982 e venceu com boa votação. Como tinha feito um bom trabalho na gestao Pedro Ivo na fabricação de tubos, logo recebeu convite de Freitag para tocar a fábrica de tubos em Pirabeiraba, recém adquirida pela Prefeitura. “Lá fizemos história, aumentando a produtividade enormemente.  A equipe fazia apenas 18 tubos dia. Passaram a produzir 94 tubos/dia. O segredo? “Dieter Neermann era nosso chefe. O grande problema da Prefeitura até hoje é a falta de motivação. Introduzimos a produtividade, pagando horas extras se eles produzissem mais que o planejado. Deu certo”, conta.

Para isso dar certo tiveram que mostrar ao Prefeito, durão, que eles poderiam fazer. “Falamos que dariamos um engradado de cerveja e um de refrigerante se eles atingissem a meta no final da semana. O prefeito iria lá na hora do café, na sexta. Na quinta eles já tinham atingido a meta. Freitag foi lá e adorou o resultado”, fala Lorenzi sorrindo. Ela nao foi feliz na reeleição, mas já tinha se decepcionado com a face obscura da política. “Mas consegui ajudar a comunidade. Consegui a pavimentação da Baltasar Buschle, a abertura da Helmuth Falgatter e a pavimentaçao da Albano Schmidt até o Valente Simeoni”, relembra. Da política lembra das amizades que fez. “Foi o melhor”, diz.

Casado há 47 anos com Tereza Dias Lorenzi, três filhas naturais e uma adotiva e seis netos, Lauro continua a morar no mesmo lugar no Comasa, em rua sem pavimentaçao. O casal vive rodeado das filhas, com quem se reunem todos os domingos para almoço em familia, sagrado. Ainda atua na igreja Sao Paulo Apóstolo nos encontros para noivos e na coordenaçao de atividades da comunidade. Com simplicidade, o ex-professor, ex-vereador e ex-funcionário público deixa duas constatações de hoje. “Na política atual falta honestidade. Antes se lutava para ganhar e ajudar o povo. Hoje se ganha para ganhar mais individualmente”, critica. Sobre a educação: “Falta motivaçao do corpo docente. As famílias estão desintegradas, e cobram o que não fazem em casa”, destaca. 

Publicado no Jornal Notícias do Dia de Joinville (SC) na seção Perfil no mês de junho de 2011.