Campanha Salarial: Mecânicos querem 100% da inflação mais cinco pontos de ganho real

Os trabalhadores e trabalhadoras, todos guerreiros, que deixaram suas famílias e outros afazeres de lazer no último sábado (2/3) para participar das assembleias gerais da categoria mecânica em Joinville e São Bento do Sul, mostraram que tem grande valor e merecem todo o trabalho forte que o Sindicato vem fazendo ao longo dos anos.

Após debaterem as cláusulas existentes nas Convenções Coletivas, os trabalhadores e trabalhadoras passaram a propor novas cláusulas e ampliação das atuais. Com apoio das manifestações da dirigente da CUT/SC, Liliane Piscki, e do representante do Departamento Estadual da CNM/CUT em SC, Cícero do Nascimento Amancio, e sob o comando do presidente Evangelista dos Santos em Joinville, e do secretário de Finanças João Bruggmann em São Bento do Sul, a assembleia geral deliberou sobre a proposta de pauta das reivindicações a ser protocolada e negociada com o patronal.

Com base em dados sobre a inflação para o período entre abril de 2012 e março de 2013 (número que ainda não temos) oferecidos pelo Dieese/SC, ficou aprovado que o pedido de aumento salarial será de 100% da inflação – que deve ficar entre 6,40 e 6,80% – mais cinco (5) pontos percentuais de ganho real. Ou seja, se a inflação der 6,5%, a categoria quer 11,5% de aumento salarial. É bom lembrar que essa proposta será negociada com o sindicato patronal.

Outro pedido importante é o reajuste do Piso Único da categoria. Com base também em dados estatísticos econômicos do Dieese/SC, a assembleia geral aprovou o pedido de um Piso Único de R$ 1,1 mil para toda a categoria. Hoje é de R$ 800,00 para quem está iniciando. O aumento salarial conquistado na Campanha Salarial do ano passado foi de 7% e 7,5% para os trabalhadores da Metalúrgica Duque que negociaram à parte com apoio do Sindicato.

A partir de agora a Comissão de Negociação formada e aprovada na Assembleia Geral vai iniciar as negociações com o sindicato patronal assim que a pauta for protocolada, o que deve acontecer nesta terça-feira (5/3). Como em todos os anos, a luta por mais e melhores salários é dura, precisa de muitas reuniões e de apoio de todos os trabalhadores nas fábricas, divulgando e agindo conforme o Sindicato orientar, pressionando para que as negociações avancem e bem para todos os trabalhadores.

Para o presidente Evangelista dos Santos, as negociações devem ser difíceis, mas com bons resultados. “Temos um país em crescimento, pleno emprego, faltando mão de obra em vários setores, e as empresas sempre tem grandes lucros. Não é possível que os patrões não queiram pagar bem melhor aos seus trabalhadores, que são os que produzem os lucros que mantém as empresas. Penso que poderemos, com o patronal, construir uma boa negociação que contemple ambas as partes”, declarou o Presidente.

O Sindicato pede para que todos os trabalhadores e trabalhadores participem da Campanha Salarial 2013/2014 dentro de suas fábricas, debatendo e conversando sobre o andamento das negociações, e que fiquem informados comparecendo ao Sindicato, e participando do nosso site e nas redes sociais da entidade, multiplicando nossa força. Vamos que a luta começa prá valer agora!

Do site do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região

Centrais Sindicais vão à Brasília pressionar por pauta dos trabalhadores

As centrais sindicais CUT, CGTB, CTB, Força Sindical, NCST e UGT definiram a realização de uma marcha a Brasília no próximo dia 6 de março. O objetivo é cobrar do governo federal comprometimento com as principais reivindicações dos trabalhadores – a maioria delas sendo negociadas há vários anos.

As centrais querem o fim do fator previdenciário; a instituição da jornada de trabalho de 40 horas; a regulamentação da convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante negociação coletiva para servidores públicos; a retificação da convenção 158 da OIT, que inibe demissão imotivada; o assentamento de 200 mil famílias por meio de reforma agrária; o investimento de 10% do PIB na educação; e a valorização dos trabalhadores aposentados e pensionistas.

Para o secretário geral da CUT, Sérgio Nobre, a análise da economia aponta para retomada do crescimento no país, com geração de mais empregos, melhores salários e garantia e ampliação dos direitos trabalhistas. Segundo Nobre, com a redução de 44 para 40 horas semanais, o aumento na geração de empregos pode chegar a 10 milhões. Para ele, as centrais sindicais devem aumentar a pressão sobre o governo federal por mais investimento público, defesa da indústria nacional, do mercado interno e dos projetos sociais.

“É uma pauta social, com bandeiras amplas, que soma trabalhadores da cidade e do campo, estudantes e idosos pelo desenvolvimento com valorização do trabalho. Desde agora nós vamos mobilizar nossa militância para encher a Esplanada, para entupir o Planalto”, sublinhou Nobre. Além das centrais sindicais, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), também vai participar da Marcha.

Segundo o secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a retomada da mobilização em conjunto aumenta a pressão sobre o governo. “É a retomada pelo atendimento da nossa pauta, que cobra mais atenção à produção”, disse. Outra luta das centrais é a garantia de manutenção de emprego nas empresas que tem sido beneficiadas por programas de desoneração de impostos. “O fato é que quem mais demitiu foi, infelizmente, o mais beneficiado pela política de desoneração”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres.

O presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, Ubiraci Dantas de Oliveira, a retomada do investimento público pode reverter a ritmo de crescimento do PIB. Segundo o presidente da CTB, Wagner Gomes, o governo precisa fazer mudanças na política macroeconômica para evitar a contaminação do crescimento interno por conta da crise internacional. “É hora do país iniciar um novo rumo, em direção a um projeto de desenvolvimento duradouro, que privilegie a produção, a geração de empregos e não a especulação”, disse.

Para o presidente da União Geral dos Trabalhadores, Ricardo Patah, é preciso dar maior visibilidade às reivindicações dos trabalhadores. “Queremos um Brasil de inclusão, com trabalho decente, com mais investimento em saúde e educação”, disse ele. Segundo o presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores, José Calixto Ramos, é preciso deixar claro ao governo que os trabalhadores querem o desenvolvimento da economia com valorização do trabalho e maior distribuição de renda.

Da Rede Brasil Atual

Governo deve liberar R$ 160 milhões para Centrais Sindicais este ano

Cinco centrais sindicais repartiram R$ 138 milhões entre janeiro e outubro deste ano. Os recursos, repassados pelo Ministério do Trabalho, são arrecadados dos quase 45 milhões de trabalhadores formais brasileiros. O valor é recorde, e, até o fim do ano, deve ultrapassar a marca de R$ 160 milhões.

As centrais não são obrigadas a prestar contas desses recursos, que não têm nenhuma fiscalização do governo federal. Quando os repasses começaram, em 2008, após decisão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as centrais receberam R$ 65,7 milhões.

Com saltos anuais superiores a 20%, o repasse chegou a R$ 124,5 milhões em 2011, resultado facilmente superado neste ano. De lá para cá, as centrais receberam do governo federal cerca de R$ 530 milhões.

A maior parte dos recursos fica com as duas maiores centrais do país, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical. Neste ano, a CUT embolsou R$ 44,5 milhões até outubro, e a Força ficou com R$ 40 milhões. Os presidentes das duas organizações afirmaram ao Estadão que os recursos representam entre 60% e 80% do orçamento total das centrais.

Para centrais menores, como a Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), que recebeu R$ 18,1 milhões do governo neste ano, e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que obteve R$ 8,8 milhões, o imposto sindical representa mais de 90% do orçamento anual.

Qualificação

Ligada ao PT da presidente Dilma Rousseff e fortemente contrária ao imposto sindical, a CUT afirmou que aplicou os R$ 44,5 milhões recebidos do governo, entre janeiro e outubro deste ano, em qualificação de dirigentes regionais e em “infraestrutura sindical”.

Por estrutura, o presidente, Vagner Freitas, explicou se tratar da reforma e manutenção das sedes dos sindicatos, federações e confederações filiadas à central, além das sedes regionais da CUT.

— Somos contrários à estrutura sindical brasileira, onde o sindicato é mantido por um imposto cobrado compulsoriamente de todos os trabalhadores e repartido pelo Estado. Não exigimos dos sindicatos e seus dirigentes nenhum esforço — disse Freitas, que defende a substituição do imposto sindical por uma taxa negocial, que seria determinada pelos sindicatos e seus associados.

Para o presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), a CUT “tem um discurso para fora, e outro para dentro, afinal, recebe a maior parte do dinheiro, e usa como todo mundo”.

Segundo ele, os recursos do imposto sindical são “cruciais” para o movimento sindical, e, no caso da Força — central ligada ao PDT, partido do ministro do Trabalho, Brizola Neto —, são usados para financiar a atuação política da central nos Estados. Entre janeiro e outubro, a Força disparou às repartições estaduais e municipais R$ 16 milhões, ou 40% do que recebeu do governo.

Recolhido dos trabalhadores com carteira assinada anualmente em março, o imposto sindical foi criado pelo presidente Getúlio Vargas em 1943. O governo entrega 60% aos sindicatos, 15% às federações, 5% às confederações, e os 20% restantes ficavam nos cofres da União. A partir de 2008, a parcela do governo federal foi dividida com as centrais, que passaram a embolsar 10% do total arrecadado.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

Crise econômica: Esquerda européia prepara greve geral

Os partidos de esquerda da Alemanha, Grécia, França e Espanha apelaram no dia 9 à forte mobilização para greve geral europeia para dia 14, em protesto contra as políticas de austeridade.

Gabriele Zimmer, dirigente do partido alemão Die Linke e presidente do GUE/NGL, no Parlamento Europeu, Alexis Tsipras, líder da coligação de esquerda grega Syriza, Jean-Luc Mélenchon, dirigente da Frente de Esquerda em França, e Cayo Lara, coordenador da Esquerda Unida espanhola, fizeram-se ouvir  em Lisboa, presencialmente ou não, apelando à mobilização geral dos cidadãos, em comício internacional organizado pelo Bloco de Esquerda.

“No 14 de novembro [quarta-feira], as pessoas em Portugal, na Grécia, na Espanha e na Itália vão expressar de forma clara o que pensam de uma política que viola diariamente a sua dignidade e que coloca uma trava, em especial  ao futuro dos jovens”, afirmou a alemã Gabriele Zimmer.

Alexis Tsipras, que não esteve presente no comício devido ao debate parlamentar do Orçamento da Grécia para 2013, deixou uma mensagem através de um vídeo, em que afirma que, na quarta-feira, “a Europa da resistência e da Democracia, a Europa da alternativa vai encher as ruas por ocasião da primeira greve geral europeia”.

“A voz de Atenas vai juntar-se às vozes de Lisboa, de Madrid, de Roma, de Paris, de Londres e de Berlim. Vamos fazer desta voz a mais poderosa”, prometeu o líder do Syriza.

Já Jean-Luc Mélenchon, que não esteve no encontro por motivo de doença, mas deixou um discurso que foi lido por uma responsável do partido francês Frente de Esquerda, disse que no dia da greve geral europeia, na quarta-feira, “cada país vai sair às ruas”, respondendo aos apelos dos sindicatos, para mostrar que “a Europa dos trabalhadores e dos povos não foi vencida pela Europa dos bancos e dos seus governos”.

Da EBC

Dia Mundial das Vítimas de Acidentes de Trabalho: terceirização e acidentes estão relacionados

Os representantes do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) informaram na última segunda-feira (23), durante audiência pública no Senado, que 3,8 milhões de acidentes de trabalho ocorridos no Brasil entre 2005 e 2010 mataram 16,5 mil pessoas e incapacitaram outras 74,7 mil. O Fórum Sindical dos Trabalhadores acrescentou que quatro em cada cinco funcionários acidentados são terceirizados.

Para as entidades presentes ao debate, convocado pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) em virtude do Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho, no próximo sábado (28), é preciso melhorar o treinamento da mão de obra ligada à terceirização. “Lei não falta. O que falta é investimento e comprometimento”, afirmou o coordenador nacional do Fórum Sindical dos Trabalhadores, José Augusto da Silva Filho.

O vice-presidente do Sinait, Francisco Luís Lima, apontou como causa dos acidentes a degradação das condições do trabalhador e do meio ambiente de trabalho. Contribuem para isso, segundo ele, problemas como falta de treinamento, não fornecimento de equipamento de proteção individual e remuneração por produção (que induz ao trabalho excessivo e exaustivo), entre outros.

Já a presidenta do Sindicato de Auditores, Rosângela Silva Rassy, apontou que há um “definhamento” da inspeção do trabalho, com 3.025 funcionários para mais de sete milhões de empresas. O não fornecimento de equipamento individual de segurança e a remuneração por produção, induzindo ao trabalho excessivo, são dois dos fatores que levam a acidentes.

O Ministério do Trabalho e Emprego afirma que um acordo de cooperação com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), iniciado em 2008, resultou em 1.250 ações judiciais em torno do problema, com expectativa de indenizações em R$ 200 milhões. Nestes casos, a Previdência cobra do empregador os valores pagos em benefício aos trabalhadores incapacitados.

“A medida tem caráter punitivo e pedagógico e visa à concretização da política pública de prevenção de acidentes do trabalho”, afirmou a secretária de Inspeção do Trabalho, Vera Albuquerque.

Para a juíza Noêmia Garcia Porto, representante da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), é preciso ampliar as políticas preventivas tendo em vista que hoje as empresas querem não apenas o tempo do trabalhador, mas “a alma”.

Ela ressaltou que, para evitar o acionamento do Judiciário, existe a necessidade de garantir um ambiente saudável e protegido de trabalho. A magistrada indicou ainda que os problemas atuais, ainda que graves, mostram apenas a situação dos formalizados, havendo questões piores a serem resolvidas entre os que estão “invisíveis”, ou seja, na informalidade.

A secretária da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Junéia Batista, cobrou humanização da perícia médica. Por sugestão dela e de outros participantes, o presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), apresentou requerimento que convida o presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Mauro Hauschild, para debater um novo esquema de alta programada de pessoas afastadas do trabalho.

Paim quer conhecer as razões que levaram o INSS a lançar uma consulta pública sobre o “tempo estimado para a recuperação de capacidade funcional baseado em evidências”. Os participantes da audiência alertaram para riscos de prejuízos ao trabalhador acidentado quando o novo sistema for implantado.

Por: Contraf com Rede Brasil Atual e Agência Senado

Memória: Conrado de Mira, o organizador do sindicalismo joinvilense

Esta é mais uma matéria, reportagem especial que fiz para o jornal Notícias do Dia para a seção Memória, publicada na edição de final de semana – 17 e 18 de dezembro de 2011 – que retira do baú a história do sindicalismo joinvilense com um pouco da vida do senhor Conrado de Mira, já falecido. Baseei essa reportagem em entrevista com sua viúva, dona Irany Caldas de Mira, e pesquisa em arquivos históricos e documentos familiares. Mais uma contribuição para o resgate de nossa história, falando dos trabalhadores que muitas vezes são “invisíveis” aos olhos das pessoas por falta de abordagem da mídia em geral. Compartilho com os leitores do Blog em homenagem a esses dias em que o livro está em alta com nossa Feira do Livro, confiram abaixo:

” Se hoje os trabalhadores brasileiros têm direito às férias, jornada de trabalho definida, décimo-terceiro, aposentadorias, pensões, entre outros direitos, tudo se deve a muitos líderes operários que enfrentaram a dura disputa contra o capital no início do século 20. Entre eles um marceneiro, Conrado de Mira, que entre 1929 e 1930 abraçou a causa de Getúlio Vargas com a famosa Revolução de 1930, que derrubou o governo de Washington Luís, e ampliou os direitos trabalhistas. Mira foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil em 1931, e logo virou seu presidente. Em seguida os trabalhadores foram se organizando nos sindicatos dos trabalhadores em olarias, dos metalúrgicos, dos gráficos, dos moinhos, das oficinas mecânicas, dos estivadores, dos têxteis e também dos trabalhadores em massas alimentícias.

Graças ao seu preparo intelectual, Conrado de Mira foi aos poucos sendo funcionário de todos os sindicatos. Ele dirigia e administrava toda a burocracia sindical, e inclusive fazia as defesas trabalhistas. Tudo isso está registrado na enorme documentação que está depositada no Arquivo Histórico de Joinville, fruto de doação da família. Mas também está em parte anotado na memória de sua viúva, Irany Caldas de Mira, que aos 72 anos mantém uma saúde em dia, viaja e passeia bastante com as amigas, e mantém tudo arrumadinho na casa em que viveu com seu marido por 25 anos, no centro da maior cidade catarinense. “Ele era viúvo, e eu trabalhava como secretária no Sindicato. Acabamos casando quando eu tinha 18 anos, e ele uns 55 acho”, explica.

Ela vive com a filha Fárida na casa quase centenária. O outro filho, Farley, mora em Foz do Iguaçu. Eles lhes deram três netos. Conrado teve ainda dois filhos do primeiro casamento, Fausto que mora em Florianópolis, e Flavio que já faleceu. Dona Irany relata que ele era muito animado, festeiro, e muito alvoroçado. “Ele não parava nunca! Trabalhava direto, no sindicato, e trazia trabalho prá casa. Não tinha ano novo, nada. Só descansou quando morreu mesmo”, confirma a senhora franzina que superou momentos difíceis ao lado do marido sindicalista. A devoção pelo trabalhismo de Vargas o levou também a política partidária. Conrado de Mira foi candidato a prefeito por duas vezes (1947 e 1955), a deputado estadual pelo menos outras duas, e foi eleito vereador.

A farta documentação meticulosamente datilografada, organizada, anotada e arquivada mostra que sua intelectualidade era acima da média. De milhares de documentos, dona Irany guarda poucas coisas, mas nesses papéis se vêem manifestos aos trabalhadores, boletins informativos periódicos, vários com o título “Deixa o trabalhador passar”, e muito material político promocional. Segundo Irany, Conrado era muito articulado. “Ele se dava bem com todos, com o Jota Gonçalves, apoiou o João Colin, mas brigavam também. Depois, voltava tudo ao normal”, conta abrindo o sorriso tímido. O sindicalista foi do PTB, PSB e também do PSP de Adhemar de Barros, até chegar o golpe militar de 1964.

Dona Irany conta, aflita com as lembranças, quando Conrado foi preso pelos militares. “Ele estava com o filho no Sindicato. Os soldados os levaram todos presos! Depois dois soldados vieram até em casa e pediram para ir buscar o Farley (filho), que ele não podia ficar lá. Foi tão ruim que nem gosto de lembrar”, assinala. A filha Fárida completa. “A mãe nem viu o pai. Deixaram ela em uma sala, e foi difícil trazer meu irmão, que chorava e dizia que estavam batendo no pai”, recorda. A família demorou meses para rever Conrado, que foi enviado para Florianópolis, depois Rio de Janeiro, até ser liberado. A acusação era de associação ao comunismo, coisa comum naqueles anos de chumbo. “A vida ficou muito difícil prá gente. Vendemos coisas para manter a casa”, revela Irany.

O medo foi companhia freqüente. A polícia invadiu a casa sem mandado, reviraram móveis, roupas íntimas, tudo que viam conta ela. “Procuravam não sei o que. Não diziam nada! E eu não sabia de nada disso, de comunismo, política. Isso não me interessava”, relembra dona Irany. A partir dessa época, diz ela, amigos e vizinhos abandonaram os Mira. “Ninguém queria falar comigo. Diziam que eu era comunista, pode? Nem brincar com meus filhos os outros pais deixavam. Temiam ser presos porque eu era vigiada”, fala emocionada. Até Conrado de Mira ser libertado, viveram também de compras em mercados que vendiam fiado.

Em meio aos móveis antigos, fotos da família e do casamento, Irany destaca o trabalho e a dedicação que o líder sindical à causa dos trabalhadores. “Ele trabalhava nessa mesa (indica sentada), dia e noite. Depois da sua prisão, ficou sem nada, sem emprego, sem vínculos com sindicatos, nada. Trabalhou como autônomo para manter a família, inclusive com o atual senador Luiz Henrique em seu escritório, até morrer”, enfatiza. A filha Fárida comenta que seu pai foi amado e odiado. “Uns diziam que era pelego, que defendia os patrões. Outros que era governista. Mas o fato é que ele defendia as suas convicções, no caso do trabalhismo de Getúlio. E foi muito, muito injustiçado”, defende. De um lado, empresas e empresários não gostavam por sua ativa defesa dos trabalhadores. De outro, os trabalhadores que achavam que seus direitos não eram defendidos. Não era possível agradar a todos.

“Olha, o que eu via era que muitas pessoas vinham trazer galinha, pato, aipim, cará, tudo já limpo em agradecimento pela vitória com o trabalho de Conrado. Eu nunca entendi porque um homem que fez tanto por tanta gente foi tao atacado. Até quando a filha nasceu ele estava fora, no Rio de Janeiro”, explica dona Irany. Conrado de Mira foi o grande articulador do movimento sindical joinvilense durante quase 40 anos. Aos poucos os sindicatos foram se desmembrando e seus dirigentes passaram a administrar suas estruturas próprias, oferecendo gradativamente assistência aos sócios e trabalhadores.

Morto aos 77 anos de infarto fulminante em 1981 – “dormiu e não acordou, relata a viúva Irany” -, seu corpo descansa no cemitério municipal próximo da escadaria que leva ao alto da cruz. Como única homenagem, seu nome está em uma rua no bairro Costa e Silva, por onde passam diariamente milhares de trabalhadores que desconhecem quem é o personagem com o nome dependurado em um poste. Ignoram a história do desbravador do movimento sindical que ajudou a consolidar os direitos básicos dos trabalhadores. Nos arquivos depositados no Arquivo Histórico com milhares de documentos e boletins informativos dos tempos em que sequer se imaginava o aparato tecnológico dos dias atuais com internet, jornais on-line, e estruturas de comunicação e de apoio aos trabalhadores, estão muitas lições aos atuais e futuros líderes sindicais. Um legado de respeito e indispensável para entender o mundo do trabalho”.

Caso Busscar: empresa completa 24 meses sem pagar salários!

Imagem da manifestação feita em abril de 2011 quando se completou o primeiro ano sem pagamento dos salários na Busscar

A Busscar Ônibus acaba de completar dois anos, ou 24 meses, sem pagar salários aos seus trabalhadores, hoje em torno de mil pessoas ainda ligadas à empresa que está sob processo de recuperação judicial desde o dia 31 de outubro do ano passado. Nesse longo período a empresa mantém cerca de 250 a 300 trabalhadores pagando diárias, de forma ilegal que atenta à dignidade dos demais que não tem esse benefício, e de aproximadamente quatro mil trabalhadores que ficaram sem receber suas rescisões, FGTS, e demais direitos previstos em lei. Em 2011 quando completou um ano sem pagar salários, o Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região promoveu uma manifestação com direito a bolo para marcar o descaso da empresa com a sua força de trabalho.

Esse ano a entidade sindical organiza uma grande assembleia geral dos trabalhadores para o dia 15 de abril, próximo domingo, às 9 horas no seu Centro Esportivo localizado na rua Rui Barbosa, 495 no bairro Costa e Silva em Joinville (SC). Lá serão colocados em discussão e votação o posicionamento do Sindicato e dos trabalhadores em relação ao Plano de Recuperação Judicial apresentado pela empresa – e já rejeitado em primeira mão pela entidade e demais credores – e também na futura assembleia geral dos credores prevista para a primeira quinzena de maio.

A assembleia tem caráter legal, com edital publicado, visando garantir todos os direitos de representação dos milhares de trabalhadores na votação que vai decidir o futuro da Busscar. A iniciativa também quer oportunizar aos trabalhadores que já não moram mais na cidade o direito de se manifestar e ver sua posição defendida junto aos credores. Para o presidente do Sindicato, Evangelista dos Santos, a idéia é permitir que todos possam participar da decisão democraticamente, visando defender os direitos dos trabalhadores que já foram descumpridos pela empresa.

“Desde o início da crise nos portamos com transparência, buscamos o diálogo, propomos várias soluções para a empresa. Fomos ignorados, e até atacados várias vezes, mas mantivemos a luta pelos direitos dos trabalhadores. Conseguimos até chegar ao ponto de colocar os bens disponíveis para o leilão, mas a empresa recorreu à recuperação judicial. Apresentaram um plano fajuto, fraco, inconsistente e que retira ainda mais dos trabalhadores, e é claro que negamos. Agora, ao completar dois anos dessa história vergonhosa da Busscar, está chegando a hora dos trabalhadores se posicionarem oficialmente na assembleia de credores. Nós vamos realizar a nossa assembleia dos trabalhadores e definir nossa posição. Está na hora de acabar essa novela que afetou a vida de milhares de famílias”, afirma Evangelista.

Do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região

Fim do Fator Previdenciário será debatido em duas comissões

Duas comissões aprovaram nesta quarta-feira a realização de audiências públicas para discutir o fim do fator previdenciário. Na Comissão de Seguridade Social e Família, o debate foi proposto pelo deputado Amauri Teixeira (PT–BA) e deverão ser convidados para discutir o assunto representantes do Ministério da Previdência; da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip); da CUT e da Casa do Aposentado da Bahia.

Já na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, a audiência foi pedida pelo deputado Assis Melo (PCdoB-RS). O parlamentar sugere que sejam convidados um representante do Ministério da Previdência e da Câmara de Negociação de Desenvolvimento Econômico e Social. Nenhuma delas tem data marcada.

O fator previdenciário é um cálculo aplicado para definir o valor de aposentadoria, visando desestimular a aposentaria precoce do trabalhador. Aprovado durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a fórmula leva em consideração quatro elementos: alíquota de contribuição, idade do trabalhador, tempo de contribuição à Previdência Social e expectativa de sobrevida do segurando, conforme tabela do IBGE.

Segundo Assis Melo, a aplicação do fator previdenciário reduziu o valor médio dos benefícios dos aposentados. Ele afirma que ao solicitar a aposentadoria após anos de contribuição, o trabalhador não recebe os benefícios de forma integral. “Essa penalização sofrida pelos aposentados precisa de um fim. Para isso, precisamos reunir os diversos setores da sociedade, inclusive o governo para discutir alternativas para minimizar as perdas dos trabalhadores aposentados”, acrescenta Melo.

Amauri Teixeira lembra que está pronto para ser votado no Plenário o Projeto de Lei 3299/08, que extingue o fator previdenciário. “O atual momento político econômico e social pelo qual passa o Brasil permite que possamos debater o mais amplamente possível e para se chegar um acordo para viabilizar aprovação do projeto em Plenário”, conclui Teixeira.

Da CNM/CUT

Projeto é a maior ameaça aos direitos trabalhistas desde a CLT, dizem sindicalistas

Está em andamento, de forma quase silenciosa, o maior ataque aos direitos trabalhistas no Brasil desde que foi promulgada a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, em 1943.

A avaliação é da diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ana Tércia Sanches. Trata-se do projeto de lei 4330, de autoria do deputado Sandro Mabel, do PMDB-GO, que regulamenta a terceirização em quase todos os setores da economia brasileira. É o que os sindicalistas chamam de reforma trabalhista às avessas. “Desde os anos 1990 é vontade das elites, dos empresários promover uma reforma não para ampliar, mas para retirar direitos”, diz Ana Tércia.

Hoje existem na Câmara dos Deputados 26 projetos que tratam do tema. Por conta disso, foi criada uma comissão especial que propôs um substitutivo ao projeto de Sandro Mabel. O PL do deputado federal goiano está para ser analisado em caráter terminativo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ou seja, se passar pela comissão vai direto para análise do Senado.

A terceirização é tolerada nos dias de hoje, a partir de enunciados do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em áreas como a limpeza e a segurança. Ainda assim, segundo Ana Tércia, são setores muito sujeitos às fraudes.

As empresas tomadoras contratam as de terceirização através de leilões de menor preço, aumentando a pressão para que estas descumpram normas básicas previstas na legislação trabalhista. Para garantir seu lucro, as terceirizadas muitas vezes deixam de depositar o Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço (FGTS) ou o INSS de seus trabalhadores, atrasam ou deixam de pagar salários. Em outras palavras, a bomba estoura no colo dos trabalhadores, esmagados entre o patrão e o sub.

“Muitas vezes a empresa fecha, evapora do mapa. Reabre com outro CNPJ. Quem fica na mão são os trabalhadores”, diz Ana Tércia.Ela prevê que a regulamentação da terceirização para outros setores da economia apenas ampliaria o problema. “Esta é uma tendência que vem dos anos 90. A Nike, por exemplo, só faz a gestão da marca, a propaganda e o desenvolvimento do produto. Os bancos e outros setores da economia querem se livrar do trabalho. Colocar entre eles e os trabalhadores outra empresa, que também visa lucro”, afirma a sindicalista.

Ana Tércia dá um exemplo com o setor bancário. Nos anos 90 existiam no Brasil 700 mil bancários. De lá para cá, a economia cresceu enormemente, o setor financeiro e de crédito também mas o número de sindicalizados caiu para 430 mil trabalhadores. “Onde está a diferença? Nos terceirizados, que ganham 60% menos que os bancários”, afirma.

O processo, segundo ela, rompe “processos civilizatórios que foram fruto da luta dos movimentos sociais”. Para tentar barrar o avanço do projeto, os trabalhadores decidiram ampliar a coalizão formada por sindicatos e centrais sindicais, para incluir acadêmicos, jornalistas e juízes do trabalho.

De acordo com Ana Tércia, para evitar as acusações de que os sindicatos estão agindo de forma corporativa e pensando apenas no imposto sindical. O objetivo, portanto, é demonstrar que a terceirização tem um custo social alto e contribui com a concentração de renda, já que transfere renda dos trabalhadores para os empresários.

No ano passado, o vice-presidente do TST, João Oreste Dalazen, promoveu uma audiência pública sobre a terceirização. Os trabalhadores decidiram criar um Fórum e vão promover um seminário sobre o tema em 12 e 13 de abril, na Unicamp, em São Paulo.

Da CUT Nacional

Presidente João Bruggmann encerra mandato: “Saio da presidência, mas continuo na luta”

“Quero deixar registrado o meu agradecimento especial a todos os funcionários, prestadores de serviços, colegas de direção, pelo carinho e a atenção que sempre me dispensaram. Não tenho reclamações, não tenho nada que reparar, apenas agradecer de coração todo o apoio e dedicação. Por isso o Sindicato está sempre forte, atendendo a todos e todas com cordialidade, sem distinção, sempre com bons serviços. Agradeço também a toda a categoria mecânica que participou comigo e a direção de tantas lutas, tantas batalhas, de tantas vitórias e derrotas, mas sempre pelo bem de todos os trabalhadores, sempre lutando por seus direitos. Obrigado por acreditar e me conceder, por três vezes seguidas, a honra de ser seu Presidente. Tudo isso ficará marcado em minha memória para sempre. Entrei com toda humildade do mundo, aprendi muito, e saio com a mesma humildade, de cabeça erguida com o dever cumprido. Obrigado gente”.

Essa é a mensagem que o presidente João Bruggmann, que deixa o cargo nesta terça-feira (6/3/2012), oferece aos inúmeros amigos, admiradores, funcionários, prestadores de serviços, fornecedores, dirigentes sindicais, e toda a categoria mecânica após 13 anos de dedicação integral à luta pelos direitos dos trabalhadores, na manutenção do seu patrimônio em bom estado, com avanços invejáveis e intocáveis que a história já registrou. Enfrentou todas as campanhas salariais de forma firme, direta e dura, e em todas conquistou ganhos reais que valem muito em tempos de inflação baixa. “Fico feliz em ter contribuído com alguma coisa para a construção e fortalecimento do nosso Sindicato”, revela Bruggmann.

Nascido na localidade de Vidal Ramos, hoje município, que à época fazia parte do município de Brusque (SC), há 57 anos, Bruggmann tem orgulho de suas raízes. Filho de pais analfabetos, “mas trabalhadores e honestos, que nos ensinaram a ser gente de bem”, João veio para Joinville em 18 de novembro de 1968 quando tinha 13 anos. “Para viver, manter a família grande da gente, trabalhei de tudo: carpinei quintais, vendi laranjas em frente as empresas, enfim, buscávamos um jeito de ganhar a vida”, conta ele. Seu primeiro emprego com carteira assinada foi na Indústrias Colin em 1970. “Ainda era ali onde hoje é a avenida JK. Meu salário inicial foi de R$ 0,36 a hora. Fiquei cinco anos lá”, registra.

Teve de servir o Exército em 1973, “ano em que mudou o nome de Batalhão de Caçadores para 62 BI” – anota o líder sindical. Com o pouco que ganhava conseguiu pagar terreno no Bom Retiro, na rua Piratuba. Trabalhou ainda na Tupy por cinco anos, Carrocerias Nielson (atual Busscar) por seis anos, pequenas passagens pela Suin Industria Agrícola, Consul e Ciser. Mais dois anos na Kawo, e depois a Cid Produtos Metalúrgicos, onde já está há 18 anos. “Fui muito perseguido por discordar do tratamento dos patrões com a gente. Acho que aí viram que tinha um ladinho para o movimento sindical e me convidaram”, confessa Bruggmann.

Conquistou a presidência do Sindicato em 1999, enfrentando uma chapa de oposição, sem ter experiência em comandar uma entidade tão representativa quanto a dos mecânicos. Eu era diretor suplente, atuava no chão de fábrica, na verdade era o último suplente da nossa diretoria. Saí do torno direto para comandar o Sindicato. Foi duro, mas valeu a pena”, destaca o líder sindical reconhecido por suas lutas, as mais recentes diante das crises da Busscar (2003/2004 e 2008 até agora). Agora que deixa a presidência para assumir a diretoria financeira da entidade – “não vou sair do movimento sindical, continuo na luta” – João Bruggmann revela que vai continuar apoiando forte o novo presidente, Evangelista dos Santos.

“Acredito que ele vai fazer um bom mandato, vai cuidar com carinho da situação atual dos trabalhadores da Busscar, sem deixar que toda a categoria fique desprotegida. Companheiro na secretaria geral desde 2000, Evangelista tem raízes fortes no chão de fábrica, vem de uma das maiores empresas da categoria, a Duque, e saberá conduzir nosso Sindicato”, afirma Bruggmann. Sem pompa, sem solenidades, o líder sindical finaliza hoje o seu mandato, e deixa um recado aos que pensam que vai ficar parado e sumido. “Saio feliz com os resultados que conseguimos, mas já aviso: continuo presente, atuando em favor da nossa categoria mecânica”, finaliza.

Do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região