Ministra menciona disparidade entre mulheres brancas e negras na Rio+20

“É preciso que todos os grupos sociais participem igualmente, de maneira equânime, dos frutos do desenvolvimento, e isso vale para homens e mulheres, assim como para mulheres negras e mulheres brancas”. Com esta fala, a ministra Luiza Bairros introduziu o tema no debate Questão racial e desenvolvimento sustentável, na última sexta-feira, no Riocentro, abrindo a programação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR na Rio + 20. A participação da SEPPIR na Rio + 20 tem servido para fortalecer a política de igualdade racial brasileira ao destacar, em diversas instâncias de debate num fórum internacional, a necessidade da discussão sobre  o racismo como condição para o desenvolvimento sustentável.

A ministra Luiza Bairros participou ainda do fórum promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que teve participação expressiva de diversos segmentos empresariais femininos e masculinos, além das presenças das ministras Eliana Calmon (Conselho Nacional de Justiça) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente), da senadora Marta Suplicy, da presidente da Firjan, Eliane Belfort, do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e de representantes de movimentos sociais, a exemplo de Sueli Carneiro, do Instituto Geledés.

Outro alerta feito pela ministra foi quanto aos impactos nocivos de determinadas políticas de desenvolvimento que priorizam agendas movidas pelo interesse econômico e pelo racismo, com efeitos diretamente negativos sobre a população negra, tanto no Brasil como em outros países. Um exemplo disto é o conhecimento milenarmente construído pela população negra e indígena sobre a natureza, que tem servido de objeto de exploração por grupos estrangeiros interessados em patentes e com interesses econômicos contrários à preservação dessas populações.

O diálogo perpassou vários outros pontos temáticos e contou com a participação dos professores Ângela Gomes (Centro Universitário de Belo Horizonte, Faculdade Pitágoras), Henri Acselrad (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – PPUR/URFJ), Raimundo Nascimento (Centro de Arte e Meio Ambiente/BA) e Carla Lopes, professora e pesquisadora do Programa de Reflexões e Debates para a Consciência Negra/RJ.

O diálogo contou com a presença da deputada federal Benedita da Silva, de Marcelo Dias, superintendente de Igualdade Racial da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro; Cida Abreu, secretária Nacional de Combate ao Racismo do PT, e Giovani Harvey, da Incubadora Afro, entre outros convidados.

Brasileiros acreditam que a cor da pele influencia no mercado de trabalho

A maioria dos brasileiros acredita que a raça exerce influência na vida das pessoas, principalmente em relação ao mercado de trabalho, conforme pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (22/07). Um estudo com dados regionais da subseção Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) do Sindicato dos Químicos do ABC exemplifica um pouco deste cenário.

A “Pesquisa das características étnico-raciais da população: um estudo das categorias de classificação de cor ou raça” foi realizada em 2008, em 15 mil domicílios dos Estados do Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal. O IBGE adotou as seguintes categorias de classificação de raça: branca, preta, parda, amarela e indígena, além de morena e negra.

De acordo com o resultado, 63,7% dos entrevistados avaliaram que a cor ou raça influencia em suas vidas, principalmente entre os pesquisados do Distrito Federal (77%) e São Paulo (65,4%). Em todos os Estados, por sinal, mulheres e pessoas, entre 25 e 39 anos, se sobressaíram nessa resposta.

Entre as situações nas quais a cor ou raça têm maior influência, o trabalho aparece em primeiro lugar (71%), seguido pela relação com a polícia/justiça (68,3%), o convívio social e a escola (59,3%).

A atendente de telemarketing Juliana Arruda, 19 anos, também acredita que a cor influencia em sua vida. “Infelizmente, ainda existe muito preconceito e eu percebo que já perdi muitas oportunidades de emprego por ser negra”, disse.

Já o analista de suporte, Daniel Fonseca, 26 anos, acredita que o preconceito existe, mas não percebe a influência negativa. “Em toda entrevista de trabalho eu era praticamenteo único negro e sempre fui contratado. O preconceito está na cabeça das pessoas. E, para mim somos iguais, o preconceito existe é claro, mas, isso não me atinge de maneira positiva ou negativa”.

Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego da subseção do Dieese do Sindicato dos Químicos do ABC e da Fundação SEADE baseada na última década na Região do ABCD ajudam a ilustrar o cenário do mercado de trabalho na Região, aonde o trabalhador negro ainda recebe menos.

‘Este estudo demonstra que há desigualdade de remuneração. Os trabalhadores negros recebem, em média, R$ 1.024, ou apenas 63% do que recebem os trabalhadores não-negros na Região. Esta desigualdade era pior no início da década, negros recebiam, em média, apenas 58% da remuneração média de não-negros.’

ABCDMAIOR