Covid-19, relato de um sobrevivente

Há um ano estive cara a cara com a morte. Ela buscava tirar-me o ar, as forças, e quase me seduziu. A Covid-19 me deixou quase em trapos, fraco, e sentia que minha energia vital se esvaia… Nasci de novo. Perdi parte da capacidade pulmonar, tenho algumas sequelas de memória, cansaço que chega do nada, piorou minha fibromialgia, depressão, mas estou aqui de pé, como manda o protocolo de quem ama a vida.

Vale também para repetir: a Covid-19 não acabou. Continua aí firme e forte. Use máscara em todos os lugares, não relaxe. Lave bem as mãos, use álcool gel, não aglomere e mantenha ao máximo possível – afinal somos humanos – o distanciamento social. Não faça parte do exército dos negacionistas, vendedores de falsos remédios, responsáveis pelo morticínio de mais de 600 mil vidas de pais, mães, filhos, avós…

E tome vacina, uma, duas doses, reforços, o que for indicado. E viva, faça o bem, acumule momentos com quem ama e te quer bem. Conheça lugares, culturas, estude, leia, aprenda, crie, produza. Valorize seu tempo, ele é vida pura.Hoje celebro meu primeiro ano da vida que ganhei de volta. Minha gratidão final a todos os profissionais da saúde que não param um segundo sequer nesta batalha. Sem vocês, eu não estaria aqui escrevendo mais um texto… Muita força e luz para todas e todos!

* as fotos são de um ano atrás, mascarado em hospital, e de hoje mesmo.

Covid leve pode deixar sequelas nos pulmões, aponta estudo

Fadiga e dificuldade para respirar são sequelas relativamente comuns em pacientes que se recuperaram da covid-19, exigindo, muitas vezes, um longo período de reabilitação. Até agora, não se sabe se essas complicações estão associadas à gravidade da doença, com pessoas que precisaram de internação devido à infecção pelo Sars-CoV-2 sendo mais propensas a apresentarem esse tipo de complicação. Um estudo irlandês sugere que as sequelas pulmonares, porém, independem da severidade da infecção.

Na pesquisa, os autores acompanharam 153 pacientes recuperados da covid-19 por até 75 dias após o diagnóstico. Essas pessoas sofreram graus variados da doença. “Conforme esperávamos, problemas como falta de ar e cansaço foram comuns depois da covid-19. Porém, os sintomas não pareceram estar relacionados à gravidade da infecção inicial”, diz Liam Townsend, pesquisador do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital de St. James.

Para avaliar a relação entre sequelas e severidade da covid-19, os autores dividiram os pacientes em grupos: sem necessidade de internação, internados e internados na unidade de terapia intensiva (UTI), sendo esses últimos os mais graves. Quase metade dos 153 participantes do estudo foi hospitalizada na fase aguda da infecção. No período, quando já estavam livres da doença, foram submetidos a exames diversos, incluindo de imagem e testes que avaliaram a capacidade cardiorrespiratória.

A equipe de Townsend comparou, então, a gravidade inicial da covid-19 com o resultado dos exames de radiografia torácica e o desempenho em testes de caminhada (durante seis minutos, os voluntários andaram em um ritmo normal, sendo monitorados), além dos relatos de percepção de esforço. Os médicos perguntaram se os pacientes se sentiram cansados durante a caminhada e se consideravam que já estavam plenamente recuperados. As respostas foram classificadas em escalas.

Nas radiografias do tórax, os pesquisadores investigaram a presença de fibrose — cicatrizes pulmonares — e sinais de infecção persistente. Naqueles que apresentaram anomalias, foi feita uma tomografia computacional. Além disso, todos fizeram exame de sangue para verificar a proteína C reativa, um marcador de inflamação.

Inesperado

Townsend afirma que os resultados o surpreenderam, porque esperava um número alto de radiografias com fibrose, o que não aconteceu: somente 4% dos pacientes apresentaram esse problema na tomografia computadorizada. Mas o que mais chamou sua atenção foi que as sequelas — inflamação, cicatriz, infecção persistente e desempenho ruim no teste de caminhada — não estavam relacionadas ao grau de severidade inicial da doença.

De acordo com Townsend, 62% dos pacientes sentiram que não haviam se recuperado totalmente, enquanto 47% afirmaram ter fadiga. Aqueles que se esforçaram mais em exercícios moderados também demonstraram percepção maior de saúde frágil. Porém, não houve associação estatística entre a gravidade da covid-19 e essas sequelas — as complicações tardias foram relatadas em pacientes de todos os grupos observados.

A única associação foi entre o tempo de internação e o desempenho no teste de caminhada: quanto maior tempo de hospitalização, menor a distância percorrida em seis minutos. Segundo Towsand, os resultados do estudo têm implicações para o tratamento clínico de pessoas que se recuperaram da infecção por Sars-CoV-2. “Eles demonstram a importância de acompanhar todos os pacientes que foram diagnosticados com a covid-19, independentemente da gravidade da infecção inicial. Não é possível prever quem terá sintomas contínuos”, diz.

Readmissão

“Os casos de covid-19 diminuíram e, depois, ressurgiram em muitos lugares. Assim, é crucial que entendamos o curso da pós-hospitalização e os fatores de risco para uma futura reinternação”, observa Anuradha Lala, pesquisadora do Hospital de Mount Sinai, em Nova York, e autora de um estudo publicado, em dezembro, sobre a readmissão hospitalar de ex-pacientes da covid-19 que, depois, sofreram complicações pulmonares. “À medida que avançamos para uma fase em que a covid-19 não é mais uma doença nova, devemos focar nossa atenção para a fase pós-aguda para entender como manter os pacientes bem e fora do hospital”, destaca.

No estudo norte-americano, dos quase 2,9 mil pacientes de covid-19 que receberam alta, mais de 100 (3,6%) retornaram para atendimento de emergência, com queixas pulmonares. Assim como no trabalho irlandês, não houve associação entre gravidade da infecção inicial e aparecimento de sequelas. Ao contrário, a maior parte das pessoas que voltaram ao hospital queixando-se de falta de ar e cansaço não havia necessitado de cuidados intensivos, quando internadas. De acordo com Lala, são necessárias mais pesquisas de longo prazo para predizer quais ex-pacientes têm risco maior de sequelas pós-covid.

Prazo de 72 horas para usar o plasma

Um estudo argentino publicado na revista The New England Journal of Medicine mostra que a administração de plasma de convalescente em pacientes com a covid-19 nas primeiras 72 horas da doença reduz pela metade o risco de quadro crítico. “É uma alternativa se alguém com mais de 65 anos se infectar. Mas é como um seguro-saúde, você tem que receber o tratamento quando ainda está saudável, porque não há tempo a esperar e ver o que acontece: se você está mal, o plasma é inútil”, diz o líder da pesquisa, o infectologista Fernando Polack, da Fundação Infant.

Com base nos resultados, “o estudo diz que, em todos os pacientes, a incidência da doença grave foi cortada pela metade”, diz Polack. “Temos certeza de que o plasma é útil nos primeiros três dias de doença, ou seja, você tem (um prazo de) 72 horas de sintomas para recebê-lo”, afirma o cientista à Rádio Con Vos. Polack explicou que os resultados dependem da quantidade de anticorpos presentes no plasma.

“Os melhores provedores são os pacientes que foram hospitalizados, porque eles têm mais anticorpos, além das pessoas que foram vacinadas”, diz ele, definindo essas últimas como “doadores privilegiados em potencial”. “Em uma sociedade desamparada contra o coronavírus, ser vacinado significa estar protegido e também ter a possibilidade de doar plasma, o que significa seis tratamentos para seis idosos para cada pessoa que doa duas vezes no mês”, ilustra.

O estudo envolveu 200 doadores de plasma e 120 pacientes voluntários, metade tratada com placebo, bem como mais de 200 profissionais da saúde. No entanto, a Argentina não tem, atualmente, capacidade para aplicar esse tratamento em seu sistema de saúde. “Hoje, não existe, é algo em construção dentro dos sistemas público e privado. É preciso gerar um arsenal (de plasma), que será uma ponte até que haja uma vacina para a maior parte da população”, explica Polack.

  • com informações do C B

Pós-Covid19 – Comissão Europeia aprova o maior plano de recuperação da história: 750 bi de Euros

Um passo histórico que dispara os alarmes em alguns países do norte da União Europeia, ao mesmo tempo em que alenta esperanças para os do sul. A Comissão Europeia aprovou nesta quarta-feira um plano de recuperação econômica contra a pandemia num valor de 750 bilhões de euros (4,42 trilhões de reais). Dessa quantia, 500 bilhões de euros correspondem a subsídios a fundo perdido, e os outros 250 bilhões de euros a empréstimos.

Pela primeira vez em 60 anos, o clube comunitário se dispõe a se endividar maciçamente nos mercados financeiros. E, sobretudo, pela primeira vez na história da UE, Bruxelas transferirá parte desses recursos em forma de subsídios a fundo perdido para os países mais golpeados por uma crise tão inesperada como devastadora. Fontes comunitárias indicam que dois terços do plano, meio trilhão de euros, serão injetados como subsídios, distribuídos com uma cota de partilha que favorecerá os países mais golpeados pela pandemia. O restante, 250 bilhões de euros, será distribuído na forma de empréstimos, sem cotas por países, mas com salvaguardas para garantir que nenhum sócio absorva muito em detrimento do resto.

A presidenta da Comissão Europeia (Poder Executivo da UE), Ursula von der Leyen, anunciará o projeto publicamente nesta manhã perante o Parlamento Europeu. Mas o comissário (ministro) europeu de Economia, Paolo Gentilloni, um dos principais impulsionadores da iniciativa, já revelou pelo Twitter o montante desse fundo de recuperação.

A cifra fica longe dos 2 trilhões de euros que o Parlamento Europeu solicitou em uma dura resolução aprovada neste mês, mas se aproxima do trilhão de euros discutido nos últimos dias. O documento que sairá dos quartéis-generais da Comissão deverá receber a luz verde tanto do Parlamento Europeu, muito exigente quanto ao alcance do plano, como dos Estados membros, onde se antevê uma áspera batalha. Segundo fontes da comunidade, a proposta que Ursula von der Leyen destina à Espanha 75 bilhões de euros em ajuda não reembolsável.

O “salto qualitativo na solidariedade europeia”, como o definiu o vice-presidente da Comissão, Josep Borrell, assusta alguns países do norte, que temem o começo de uma “união de dívidas” ou uma “união de transferências financeiras”. Para os sócios do sul, o novo Fundo de Recuperação é um sinal de esperança e uma compensação justa para manter um mercado interno que beneficia principalmente o norte e que, sem um reequilíbrio nas ajudas pelo coronavírus, poderia voar pelos ares.

As ajudas públicas nacionais autorizadas como resultado da pandemia já superam os dois trilhões de euros, mas quase metade disso foi concedida pela Alemanha às suas empresas, enquanto as ajudas oferecidas pela quarta maior economia do bloco, a Espanha, por exemplo, não chegam a 4% do total. O enorme desequilíbrio ameaça a capacidade de sobrevivência das empresas situadas nos países mais golpeados pela pandemia. E tanto Bruxelas como Berlim acabaram por reconhecer o risco de fragmentação do mercado se as empresas de todos os países não puderem competir em igualdade de condições.