MST denuncia conluio na morte de trabalhadores

PalavraLivre-parana-beto-richa-rossoni-mortes-sem-terraA direção do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra da região central do Paraná emitiu nota na noite de quinta-feira denunciando o conluio entre pistoleiros e policiais militares para atacar um grupo de trabalhadores acampados em uma estrada provocando a morte de pelo menos dois trabalhadores e vários feridos.

A nota do MST, além de denunciar o conluio entre os pistoleiros da empresa Araupel, que grilou a área ocupada pelos trabalhadores, e a Polícia Militar, afirma que o secretário da Casa Civil do governo do Paraná, deputado federal Valdir Rossoni, comprometeu-se com a empresa que reprimiria os sem terras até tirá-los da área grilada e que o mesmo teria insuflado os policiais que se sentiram livres até para matar os ocupantes. Segundo o MST, Rossoni teria agido em função do apoio financeiro que a empresa deu para sua eleição.

O MST cobra punição aos mandantes e aos assassinos, reivindica a realização da reforma agrária na região e que se efetive a decisão judicial que deu nulidade aos títulos de propriedade da empresa. Por fim a nota nega que os trabalhadores tenham emboscado a PM, tendo ocorrido justamente o contrário.

Leia a íntegra da nota:

Nota da direção regional – MST

Conflito em Quedas do Iguaçu-PR

1. Mais uma vez explode o conflito em torno da Reforma Agrária no município de Quedas do Iguaçu, no momento em que conluiados os pistoleiros da Araupel e a PM do Paraná, atacaram frontalmente um grupo de sem terras, sem ao menos conversar, numa estrada da área grilada pela Araupel, com decisão judicial de nulidade dos títulos de propriedade;

2. Uma semana antes o atual secretário da casa civil e deputado federal, Valdir Rossoni, passou por Quedas do Iguaçu e comprometeu-se com a Araupel que reprimiria os sem terras até tirá-los da área grilada. Já há algumas semanas a PM faz bloqueio ostensivos, faz ameaças de todo o tipo aos trabalhadores assentados e acampados, humilhando e provocando nas abordagens realizadas nas estradas da região;

3. Os “recados” de ameaças de prisão e de morte contra os dirigentes e militantes chegaram incisivamente. Rossoni insuflou a PM que sentiu-se livre, inclusive para matar;

4. Rossoni quer ser Senador nas próximas eleições e já teria feito acerto de apoio econômico com a Araupel, que já lhe apoio com doação de dinheiro na campanha para deputado, e em troca do novo apoio reprimiria e despejaria os sem terras;

5. A única forma possível de resolver o conflito é punir os mandantes dos assassinatos e os assassinos, e o governo federal fazer a reforma agrária nesse latifúndio assassino, grileiro, e que a justiça já deu nulidade dos falsos títulos;

6. A Secretaria de Segurança Pública emitiu nota totalmente mentirosa, afirmando que os sem terras armaram emboscada para a polícia. Tal afirmação se desmente pelo resultado do massacre, onde dois trabalhadores sem terras foram assassinados e vários feridos, o que comprova a versão inversa dos fatos, a de que os sem terras é foram vítimas de emboscada.

Maldito o soldado que vira o fuzil contra o seu povo! (Bolívar)

Justiça e reforma agrária já!

Direção Regional do MST – Região Centro do Paraná

Laranjeiras do Sul, 7 de abril de 2016

MST exige punição
Na tarde de quinta-feira, famílias do MST, organizadas no Acampamento Dom Tomas Balduíno, no município de Quedas do Iguaçu, região central do Paraná, foram vitimas de uma emboscada realizada pela Policia Militar do Estado e por seguranças contratados pela empresa Araupel.

No ataque covarde promovido pela PM e por seguranças da Araupel, foram assassinados os trabalhadores rurais, Vilmar Bordim, de 44 anos, casado, pai de três filhos e Leomar Bhorbak, de 25 anos, que deixa a esposa grávida de nove meses. Também foram feridos mais sete trabalhadores e dois detidos para depor e já foram liberados.

O acampamento, cuja ocupação teve início em maio de 2015, possui aproximadamente 1,5 mil famílias e está localizado no imóvel rural Rio das Cobras, que foi grilado pela empresa Araupel. A Justiça Federal declarou, em função da grilagem, que as terras são públicas e pertence à União, portanto, devem ser destinadas para a reforma agrária.

Segundo o relato das vítimas do ataque, não houve confronto algum. A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete e motocicleta, há 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela justiça, quando foram surpreendidos pelos policiais e seguranças entrincheirados.

Estes alvejaram o veiculo onde se encontravam os Sem Terra, que para se proteger, correram mato adentro em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram. Em relato a PM admite que os dois corpos fossem recolhidos de dentro da mata. Todas as vítimas foram baleadas pelas costas, o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com a PM e seguranças.

O local onde ocorreu a emboscada ficou isolado pela PM por mais de duas horas, impedindo o socorro dos feridos. Além de bloquear qualquer outra pessoa que se aproximasse para socorrer e documentar a cena do crime a polícia removeu as vítimas sem a presença do IML, bem como, os objetos da cena do crime.

A Polícia Militar criou um clima de terror na cidade de Quedas do Iguaçu, tomou as ruas, cercou a delegacia e os hospitais de Quedas do Iguaçu e Cascavel para onde foram levados os feridos, e impediu qualquer contato das vitimas com os familiares, advogados e imprensa.

O ataque da PM aos Sem Terra aconteceu após o Deputado Rossoni assumir a Chefia da Casa Civil do Governo do Paraná e, que, coincidentemente, esteve em visita ao Município de Quedas do Iguaçu, no dia 1 de abril deste ano, acompanhado do Secretário de Segurança Publica do Paraná, Wagner Mesquita, além de representantes das cúpulas da policia do Paraná, que determinaram o envio de um contingente de mais de 60 PMs para Quedas do Iguaçu.

O MST está na região há quase 20 anos, e sempre atuou de forma organizada e pacífica para que houvesse o avanço da reforma agrária, reivindicando que a terra cumpra a sua função social. Só no grande latifundiário da Araupel foram assentadas mais de 3 mil famílias.

Com informações do Correio do Brasil

Protesto em SP: Alckmin demonstra vontade de reprimir, e Haddad erra ao atribuir violência a movimento

protspA ordem era clara: surrar, reprimir, amedrontar. A prisão de manifestantes que tentavam chegar ao local de concentração do ato contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo remeteu a um triste passado brasileiro. Em 31 de outubro de 1975, a Secretaria de Segurança do estado colocou barreiras por todos os lados para tentar impedir que cidadãos contrários à ditadura chegassem à Catedral da Sé para o ato ecumênico em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, morto nos porões do DOI-Codi uma semana antes.

Guardadas as proporções, a repetição não surpreende. A Polícia Militar de São Paulo não passou pela depuração institucional que exige a chegada à democracia, em qualquer lugar do mundo, e segue a servir como instrumento de repressão. Nos arredores do Teatro Municipal, revistas violentas eram a ordem, e “porte de vinagre” foi subitamente transformado em crime. Valia qualquer pretexto para tirar de circulação e provocar medo em quem decidisse sair de casa ou do trabalho para apoiar a passeata.

Demonstração da sanha de recolher foi a montagem de um centro de “batida” policial do outro lado do Viaduto do Chá, na Praça do Patriarca, em frente à prefeitura.

Surpreendente foi a ira contra jornalistas. Durante toda a noite de horror, mais de uma dezena foi detida, espancada ou agredida. A repórter Gisele Brito, da RBA, procurava um lugar tranquilo para começar a escrever um texto já ao final da manifestação quando foi surpreendida com um golpe de cassetete na nuca. O motivo? Nenhum. Não era necessário achar motivo porque a ordem era essa: surrar, reprimir, amedrontar.

Ordens, isso mesmo. Uma corporação militar não age sozinha: obedece. Dada a proporção que ganhou o movimento, difícil imaginar que não tenha partido de dentro do Palácio dos Bandeirantes a determinação para transformar São Paulo em caos. Geraldo Alckmin (PSDB) tem buscado em todos seus mandatos lucrar com a agenda do endurecimento e da repressão de movimentos sociais.

Neste sentido, os atos contra o aumento do preço das passagens de trens, ônibus e metrô lhe caiu como uma luva. O tucano atendeu a seu chamado de classe, e ao chamado dos meios de comunicação que o apoiam, excitados com a possibilidade de agressões contra “baderneiros”. “Depredação, violência e obstrução de vias públicas não são aceitáveis. O governo de São Paulo não vai tolerar vandalismo” foi a resposta que ofereceu, pelo Twitter, à população – depois disso passou a se divertir com anúncios de obras e de liberação de verbas para o interior.

Alckmin é fã da PM que reprime movimentos sociais. Promoveu a invasão da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, e por inúmeras vezes agrediu estudantes e professores reivindicando reajuste salarial ou aumento das verbas para educação. Este ano, parecia que seria influenciado pela mudança de companhia ao atender ao pedido do novo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e suspender a reintegração de posse no Jardim Iguatemi, zona leste da capital.

Mas parece que neste caso foi Alckmin quem influenciou Haddad. A cooperação e a disposição para o entendimento que petista e tucano têm demonstrado desde o começo do ano é motivo de celebração. Porém, este diálogo deve sempre trabalhar em prol da população, e não contra ela, como ocorreu nessa quinta-feira. O que o prefeito fez com suas afirmações, proferidas durante a tarde, foi dar chancela a um movimento de aterrorização da população: manifestantes e não manifestantes todos saíram perdendo nesta história, que levou a cidade a parar mais cedo, a se esconder, a ter medo de conversar.

Voltar atrás pode ser uma dificuldade política. Não se contesta o cálculo que pode estar sendo feito na prefeitura. No entanto, daí a dizer que o movimento foi violento, quando todas as cenas mostravam o contrário, vai uma distância imensa. “São Paulo está acostumada às manifestações. O que a cidade não aceita é a forma violenta de se manifestar e se expressar. Com isso não compactuamos”, disse Haddad. “A renúncia à violência é o pressuposto de diálogo.” Tem razão. Por isso, pede-se ao prefeito que telefone ao governador, e sugira que renuncie à violência para que se possa abrir o diálogo.

A fala do prefeito faz supor alguém encastelado, que não olhou de perto a situação desde ontem, quando voltou de Paris. Até onde se sabe, Haddad é um homem sensível, como demonstrou ao cobrar de Alckmin que não reprimisse os moradores do Jardim Iguatemi. A postura leva a imaginar que esteja vendo a situação a distância, sem se dar conta de que o caso é grave.

Não mais feliz foi o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também do PT, que voltou a oferecer a Polícia Federal como apoio para o governo estadual. Melhor faria a gestão Dilma Rousseff se negociasse rapidamente com o Congresso a aprovação de projetos que reduzam a dívida do município, abrindo caminho para que se possa negociar o aumento do subsídio à tarifa, com a consequente redução do valor da passagem.

“A prefeitura já subsidia em R$ 1,2 bilhão por ano o transporte público na cidade. Se não subisse esses vinte centavos, o subsídio subiria para R$ 1,8 bilhão”, ponderou o vereador Nabil Bonduki. “Veja, tudo está subindo. Não é só o ônibus. Não vejo lógica de a prefeitura ter de sustentar essa inflação quando é importante investir no sistema de transportes. Entendo que só podemos construir uma saída pelo diálogo.”

A proposta está na mesa: o Ministério Público Estadual sugeriu, antes da repressão, que o aumento de tarifa fosse suspenso por 45 dias para que se pudesse buscar um acordo. Mas nem Haddad, nem Alckmin responderam aos pedidos de conversa. Nas contas da prefeitura, abrir mão do aumento de vinte centavos, de R$ 3 para R$ 3,20, tem um custo total de R$ 600 milhões. Não é pouco para uma prefeitura com uma dívida elevada, mas o custo social para um prefeito que até então se mostrava sensível e aberto à conversa pode superar bastante essa barreira matemática.

De João Peres, da Rede Brasil Atual

Eldorado do Carajás: Justiça manda prender responsáveis pelo massacre

O Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) expediu hoje (7) mandados de prisão contra o coronel Mario Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira. Os dois foram responsabilizados na Justiça por comandarem a ação da Polícia Militar que causou a morte de 21 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no episódio conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996.

Dezenove sem-terra morreram no local e dois, a caminho do hospital. As mortes ocorreram durante o confronto com a polícia no km 96 da Rodovia PA-150, na chamada Curva do S.

A ação contou com a participação de mais de 150 policiais militares. Desde o massacre, o coronel e o major respondiam pelo processo em liberdade devido aos vários recursos apresentados por seus advogados contestando a sentença que os condenou. Na decisão, Pantoja foi condenado a 228 anos de prisão e o major Oliveira a 158 anos e quatro meses em regime fechado.

O massacre motivou a criação da Jornada Nacional da Luta por Reforma Agrária, uma mobilização que ocorre todos os anos no mês de abril, também conhecida como Abril Vermelho.

Da Ag. Brasil