Minha Crônica, em homenagem aos pais: “Seu Zeny”

Seu Zeny teria hoje 82 anos de idade e muita coisa para ensinar e aconselhar

Demorei a escrever esse texto, até longo, porque não é fácil escrever sobre quem se ama, e infelizmente já perdeu. Neste dia dos Pais, falar sobre seu Zeny é mexer com emoções latentes, emoções guardadas no baú da saudade, da memória. Mas saiu. Compartilho com os leitores do Blog, e assim penso que homenageio a todos os pais, que no dia a dia tentam dar o seu melhor a seus filhos. Feliz Dia dos Pais, e boa leitura!

“Seu Zeny”

A rua Santa Catarina era ainda uma estrada de chão batido, caminho de carroceiros que vinham do planalto norte e seguiam rumo ao sul de Santa Catarina. Áreas essencialmente rurais e ocupadas por descendentes de alemães, que cultivavam a terra, criavam gado, porcos, galinhas, além das famosas arrozeiras que por longos anos produziram o arroz nosso de cada dia. Até na BR 101 existiu a perigosa “curva do arroz” onde muitos se acidentaram e morreram, e onde também está hoje o elevado do Eixo de Acesso sul a Joinville. Naquela região em 14 de novembro de 1929 nasceu um dos seis filhos de Salvador Thomaz da Costa e Georgina Machado Pereira da Costa, a quem eles deram por nome Zeny Pereira da Costa.

Seu Salvador fazia parte do Exército Brasileiro, e foi lhe dada a missão de manter uma escola no quilômetro sete da então estrada Santa Catarina. Ao mesmo tempo, a família trabalhava cuidando da subsistência familiar na roça. Zeny botou a mão no cabo da enxada desde muito novo, e acompanhou seu pai a ensinar ao povo a escrever, ler, fazer contas. Foi aprendendo junto, pois as aulas eram ministradas na casa de seu Salvador. À medida que foi crescendo, ele queria um futuro melhor, e decidiu entao ir para a “cidade”, como hoje se diz que se vai ao centro da cidade. Naqueles tempos, sair daquele ermo para a cidade era uma epopéia! E se virar sozinho então, mais ainda!

Zeny não teve medo. Encarou a Joinville conservadora – muito mais que hoje – de frente. O caboclinho de olhos azuis, cabelos castanhos e crespos, magro como pau de virar tripa, acertou a morada em uma pensão pelos lados da rua Rio Grande do Sul em casa de família. Respeitador e educado, logo conseguiu trabalho na entao fábrica de pentes, cachimbos e leques de João Hansen Júnior, que depois veio a ser a Tigre S/A, fabricante de tubos e conexões reconhecida no mundo inteiro. Trabalhou também na Tricotagem Alfredo Marquardt, e depois na Cipla, onde se aposentou. Com ele era assim: seriedade, contas bem feitas – e de cabeça! – organização, honestidade. O que era dele era dele, e dos outros cuidava melhor que do seu.

Casou cedo com sua primeira esposa, Evoni Hassel, também da região da Anita Garibaldi. Com ela teve cinco filhos: Elzevir, Ernani, Elézio, Eliete e Evelyn. Já morando em uma casa que construiu no Floresta, na rua João Pinheiro 139, Zeny sofreu sua primeira tragédia pessoal: a morte do primogênito, atropelado na rua Santa Catarina nas imediações de onde hoje se localiza a lojas Salfer. Jamais se recuperou do trauma. Mergulhou no trabalho, e nas horas vagas saía a pescar no rio Piraí, e caçar na mesma região onde se criou ao lado do pai e irmãos. Anos depois dessa tragédia, outras viriam. Cuidadoso com seu pai, o trouxe junto com seus irmãos para Joinville, pois o velho Salvador Thomaz sofrera um derrame cerebral e foi parar no fundo de uma cama.

Cuidava de manter as irmãs e seus filhos, que cuidavam no dia a dia do seu pai acamado. Entre 1964 e 1965 perdeu a esposa, a mãe e o pai em um espaço de um ano apenas. Zeny então ficara viúvo e com quatro filhos para cuidar. Não esmoreceu um minuto. Conheceu então a professora de seus filhos que estudavam no colégio estadual João Colin, no bairro Itaum. Dona Isolde Bäher se apaixonou por Zeny. Largou a profissão para assumir um lar que necessitava de uma esposa dedicada. Dessa união nasceram este jornalista, a quem ele deu o nome de seu pai para homenageá-lo, Salvador Tomaz da Costa Neto, e também Zeny Pereira da Costa Júnior, em sua própria homenagem. Para sua tristeza, Júnior nasceu com problemas mentais, um retardo intelectual. Orgulhoso, teve dificuldades de aceitar o fato.

Com todas essas situações dolorosas, duras, Zeny cada vez mais mergulhou no trabalho. Chegou a chefe de custos na Cipla, mas um stress perigoso o levou a ter de se aposentar por problemas de saúde já em 1974. Empreendedor, ele chegou a ser representante da Dudalina, camisaria de Blumenau. Sovina, segurava o dinheiro, mas comprava alguns terrenos na região do Floresta, e teve até um sítio perto de onde seu pai havia vivido. Mais tarde teve outro quando tocou um bar por seis anos, também no bairro Floresta onde viveu até morrer por câncer no estomago em 13 de agosto de 1989 com apenas 59 anos. Com certeza reflexo das emoções e perdas duras que teve, e deixou muitas saudades a todos nós, principalmente para minha mãe, dona Isolde, e seu filho Júnior, que também já nos deixou em 2005 com apenas 33 anos.

Com meu pai aprendi a pegar minhoca para pescar, usar a enxada, a pá, a escolher a forquilha correta nos galhos de goiabeira, para fazer a “xilóida”, a “cetra”, o bodoque para caçar passarinhos. Acompanhei o seu Zeny fazendo gaiolas com gapiruvú, com muita paciência para fazer os furinhos onde colocava as varetas feitas com bambu. Aprendi também a escolher a varinha de bambu certa para fazer a vara de pescaria. E também a usar cipós para trazer o monte de peixes que pescávamos no rio Pirai. Fiz “picada” no mato para chegar aos destinos melhores para caçar e pescar. Carpinei muito terreno na casa, e limpei centenas de vezes o viveiro de pássaros que manteve por longos anos. Até cuidar de uma pequena granja que ele montou eu ajudei. Sempre estive com ele, ao seu lado. O adorava de paixão, mesmo que ele fosse muito machista, duro demais.

Seu Zeny manteve toda a família com muito suor e lutas. Passou ensinamentos a todos igualmente, mas como em todas as famílias, nem todos seguiram seus ensinamentos. Eu segui. Nem todos, mas segui. Com meu pai fui várias vezes votar – ele era Arenista – e também ia a todos os jogos do Caxias que ele me autoriza ir junto, além do Jec no Ernestao. Íamos juntos ao cemitério municipal no dia de Finados, todos os anos, e a pé. Tudo era bacana ao lado dele. Ele não achava legal ganhar beijos e abraços do filho. Mas sempre insisti, beijando sua careca. Ficava ao seu lado quando menino, olhando-o ler o jornal. Peguei gosto pela leitura com ele. Hoje sou jornalista. Ele queria que eu fosse contador, administrador, trabalhasse em escritório. Não me deu apoio ao sonho de ser jogador de futebol. Ele queria o melhor para mim, tenho certeza.

Hoje sou pai de três filhos naturais que tive do meu primeiro casamento, e de uma menina linda da minha mulher e companheira Gi Rabello, que tomei emprestada e quero passar meus princípios, que aprendi com ele, o seu Zeny. Gabriel, João Pedro e Lucas hoje não querem falar comigo. Sou um pai órfão dos filhos. Mas esse é assunto para outra crônica. A eles passei a educação que tive, de honradez, integridade, honestidade, respeito ao próximo, de trabalho e luta, de estudos sempre. Tenho certeza que passei o mais importante, e passo ainda hoje com exemplo de vida, dia a dia, como um homem deve ser nesta passagem pela Terra. Aprendi com ele, o seu Zeny, meu pai, grande pai!

Neste dia 13 de agosto completam-se 23 anos da perda dele em nossas vidas. Já estamos mais tempo sem ele ao nosso lado do que o tempo que convivemos juntos. Sua esposa e minha mãe, dona Isolde, ainda fala dele com carinho e saudade. Mas a intensidade com que vivemos juntos, mesmo sendo ele um homem duro, endurecido pelas tragédias pessoais, e da luta pela vida e por um lugar melhor, foi tão forte que ele é presente a todo tempo. A saudade aperta várias vezes meu coração, choro como criança várias vezes em que lembro dele. Ainda hoje vou ao sítio em que vivemos bons tempos, comendo goiabas, abacates, dormindo no rancho à base de lampião, comendo peixe frito com farinha, e tomando café feito como os tropeiros faziam.

Neste dia dos Pais, em que ele nos deixou bem ao meio dia – jamais esquecerei disso – escrevo essa crônica para homenagear a todos os pais, de todos os lugares, classes sociais, raças, credos, enfim, a todos sem distinção. Falar dele é uma honra para eu, seu filho, porque não há nada que o desabone, e sua conduta e exemplo são lembrados até hoje por seus amigos que ainda vivem pelo bairro Floresta e região. Guardo comigo uma foto emblemática do seu amor por mim, e eu por ele. Eu com uma canequinha, enchendo de água e jogando fora – hoje seria enquadrado pelo desperdício! – e seu Zeny ao meu lado, agachado, com a mão sobre mim.

Seu carinho e amor marcaram minha alma, e tento honrá-lo todos os dias, em todos os lugares, e todos os momentos. Beijos seu Zeny, meu pai amado, Deus certamente está feliz com tua presença ao seu lado, e tenho absoluta certeza que estás a cuidar de seu filho que escreve essa crônica, da sua nora Gi, da neta Rayssa, dos netos Gabriel, Lucas e João Pedro. Tua luz e teu exemplo ficaram gravados para sempre em nossos corações. Beijo enorme seu Zeny, meu pai!

A música no Blog, com muito sentimento, Fabio Jr. com “Pai”

Com imensas saudades, muito sentimento de pai, e ao mesmo tempo, com uma imensidão de saudade de meu pai, posto aqui uma das músicas mais lindas que fala da relação pai e filho como talvez nenhuma outra o faça. Curtam, vale a pena…

http://youtu.be/jnriqp_6VWg

Feliz Aniversário João Pedro, muita saúde, paz e amor no coração filhote

João Pedro em 2007/2008 mostrando sua arte em coletiva da escolinha de artes da Casa da Cultura, lindão do pai!

Só para registrar que hoje, dia 4 de maio, meu filho João Pedro completa 12 anos, um anjo que merece todo o amor que tenho para dar hoje e sempre. Nem mesmo a distância vai apagar a nossa história, nem o amor gigante que existe entre nós. Escrevo neste espaço para que um dia ele possa ler, e saber que seu pai não o esquece, o ama, e o quer perto dele.

Para que ele sinta o carinho que não posso lhe dar pessoalmente, como sempre fiz em todos os momentos de sua vida, e da minha. Meu coração chora, a vó Isolde chora, a Gi e a Rayssa também choram a sua falta em nossa casa. Companheiro, carinhoso, ativo, criativo, parceiro, jogador, um filho maravilhoso, João Pedro com certeza só faz crescer os amigos e admiradores.

Com muita saudade que não cabe neste mundo ou em qualquer outro, desejo a esse menino amado toda luz do Criador, muita saúde, paz, amor, sucesso, alegrias, muitas amizades boas, esperando sempre receber, um dia, o seu abraço e beijo de filho. Te amo eternamente João Pedro, feliz aniversário com milhões de beijos do pai, por toda a vida!

Minha crônica – Carta ao menino que amo

Oi menino, como vai você? Não te assustes, nem te desesperes, não pretendo me estender por essas linhas, não quero te aborrecer. Não te chateie, sou do tempo da carta escrita a mão, em papel pautado com linhas, e colocado em envelope. Destinatário na frente, remetente no verso. Coisa antiga. Hoje é email, face, twitter. Escrevo-te de meu notebook. Em outros tempos poderia até ter datilografado para ficar mais bonito… mas deixa isso prá lá. Já disse que não quero te aborrecer com pouca coisa.

Te escrevo menino meu, porque morro de saudades! Desde nosso primeiro contato, do primeiro olhar, do abraço em que te envolvi, do cheirinho seu, esse é o maior tempo que fiquei longe de ti! Não bastasse a falta de tocar em você, não ouço mais tua voz, nem te carrego para qualquer lugar onde pudéssemos nos divertir. Tampouco ligas para mim, me deixas surdo de tanto silêncio. Será que estás mais alto, mais magro, mais forte talvez… E teus cabelos, lisos, castanhos, que tantos penteados já recebeu, moicano, com franja, surfista, como estarão hoje?

Olha, por essas linhas tento chegar de novo ao seu coração. Sim, tenho medo que me rejeites, que não me ames mais! A tua negação ao meu amor, assim, mais uma vez, me arderia como fogo na pele, como um corte profundo que insistiria em não cicatrizar. Ah, se pelo menos cicatrizasse essa ferida da tua falta. Porque me negas teu carinho, qual a causa de tanto desalinho quanto a mim? Que fiz para você me deixar pelo caminho, logo agora que temos tanto para fazer juntos! Ah menino, te disse não querer entediar tua vida, mas meu amor por você é infinito, sua fonte não seca, é perene!

Pensa, relembra nossos momentos de amor! Quando sorrias para mim parecíamos um só. Não feliz por te levar na escola todos os dias, ia te buscar alegremente. Saber de tudo, me embriagar das tuas coisas! Galo na cabeça do tamanho de uma bola, bola que você sempre adorou, a correr pelos campos e quadras por aí afora. A emoção de te ver correndo atrás do gol em campeonatos, de aparar tuas lágrimas na derrota, e alegria no gol marcado… menino, ah menino, como te amo! Não, não pare de ler agora, não jogue essa carta no lixo, por favor!

Aqui comigo tenho coisas tuas, coisas nossas. A cada palavra que preenche a tela em branco, levanto os olhos e vejo teu quadro, obra de arte da pequena infância. Abro gavetas e lá estão eles, os teus bonequinhos do forte apache. Teus desenhos, formosos, com dedicatória e tudo! Aí pego uma caneta, e lá está meu nome, presente teu! Como faço para te esquecer, se não posso, não quero e jamais vou te esquecer? Vivo assim com esse amor todo para te dar, mas… onde está você menino? Venha, saia dessas sombras, dessa tristeza, vem cá me dar teu abraço!

Sei, sei, já te canso com tantas linhas em tempos de 140 caracteres, mas sou assim, emoção, sou assim, escritor das vidas, de outras vidas, de tantas vidas, de nossas vidas… Lembra do tanto que fomos felizes, do tanto que nos demos um ao outro, das dores que passamos juntos, das felicidades, do colo, do abraço, do beijo na bochecha, das aventuras, brigas, brincadeiras, decepções, desilusões.

Escrever é meu bálsamo para matar a distancia, a saudade. Enquanto digito, lágrimas vêm e vão, lavam minha alma ferida, mas não molham nenhum papel. Encharcam meus pensamentos de esperança no reencontro contigo. Recorda, menino, acorda, meu filho, seja muito feliz. Saiba sempre que te amo João Pedro, meu menino. Feliz aniversário em teus 12 anos! Dia desses a gente se vê por essa vida, o tempo há de fazer isso por nós. Milhões de beijos e abraços de quem sempre vai te esperar e torcer por ti. Com carinho, amor e paixão eternas, teu pai.

* crônica para meu filho João Pedro, que completa 12 anos nesta sexta-feira, 4 de maio.

Saudade de pai

Sem palavras, apenas com sentimentos aflorados, saudades imensas de filho, e de pai. Compartilho uma poesia de autor desconhecido com os leitores nesta linda segunda-feira, última de janeiro.

“Pai, perdoa-me

Pai, perdoa-me
pelas vezes que sentei ao seu lado, mas não ouvi o que dizias…
Pai, perdoa-me
pela visita rápida de fim de tarde, antes do jantar de domingo…
Pai, perdoa-me
pela pouca paciência, quando querias aconselhar-me nos negócios…
Pai, perdoa-me
por achar que tuas idéias já estavam ultrapassadas…
Pai, perdoa-me
por ignorar tua experiência de vida…
Pai, perdoa-me
pela minha falta de tempo para passar contigo…
Pai, perdoa-me
pelo teu convite que recusei porque ia sair com meus amigos…
Pai, perdoa-me
pela minha insensibilidade na hora da tua dor…
Pai, perdoa-me
pelas vezes em que meus filhos não te trataram com o respeito que merecias…
Pai, perdoa-me
pelo abraço que não te dei, pelo carinho que não te fiz…
Pai, perdoa-me
por não ter reconhecido em ti o próprio Cristo…
Pai, abençoa-me…”