Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, Michel Temer chega ao comando interino do país rodeado de “homens fortes” do PMDB.
Cinco deles em especial se destacam como aliados bastante próximos do novo presidente: Eliseu Padilha, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Henrique Eduardo Alves, que devem ter papel de destaque no novo ministério. Todos, aliás, ocuparam cargos importantes nos governos petistas.
Nenhuma mulher faz parte do núcleo duro em torno de Temer – e, a julgar pelas notícias que vêm sendo veiculadas na imprensa nacional, seu ministeriado corre o risco de ser 100% masculino.
Duas deputadas vinham sendo cotadas para assumir a pasta de Direitos Humanos: Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Renata Abreu (PTN-SP). No entanto, devido à pressão para Temer diminuir o número de ministérios, a tendência é que o órgão seja incorporado à pasta da Justiça.
Já a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie chegou a ser convidada para para assumir a Controladoria-Geral da União (CGU), mas recusou, de acordo com a colunista Monica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.
Todos os outros nomes que têm sido levantados como possíveis ministros de Temer são homens.
O governo Dilma chegou a ter duas mulheres em dois dos cargos mais importantes, em seu primeiro mandato – Gleise Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Agora, antes de seu afastamento, quatro mulheres eram titulares de ministérios – Kátia Abreu (Agricultura), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Nilma Lino Gomes (Direitos Humanos) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente).
Conheça melhor abaixo os cinco “homens fortes” de Temer:
Eliseu Padilha
Aliado bastante próximo de Temer, Eliseu Padilha deve ocupar o ministério da Casa Civil no novo governo. Será a terceira vez que vira ministro – esteve à frente da pasta dos Transportes no governo FHC e chefiou a Secretaria de Aviação Civil no segundo mandato de Dilma.
O gaúcho foi o primeiro ministro peemedebista a deixar o governo, ainda no ano passado, o que foi visto como claro sinal de aumento do distanciamento entre a presidente e seu vice.
A decisão veio apenas dois dias depois do então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) aceitar a denúncia de impeachment, no início de dezembro. Teria contribuído para seu desembarque do governo o fato de Dilma não ter nomeado um aliado seu para uma das diretorias da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Entre abril e setembro do ano passado, quando Temer assumiu a articulação política de Dilma, Padilha foi seu principal assessor na tarefa de distribuir os cargos dos segundo e terceiro escalões do governo entre políticos. Metódico, o ministro mantinha uma planilha com todas as indicações de parlamentares e seus posicionamentos nas votações do Congresso.
Detentor de um conhecimento privilegiado sobre a estrutura de cargos federais, segue à frente das negociações para compor o governo Temer. Nas últimas semanas, despachou do escritório da presidência do PMDB, no Congresso.
Padilha é quadro antigo do PMDB, no qual ingressou em 1966, ainda na Ditadura Militar, quando o partido de oposição aos militares chamava-se MDB.
Seu primeiro cargo eletivo foi como prefeito de Tramandaí (RS), de 1989 a 1992. Depois disso, na maior parte das últimas décadas, atuou como deputado federal. Em 2014, porém, não quis mais de candidatar.
Naquele ano, o STF rejeitou denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) que acusava Padilha de envolvimento em suposto esquema de desvio de verba pública de merenda escolar no município de Canoas (RS).
O Supremo aceitou argumento da defesa de Padilha de que a investigação contra ele era nula porque foi conduzida na primeira instância da Justiça quando ele já era parlamentar e, portanto, tinha direito a foro privilegiado.
Romero Jucá
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) foi também um dos articuladores do rompimento do PMDB com o governo Dilma. Recentemente, conforme avançava o trâmite do impeachment, assumiu interinamente a presidência do partido no lugar de Temer, com missão de evitar a exposição do então vice.
Tido como um dos mais eficientes articuladores políticos dentro do Congresso, Jucá foi líder nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma no Congresso. Economista, ele é cotado para comandar o Ministério do Planejamento do governo Temer.
Seria a segunda vez que assume uma pasta. Entre março e julho de 2005, foi ministro da Previdência Social de Lula – caiu rapidamente devido ao desgaste causado pelas acusações de que teria oferecido ao Banco da Amazônia (Basa) fazendas inexistentes como garantia de empréstimo feito pelo banco à empresa Frangonorte em 1996 – da qual Jucá foi sócio entre 1994 e o final de 1996.
O ministro disse à época que as denúncias eram “levianas”, e atribuiu as informações às disputas políticas no Estado de Roraima.
Dentro da operação Lava Jato, Jucá já foi citado mais de uma vez como tendo recebido propinas. Uma dessas citações – feita na delação do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia – deu origem a um inquérito que investiga o senador.
Pessoa afirmou que Jucá pediu R$ 1,5 milhão em doações para as eleições de 2014 em Roraima, quando seu filho, Rodrigo Jucá, de 34 anos, foi candidato a vice-governador.
O repasse, afirma o empreiteiro, estaria relacionado à contratação da UTC para construção da usina nuclear Angra 3. Jucá confirma o pedido de doação, mas nega ligação com a contratação da empreiteira.
Moreira Franco
Na presidência da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos ligado ao PMDB, Moreira Franco virou o coordenador da elaboração das políticas que devem ser adotadas no governo Temer.
Esteve por trás da criação do “Ponte para o Futuro”, documento lançado ainda em 2015 que resume as propostas do partido para a economia, e mais recentemente do “Travessia”, que traz as sugestões para área social.
Com propostas de cunho liberal, o “Ponte para o Futuro” tem sido duramente atacado pelo PT e até mesmo por parlamentares do PMDB.
Ex-governador do Rio de Janeiro no final dos anos 1980, Franco também desempenhou funções de destaque nos últimos três governos. Foi assessor especial de FHC, um dos vice-presidentes da Caixa Econômica Federal no governo Lula e ocupou dois ministérios de Dilma (as secretarias de Assuntos Estratégicos e de Aviação Civil).
Ficou sem cargo no segundo mandato da petista e acabou virando um dos principais articuladores do impeachment.
Temer o citou em sua polêmica carta com reclamações a Dilma: “A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me”, queixou-se o então vice-presidente.
É cotado para o cargo de assessor especial de Temer, devendo ficar à frente das concessões, privatizações e parcerias público-privadas.
Geddel Vieira Lima
Presidente do PMDB na Bahia e reconhecido por seu talento na articulação política, Geddel Vieira Lima é o favorito para assumir a Secretaria de Governo de Temer.
Deputado federal por cinco mandatos seguidos, foi contemporâneo do novo presidente na Câmara dos Deputados. Apesar de nunca ter sido muito simpático à aliança com o PT, assumiu o Ministério da Integração Nacional em 2007, no governo Lula.
Depois, em 2010, perdeu a disputa pelo governo da Bahia para o petista Jaques Wagner. Pediu votos para Aécio Neves em 2014. Naquele ano, perdeu a eleição para o Senado para Otto Alencar (PSD-BA), candidato apoiado pelo PT.
Lima é citado na operação Lava Jato sob suspeita de negociar propina com a empreiteira OAS, o que ele nega.
Henrique Eduardo Alves
Ex-deputado federal por onze mandatos, Henrique Eduardo Alves é tido como o mais próximo de Temer, seu amigo pessoal. Com passagem pelo MDB, está no PMDB desde a sua fundação.
“Essa amizade cresceu quando atuamos juntos na Câmara, no dia a dia daquela Casa, eu como líder e ele como presidente. Quantas dificuldades passamos? Inúmeras”, afirmou recentemente ao portal UOL.
Depois de perder a eleição para o governo do Rio Grande do Norte em 2014, foi alocado no Ministério do Turismo, pasta que deixou em março, um dia antes de o PMDB oficializar o rompimento com o governo petista.
A expectativa é de que, no governo Temer, Alves volte ao comando do ministério, que pode receber também a pasta de Esportes.
Citado pelo doleiro Alberto Youssef em delação premiada, é também investigado na Operação Lava Jato. Em dezembro do ano passado, o ministro do STF Teori Zavascki autorizou buscas pela Polícia Federal em sua casa, na fase batizada de Operação Catilinárias.
Com informações da BBC Brasil