Europa tem o maior desemprego em 25 anos

A zona do euro registrou taxa de desemprego recorde no último mês de fevereiro, com 10,8% de desempregados, 0,1 ponto porcentual a mais do que no mês de janeiro, segundo dados do Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat). Em fevereiro de 2011, o índice era de 9,5% – o que mostra o impacto da crise das dívidas soberanas e dos planos de rigor adotados pelos governos da Europa.

Só nos países que adotam a moeda única, 17,1 milhões estão sem emprego, um total que sobe para 24,5 milhões de homens e mulheres em idade ativa sem trabalho se considerados os 27 países da União Europeia. As cifras são recordes em 25 anos.

O anúncio foi feito ontem, em Bruxelas, e revela o impacto social da crise, que desde 2008 flagela o mercado de trabalho da Europa. No intervalo de um ano, entre os meses de fevereiro de 2011 e de 2012, 1,8 milhão de pessoas- equivalente a toda a população de Paris – foi demitida na União Europeia, onde o porcentual de desocupados é um pouco mais baixo, 10,2%, ante 9,5% um ano antes.

Outra conclusão relevante do estudo é a concentração das novas demissões na chamada zona do euro, formada por 17 países que adotam a moeda única, onde 1,4 milhão perderam suas vagas.

Os casos mais graves de crise de emprego acontecem na Espanha e na Grécia, dois dos países mais atingidos pelas crises do sistema financeiro, de 2008, e das dívidas, de 2009. Quase um em cada quatro espanhol em idade ativa não tem trabalho, ou 23,6%. Entre jovens com menos de 25 anos, 50,5% não têm trabalho, índice que voltou a crescer, se comparado a dezembro de 2011, 50,4% (Leia texto ao lado. A situação de calamidade é semelhante na Grécia, onde 21% dos trabalhadores estão sem trabalho – frente a pouco mais de 5% em 2008. Também entre os jovens gregos a situação é dramática, com um em cada dois sem atividade laboral. No conjunto da União Europeia, esse porcentual é de 22,4%.

Pleno emprego
Por outro lado, países como Áustria, com 4,2% de trabalhadores sem vaga, e Holanda, com 4,9%, vivem o pleno emprego. Situação semelhante é verificada em Luxemburgo, com 5,2% de desempregados, e na Alemanha, maior potência econômica do bloco, com 5,7%. Em oito países as cifras de desemprego melhoraram nos últimos 12 meses;em18, entretanto, pioraram. Para especialistas em mercado de trabalho, essa é a prova que a União Europeia cresce em duas velocidades distintas: ao norte, onde o desempenho é positivo, apesar dos efeitos da crise, e ao sul, onde a recessão ou a depressão econômica são a regra.

Na França, onde o desemprego fica na média europeia, a situação também é crítica para quem buscas e reinserir no mercado. O Estado esteve ontem em uma agência governamental para recolocação profissional, a Polo de Empregos situada no 15º distrito de Paris, e ouviu depoimentos de pessoas há mais de dois anos sem uma proposta de trabalho.

Jovens
Como em todo o continente, a situação é mais grave entre jovens franceses, dentre os quais 21,7% não encontra trabalho.” O pior é a falta de perspectiva.

Como tempo, até o Polo Emprego vai abandonando seu caso”, afirmou o contador Alain C., de 24 anos, há 17 meses à procura de um posto. “A gente se sente só”, afirmou.

Do Estadão e Sindicato do ABC

 

Sindicatos: Globalização empurra sindicatos para atuação mundial

Com a globalização das empresas, o movimento sindical sentiu a necessidade de se organizar também desta forma. Nasce assim as redes sindicais, tema abordado no Visão Trabalhista em Debate desta semana, que conta com a participação de Everaldo dos Santos, diretor do Sindicato e integrante da Rede de Trabalhadores da ArcelorMittal.

O representante da categoria explica que a ideia deste tipo de mobilização é garantir à todos os funcionários, seja de uma multinacional ou transnacional, igualdade de direitos. “Senão, a mesma empresa está gerando disparidade entre os trabalhadores”, explica.

Tendo isso como ponto de partida, a rede de trabalhadores de uma determinada empresa é constituída por dirigentes sindicais situados onde há uma fábrica da mesma. “De preferência, que esses representantes sejam também funcionários”, avalia.

Para se comunicar, esses sindicalistas utilizam a internet. “A informação flui de uma forma tão eficaz, que determinada ocorrência numa unidade na Europa, em poucas horas a gente já tem conhecimento aqui”, conta. É na web que acontece as discussões que geram encaminhamentos de articulações que podem ser, por exemplo, uma manifestação ocorrida em uma planta da empresa.

Fonte: Rafael Dias – Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco.

Velhos e novos problemas acentuam incertezas no cenário internacional

A economia mundial, que já seguia abalada pelos desdobramentos da crise de 2008/2009, vem sendo agora impactada por acontecimentos dramáticos. Além das impressionantes manifestações populares que se verificam no mundo árabe (cujo diagnóstico é bastante complexo e o desfecho imprevisível, mas que impactam de imediato os preços internacionais do petróleo, provocando alta e volatilidade), em 11 de março o Japão foi atingido pelo maior terremoto de sua história, seguido de um tsunami que arrasou o nordeste do país e fez acima de 24.000 mortos e desaparecidos.

É quase que inevitável um período de retração no país com conseqüências sobre a recuperação global. Os investimentos, por exemplo, tendem a esperar uma melhor definição da duração e intensidade dos efeitos da crise no Japão sobre a economia mundial. Logo após os acontecimentos no Japão, se avaliava que a crise seria de curto prazo, durando enquanto os canais de distribuição e produção de energia estivessem bloqueados, com conseqüências mundiais, é claro, em função da importância da economia japonesa no contexto internacional. Mas a crise advinda do vazamento nuclear ocorrida em algumas das usinas nucleares atingidas vem mudando significativamente o teor das previsões.

Tanto os acontecimentos nos países árabes quanto o problema nuclear no Japão tendem a alterar profundamente, por exemplo, o cenário global de fornecimento de energia. Vários governos em todo o mundo vêm revendo as suas previsões de investimento em energia nuclear, que vinha passando, nos últimos anos, por uma espécie de renascimento. Para se ter idéia do que isso significa, a China, o Vietnã, a Tailândia e outros países asiáticos têm planos para a construção de mais de cem usinas atômicas, visando diversificar as fontes de provisão de energia, já que são países extremamente dependentes de petróleo, gás natural e carvão.

Um dos riscos aventados pelos especialistas em economia internacional é o de repatriação dos capitais japoneses espalhados pelo mundo, o que pode causar embaraços para países que têm déficit em conta corrente do balanço de pagamentos e forte presença de capital financeiro de origem japonesa, caso do Brasil. Por enquanto, o impacto mais forte se fará sentir nos países vizinhos que formam com o Japão uma zona industrial bastante integrada, envolvendo China, Japão, Índia e Coréia do Sul, além de outros países asiáticos. Esse bloco de economias gera metade de sua corrente do comércio dentro dos próprios países que o integram. Somente para o bloco asiático o Japão exporta anualmente cerca de US$ 450 bilhões. O Japão é também grande consumidor de componentes industriais produzidos na Coréia do Sul, Índia e China e a interrupção na produção de automóveis e autopeças no Japão, pelo menos até meados de abril, deve afetar o ritmo de produção industrial nesses países. Com exportações em 2010 que alcançaram US$ 767,8 bilhões, o Japão é uma fonte fundamental da produção de componentes de alta tecnologia, muito consumidos na Ásia e em outras áreas, como chips de computador, eletrônicos, automóveis, aço, produtos químicos, máquinas e equipamentos.

De qualquer forma, aparentemente, os efeitos mais danosos deverão ocorrer no curto prazo. Segundo informações divulgadas pelo governo japonês, o custo econômico do terremoto e do tsunami chegou a US$ 309 bilhões, valor corresponde aos danos das infraestruturas, das casas e das empresas do nordeste do Japão. A catástrofe pode diminuir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,5%, segundo o governo japonês. As áreas do país mais afetadas (regiões de Iwate, Miyagi e Fukushima), juntas, representam apenas 4,1% do PIB. Mesmo estimando que 30% da capacidade econômica dessas áreas tenha sido atingida (numa previsão pessimista), se teria uma perda na produção de apenas 1,2% do PIB japonês, avalia o governo.

Na Europa, que segue sofrendo os efeitos da crise financeira, a bola da vez é Portugal. O país irá precisar, segundo alguns analistas, de até US$ 100 bilhões, para acertar as suas contas e se ajustar ao padrão da União Européia, e no dia 6 de abril anunciou que recorrerá ao apoio da União Européia. A situação é tão grave que, em face da recusa do parlamento de um novo programa de austeridade proposto pelo primeiro-ministro português, este se viu forçado a pedir demissão, conforme promessa anterior.
A oposição parlamentar até aceita o corte de gastos proposto, mas não novos aumentos de impostos. Em 2010, o déficit fiscal atingiu mais de 7% e a dívida pública chega a mais de 80% do PIB, sendo que este só cresceu mais de 1,5%. A ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BCE (Banco Central Europeo) deve se concretizar, porém Portugal terá que fazer um ajuste pesado, que certamente levará a uma recessão em 2011, conforme estimativas.

Além dos problemas econômicos e financeiros, em si, a opção européia de enfrentamento dos mesmos com políticas fiscais contracionistas e de arrocho salarial, tem gerado grande resistência social, com dezenas de manifestações de muitos milhares de pessoas em vários países europeus. O pior é que os resultados deste tipo de política, se acontecerem, virão no médio e longo prazos. O grande receio geral dos analistas é o de que a crise portuguesa se espalhe pela Zona do Euro, levando a outra onda de crises na Europa, com potencial de contaminar a economia mundial.

Uma das discussões que tem sido feita nos países desenvolvidos é a de que o prejuízo financeiro decorrente das crises no Japão e na Europa pode não ser mais absorvido pelos países ricos, que já estão sobrecarregados pelas suas próprias crises e com situações fiscais no limite do suportável. A média de endividamento dos governos de países desenvolvidos em 2010 era de 74%, o nível mais elevado desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Um problema adicional é que essas economias, já bastante maduras, crescem mais lentamente que a média mundial, o que dificulta a melhora da situação fiscal no curto prazo. Segundo estudo recente do FMI, cinco países – Japão, Grécia, Itália, Portugal e Islândia- já atingiram seus limites de endividamento, o que significa que terão que, provavelmente, em algum momento, tomar medidas mais fortes que as anteriores, se quiserem manter a dívida controlada.

Opinião dos economistas – José Alvaro Cardoso e Adhemar Mineiro