Escândalo da Volks pode afetar a imagem da Alemanha?

O escândalo que afeta a Volkswagen, a principal fabricante de carros do mundo, alcançou nesta quarta-feira (23) uma nova dimensão.

O executivo-chefe da empresa, Martin Winterkorn, pediu demissão após a revelação de que a empresa manipulou testes de emissões poluentes de carros a diesel vendidos nos Estados Unidos.

O anúncio ocorreu um dia depois que a empresa reconheceu que até 11 milhões de automóveis em todo o mundo poderiam estar equipados com o programa utilizado para enganar agências reguladoras e usuários sobre as emissões de gases poluentes de seus veículos a diesel.

Na Alemanha, país conhecido pela indústria automobilística e onde o ativismo ambiental é uma força política, a revelação causou choque e indignação. Um jornal alemão chamou o caso de “o ato de estupidez mais caro da história da indústria automobilística”.

Estúpido, segundo a publicação, porque manipular os dados de contaminação para melhorar as vendas só pode ser visto como uma bofetada na cara dos clientes que pagaram a mais pelo que pensavam que seria um carro menos poluente. E caro porque desde que a Volkswagen aceitou a responsabilidade, suas ações caíram mais de 30% em dois dias.

A empresa também pode enfrentar multas de US$ 18 bilhões das autoridades americanas e o mais provável é que sofra um enorme prejuízo nas vendas futuras.

Além disso, o escândalo pode causar impacto negativo na imagem de outras empresas automobilísticas na Alemanha e em outros países europeus.

Foto: GettyImage copyrightGetty
Image captionEmpresa diz que 11 milhões de automóveis têm programa que mascarava emissões, e número pode ser ainda maior

“Bola fora”

A empresa disse que reservará cerca de US$ 7,2 bilhões em suas contas do último trimestre do ano para cobrir parte dos custos do escândalo, assim como “outros esforços para conquistar novamente a confiança de nossos consumidores”.

Ao anunciar sua demissão, Winterkorn disse estar “chocado” pelas revelações e afirmou que a empresa precisa de “um novo começo”.

Ele disse ainda que “não fez nada de errado”, mas estava se demitindo em prol dos interesses da empresa.

Para piorar a situação da gigante alemã, ela agora enfrenta múltiplas investigações nos Estados Unidos, incluindo uma criminal, iniciada pelo Departamento de Justiça. “Demos uma bola fora”, disse o chefe da Volkswagen nos Estados Unidos, Michael Harn, na terça-feira.

Escândalo da Volkswagen

11 milhões de veículos afetados

  • US$ 7,2 bilhões foram reservados pela VW para pagar custos
  • US$ 18 bilhões de multas podem ser cobradas da empresa
  • Nº 1 é a posição da empresa alemã em vendas globais de carros
EPA
A existência do programa manipulador, que era ativado automaticamente durante as revisões no veículo, foi denunciada na sexta-feira passada pela Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos (EPA).

A agência calcula que os carros emitam até entre 10 e 40 vezes mais óxido de nitrogênio poluente do que o permitido pela normativa americana, o que consiste em “violação muito grave” da lei.

A revelação lançou a empresa em uma das piores crises de seus 78 anos de história e está afetando outras montadoras, apesar de não haver acusações contra elas.

Na França, as ações da Peugeot e da Renault também caíram. O ministro das Finanças francês, Michel Sapin, pediu uma investigação a nível europeu. E a Coreia do Sul iniciou sua própria investigação, assim como a Suíça.

Contaminando o “Feito na Alemanha”
Segundo o correspondente da BBC em Berlim Damien McGuinness, a manipulação soou especialmente ofensiva porque a empresa havia se gabado de ser ecologicamente consciente e promoveu seus carros como “diesel limpo”.

“A mensagem publicitária era: nossos carros são poderosos e, ao mesmo tempo, melhores para o meio ambiente”, diz McGuinness.

Na Alemanha, um automóvel é mais que só uma caixa de metal sobre quatro rodas, como sabe qualquer pessoa que já esteve em Wolfsburg, a cidade onde nasceu a Volkswagen.

Com quase a metade da população local trabalhando para a empresa, a cidade é quase completamente dela – com fábricas enormes decoradas como castelos, além de bandeiras e símbolos da montadora onde quer que você olhe.

Isso acontece porque o país se orgulha de seus carros: são símbolos de confiabilidade, perícia técnica e engenharia.

Wolfsburg | Foto: GettyImage captionPlanta da Volkswagen emprega quase metade da população de Wolfsburg – e garante salário per capita mais alto do país

Os automóveis também são símbolos do poder econômico da empresa. Graças a ela, Wolfsburg tem o salário per capita mais alto da Alemanha.

E, na Alemanha como um todo, estima-se que um em cada sete empregos esteja de alguma forma vinculado à indústria automobilística.

“O selo ‘Feito na Alemanha’ acabou por se tornar sinônimo de qualidade e confiança. Mas se essa imagem se transforma em uma imagem de manipulação e mentira, é questão de tempo até que a economia do país sinta o impacto”, afirma o correspondente da BBC.

O temor, agora, é que outras indústrias alemãs também sejam contaminadas pelo escândalo.

Com informações da BBC Brasil

Carro que gasta e polui menos terá IPI menor

O governo quer acabar com o automóvel “gastão” e vai reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos menos poluentes. Ao contrário dos incentivos dados às montadoras durante a crise financeira internacional, a nova política será permanente. Em contrapartida, as empresas terão de investir em tecnologia para desenvolver motores mais eficientes e que emitam uma menor quantidade de gases nocivos ao meio ambiente, como o CO2. A nova política deve fazer com que a demanda por etanol e gasolina seja menor.

Além de buscar a redução do uso de combustíveis, o governo elabora uma série de medidas para evitar oscilações drásticas dos preços do etanol. Essa volatilidade é consequência dos períodos de safra e entressafra da cana-de-açúcar. Quando os canaviais estão produtivos, o preço do produto cai nas bombas e, no intervalo entre o fim da produção e início de nova plantação, dispara.

A discussão passa por três eixos: emissão/eficiência, tecnologia e competitividade. A necessidade de redução de poluentes é consenso, mas para técnicos do Ministério da Agricultura, essa mudança tem de vir com maior eficiência dos motores a combustão. Para o governo, o carro brasileiro é “gastão” e a indústria tem condições de reduzir o consumo energético.

A dificuldade em aperfeiçoar os veículos estaria na pressão das montadoras, grandes empregadoras e pagadoras de impostos. O governo considera como ideal o modelo europeu, no qual carros com motores mais potentes são menos poluentes que no Brasil.

Do Jornal da Tarde