G20 quer fortalecer euro e economia mundial após alívio na Grécia

Dilma chegou ao México no domingo para participar da reunião de cúpula do G20

Com a pressão ligeiramente aliviada pelos resultados iniciais das eleições na Grécia, o G20, grupo das principais economias emergentes e avançadas do mundo, se reúne em Los Cabos, no México, para discutir o fortalecimento da economia global. O pleito grego do final de semana foi vencido pelos conservadores do partido Nova Democracia, que defendem a permanência do país na zona do euro e acatam as medidas de austeridade defendidas pela União Europeia.

As atenções devem estar quase totalmente voltadas para o debate sobre como salvaguardar o euro e evitar que a crise grega se espalhe para outros países europeus, como Espanha e Itália, ainda que a agenda oficial seja mais ambiciosa no sentido de discutir como gerar ”crescimento vigoroso” no mundo.

Espera-se que o G20 expresse na sua declaração final um apoio firme em favor do euro. E os mercados já especulam que pode ser anunciada na reunião uma ação conjunta de Bancos Centrais para injetar liquidez no sistema financeiro.

Entretanto, o Brasil, que avalia como positiva a sinalização de que a Grécia permaneça na zona do euro, vai enfatizar que a solução para o problema grego – e europeu em geral – não é apenas financeira, mas passa por estimular os mercados dos países em crise, gerando dinamismo econômico.

A presidente Dilma Rousseff, que está em Los Cabos acompanhada do ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai reforçar o coro dos que defendem uma pitada de estímulos econômicos no coquetel de medidas de austeridade adotado nos países avançados.

Além disso, o país vai barganhar ao lado de outros emergentes reunidos nos Brics – grupo que inclui também Rússia, China, Índia e África do Sul – mais poder no Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de aportes para reforçar o caixa da instituição contra a crise.

Socorro à Grécia
Às vésperas do encontro, quando as delegações dos países ainda estavam a caminho do balneário de Los Cabos, na costa mexicana do Pacífico, sede da cúpula, o tema que mais preocupou as delegações foram as eleições gregas – vistas como um referendo sobre a permanência ou não do país na zona do euro. Mas logo após os resultados iniciais do pleito, que favoreceu o partido mais inclinado a manter a Grécia na zona do euro e honrar os compromissos do país com seus credores, o tom foi de menor tensão.

Os Estados Unidos, que consideram que sua economia está sendo arrastada pela crise na zona do euro e que por isso têm gerado empregos aquém do necessário, expressaram o desejo de que a eleição grega ”leve à formação de um novo governo que possa alcançar progresso rápido nos desafios econômicos que o povo grego enfrenta”.

”Acreditamos que é no interesse de todos que a Grécia permaneça na zona do euro, enquanto respeitando seus compromissos com reformas”, disse a Casa Branca em comunicado.

Já o ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, amaciou o tom ao falar do cenário político grego e indicou que os credores do país poderiam concordar com um relaxamento das condições impostas para emprestar recursos ao governo de Atenas.

“Não deve haver mudança substancial nos compromissos”, disse o ministro, ”mas posso imaginar, sem problemas, uma negociação sobre novos prazos”.

Até agora, a Alemanha vinha se mantendo inflexível na negociação dos recursos emprestados à Grécia. Mas Westerwelle disse que o país viveu “uma paralisia política nas últimas semanas devido às eleições” e que ”os cidadãos comuns não podem ser punidos, especialmente porque já suportaram cortes drásticos”.

Crescimento solidário
O tom ”solidário” com a Grécia – para usar um termo aplicado pelo próprio ministro alemão – coincide com a avaliação brasileira de que para salvar a economia grega não basta oferecer empréstimos e exigir condições: é preciso que as autoridades europeias trabalhem junto com o governo de Atenas para fortalecer a economia do país.

Em Los Cabos, onde todos concordam que é preciso fazer os ajustes fiscais estipulados em reuniões anteriores do G20, alguns países até então alinhados com as ideias de austeridade, como o Canadá e a Grã-Bretanha, já sinalizaram uma mudança de posição tendendo mais à segunda opção, a do estímulo crescimento.

O premiê britânico, David Cameron, cujo país voltou a entrar em recessão neste ano, deve defender uma ”ação decisiva” para fortalecer a demanda no continente europeu, a fim de evitar o fim da moeda comum e o consequente contágio que os analistas consideram inevitável se persistir a crise grega.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um dos que já urgiram os países com superávits orçamentários, em especial a Alemanha, a adotar programas de estímulo que evitariam as distorções cambiais e agiriam contra a estagnação econômica.

Prevenindo crises
Além desses temas, estão sendo discutidas maneiras de evitar futuras crises. Tem-se especulado sobre a adoção de medidas conjuntas por parte dos Bancos Centrais para injetar liquidez no sistema financeiro, como foi feito após a reunião do G20 em Londres em 2009.

Naquela ocasião, o grupo mobilizou de maneira coordenada US$ 5 bilhões (cerca de R$ 10,2 bilhões) em estímulos fiscais para conter a freada da economia global, reforçou o caixa do FMI e do Banco Mundial em US$ 1,1 bilhão e criou mecanismos para monitorar o nível de risco nos mercados financeiros.

O anfitrião, o presidente mexicano, Felipe Calderón, também lembrou que pretende finalizar as discussões para o aumento de capital do FMI, no valor de US$ 430 bilhões (cerca de R$ 878,5 bilhões) – praticamente o dobro do poder de fogo do órgão contra a crise.

Os países do bloco Brics já indicaram em abril que devem contribuir com o aporte, mas decidiram não falar publicamente em números até esta reunião de Los Cabos. O grupo se reúne na segunda-feira de manhã para tratar do assunto, com a presença da presidente Dilma Rousseff e do ministro Guido Mantega.

Da BBC Brasil

Velhos e novos problemas acentuam incertezas no cenário internacional

A economia mundial, que já seguia abalada pelos desdobramentos da crise de 2008/2009, vem sendo agora impactada por acontecimentos dramáticos. Além das impressionantes manifestações populares que se verificam no mundo árabe (cujo diagnóstico é bastante complexo e o desfecho imprevisível, mas que impactam de imediato os preços internacionais do petróleo, provocando alta e volatilidade), em 11 de março o Japão foi atingido pelo maior terremoto de sua história, seguido de um tsunami que arrasou o nordeste do país e fez acima de 24.000 mortos e desaparecidos.

É quase que inevitável um período de retração no país com conseqüências sobre a recuperação global. Os investimentos, por exemplo, tendem a esperar uma melhor definição da duração e intensidade dos efeitos da crise no Japão sobre a economia mundial. Logo após os acontecimentos no Japão, se avaliava que a crise seria de curto prazo, durando enquanto os canais de distribuição e produção de energia estivessem bloqueados, com conseqüências mundiais, é claro, em função da importância da economia japonesa no contexto internacional. Mas a crise advinda do vazamento nuclear ocorrida em algumas das usinas nucleares atingidas vem mudando significativamente o teor das previsões.

Tanto os acontecimentos nos países árabes quanto o problema nuclear no Japão tendem a alterar profundamente, por exemplo, o cenário global de fornecimento de energia. Vários governos em todo o mundo vêm revendo as suas previsões de investimento em energia nuclear, que vinha passando, nos últimos anos, por uma espécie de renascimento. Para se ter idéia do que isso significa, a China, o Vietnã, a Tailândia e outros países asiáticos têm planos para a construção de mais de cem usinas atômicas, visando diversificar as fontes de provisão de energia, já que são países extremamente dependentes de petróleo, gás natural e carvão.

Um dos riscos aventados pelos especialistas em economia internacional é o de repatriação dos capitais japoneses espalhados pelo mundo, o que pode causar embaraços para países que têm déficit em conta corrente do balanço de pagamentos e forte presença de capital financeiro de origem japonesa, caso do Brasil. Por enquanto, o impacto mais forte se fará sentir nos países vizinhos que formam com o Japão uma zona industrial bastante integrada, envolvendo China, Japão, Índia e Coréia do Sul, além de outros países asiáticos. Esse bloco de economias gera metade de sua corrente do comércio dentro dos próprios países que o integram. Somente para o bloco asiático o Japão exporta anualmente cerca de US$ 450 bilhões. O Japão é também grande consumidor de componentes industriais produzidos na Coréia do Sul, Índia e China e a interrupção na produção de automóveis e autopeças no Japão, pelo menos até meados de abril, deve afetar o ritmo de produção industrial nesses países. Com exportações em 2010 que alcançaram US$ 767,8 bilhões, o Japão é uma fonte fundamental da produção de componentes de alta tecnologia, muito consumidos na Ásia e em outras áreas, como chips de computador, eletrônicos, automóveis, aço, produtos químicos, máquinas e equipamentos.

De qualquer forma, aparentemente, os efeitos mais danosos deverão ocorrer no curto prazo. Segundo informações divulgadas pelo governo japonês, o custo econômico do terremoto e do tsunami chegou a US$ 309 bilhões, valor corresponde aos danos das infraestruturas, das casas e das empresas do nordeste do Japão. A catástrofe pode diminuir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,5%, segundo o governo japonês. As áreas do país mais afetadas (regiões de Iwate, Miyagi e Fukushima), juntas, representam apenas 4,1% do PIB. Mesmo estimando que 30% da capacidade econômica dessas áreas tenha sido atingida (numa previsão pessimista), se teria uma perda na produção de apenas 1,2% do PIB japonês, avalia o governo.

Na Europa, que segue sofrendo os efeitos da crise financeira, a bola da vez é Portugal. O país irá precisar, segundo alguns analistas, de até US$ 100 bilhões, para acertar as suas contas e se ajustar ao padrão da União Européia, e no dia 6 de abril anunciou que recorrerá ao apoio da União Européia. A situação é tão grave que, em face da recusa do parlamento de um novo programa de austeridade proposto pelo primeiro-ministro português, este se viu forçado a pedir demissão, conforme promessa anterior.
A oposição parlamentar até aceita o corte de gastos proposto, mas não novos aumentos de impostos. Em 2010, o déficit fiscal atingiu mais de 7% e a dívida pública chega a mais de 80% do PIB, sendo que este só cresceu mais de 1,5%. A ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BCE (Banco Central Europeo) deve se concretizar, porém Portugal terá que fazer um ajuste pesado, que certamente levará a uma recessão em 2011, conforme estimativas.

Além dos problemas econômicos e financeiros, em si, a opção européia de enfrentamento dos mesmos com políticas fiscais contracionistas e de arrocho salarial, tem gerado grande resistência social, com dezenas de manifestações de muitos milhares de pessoas em vários países europeus. O pior é que os resultados deste tipo de política, se acontecerem, virão no médio e longo prazos. O grande receio geral dos analistas é o de que a crise portuguesa se espalhe pela Zona do Euro, levando a outra onda de crises na Europa, com potencial de contaminar a economia mundial.

Uma das discussões que tem sido feita nos países desenvolvidos é a de que o prejuízo financeiro decorrente das crises no Japão e na Europa pode não ser mais absorvido pelos países ricos, que já estão sobrecarregados pelas suas próprias crises e com situações fiscais no limite do suportável. A média de endividamento dos governos de países desenvolvidos em 2010 era de 74%, o nível mais elevado desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Um problema adicional é que essas economias, já bastante maduras, crescem mais lentamente que a média mundial, o que dificulta a melhora da situação fiscal no curto prazo. Segundo estudo recente do FMI, cinco países – Japão, Grécia, Itália, Portugal e Islândia- já atingiram seus limites de endividamento, o que significa que terão que, provavelmente, em algum momento, tomar medidas mais fortes que as anteriores, se quiserem manter a dívida controlada.

Opinião dos economistas – José Alvaro Cardoso e Adhemar Mineiro