Una Crónica – “Rayitas, Milú y Eufemia” – em espanhol europeu

Era un hermoso día soleado después de unos días fríos y lluviosos. Estas oportunidades ni yo ni Bastião perdimos. Mi compañero de caminatas es inseparable. No admite que salga por las pequeñas calles europeas a pasear solo. Un verdadero amigo es así. No hay forma de decir no. Nuestro plan era ir a la biblioteca, pasear por el jardín del amor y disfrutar de un abatanado, ¿quién sabe con un generoso trozo de pastel? Casi funcionó. 

Digo casi porque faltó sentarme en la mesita de la pastelería y disfrutar del café negro básico. Mi error, si puedo decirlo así, amigo lector, fue detenerme al sol y abandonarme al banco somnoliento que me hacía guiños, amigo lector. Estaba observando el movimiento cuando una señora se acercó a mi banco. Sí, el mío, porque allí estaba totalmente a cargo, no solo yo, sino también Bastião. Aun así, ella se acercó. Miró alrededor, habló con un gato en la calle y se fue. 

Bien, estábamos escuchando el bullicio de los niños de las escuelas pasar cuando ella, la señora, regresó ahora con un paquete en la mano. Extrañamente hablaba sola. Entonces abrió la bolsa y sacó de ella un paquete amarillo. Miraba la valla viva que había detrás de mi banco y murmuraba. La valla viva se aferraba a una valla muerta de hierro que protegía una antigua y abandonada mansión. Comenzó a realizar una especie de alquimia que era como música para los gatos. Comida, pienso seco. 

Bastião no se movía, pero yo la observaba, y a los gatos que se iban acercando y arropándola. No pude resistir a esta interesante acción y solté una frase al viento que, en ese momento, parecía ampliar su poder: – Van a saciar su hambre. Y la señora Eufemia, que así se llamaba, respondió: – Oh sí, siempre traigo, pero están delgados, feos. Las otras traen comida barata, no ayuda a que estén bonitos. Luego siguió un largo relato sobre un equipo de gente que alimenta a esos gatos. 

Agudicé el oído para escuchar a Eufemia. Lo había estado haciendo durante años, mezclaba la comida en una bolsa que escondía entre la valla viva. Las otras voluntarias venían, cada una en su día, y se turnaban para darle de comer a los gatitos. – ¿Tiene algún gato en casa?, le pregunté. Con cierta amargura, me dijo que sí, tuvo dos. ¿Tuvo? – Sí, murieron. – Lo siento, qué pena. Uno de ellos era gris, con rayas blancas, le puse el nombre de Rayitas, me contó la benefactora. Rayitas, era cierto. 

La historia de amor entre ella y Rayitas era conmovedora. El gato parecía un bebé, al que abrazaba y besaba, gordo y peludo. Pero enfermó de los riñones, se consumió y se despidió de ella un día antes de morir. Noté la tristeza húmeda en sus ojos. Menos mal que el sol estaba allí para secar las tristezas. No podía permitir que Eufemia se deprimiera. Solté: – ¿Tienes otros gatos ahora? Para sorpresa del narrador de esta historia, ella dijo: – No, ahora tengo una perrita, ¡Milú! Una sonrisa se abrió. 

Su hija le había regalado un bulldog francés para que su madre se viera obligada a salir de casa. Así que Eufemia salía ahora con Milú todos los días. Aparentemente, el calor de la alegría había regresado, y ella ahora conservaba a Rayitas solo en los buenos recuerdos. Rayitas se fue, Milú llegó y le hacía compañía. Nos despedimos, Eufemia se fue. En cuanto a mí, me quedé sin café con pastel, sin el calor del sol, pero con el corazón caldeado por la hermosa historia de amor. Eufemia, los gatos, Milú y Rayitas. 

Por Salvador Neto, Portugal, 30 de abril de 2024. 

Uma Crônica – “Eufêmia, Riscadinho e Milú”

Era um belo dia de sol após alguns dias frios e chuvosos. Essas oportunidades nem eu, e tampouco Bastião, perdemos. Meu parceiro de caminhadas é inseparável. Ele não admite que eu saia pelas pequenas ruas europeias a saracotear sozinho. Amigo de verdade é assim. Não tem como dizer não. Nosso plano era ir à biblioteca, passar pelo jardim do amor e bebericar um abatanado, quem sabe com um generoso bolo?  Quase deu certo. 

Digo quase por ter faltado o sentar na mesinha da pastelaria e saborear o pretinho básico. Meu erro, se posso assim dizer-lhe amigo leitor, foi dar uma parada ao sol, e abandonar-me ao banco sonolento que piscava para mim, amigo leitor. Estava a verificar o movimento quando uma senhora veio em direção ao meu banco. Sim, meu, pois lá estava totalmente senhor dele, não só eu como Bastião. Mesmo assim ela se aproximou. Olhou a volta, conversou com um gato a rua e se foi.  

Pois bem, estávamos a ouvir a algazarra dos miúdos das escolas a passar quando ela, a senhora, retornou agora com um pacote a mão. Estranhamente falava sozinha. Abriu então a sacola e tirou lá de dentro um pacote amarelo. Olhava para a cerca viva que ficava por detrás do meu banco e cochichava. A cerca viva agarrava-se a uma cerca morta, de ferro, que protegia um casarão antigo e abandonado. Começou a realizar uma alquimia que era uma música para os gatos. Comida, ração seca. 

Bastião não se mexia, mas eu a observava, e aos gatos que foram se achegando e aconchegando a ela. Não resisti a essa interessante ação e joguei uma frase ao vento que, àquela hora ampliava seu poder: – Eles vão matar a fome. E a senhora Eufemia, era o nome dela, respondeu: – Oh sim, eu sempre trago, mas eles estão magrinhos, pelo feio. As outras trazem comida barata, não ajuda a ficarem bonitos. Aí seguiu-se um longo relato sobre um revezamento de gente que alimenta aqueles gatos. 

Agucei os ouvidos a escutar Eufemia. Fazia isso há anos, misturava a comida em uma sacola que escondia em meio a cerca viva. As outras voluntarias vinham, cada uma a seu dia, e revezavam-se em dar alimento aos gatinhos. – A senhora tem algum em sua casa, perguntei. Com certa amargura disse-me que sim, teve dois. Teve? – Sim, eles morreram. – Peço desculpas, que pena. Um deles era cinza, com riscas brancas, eu dei-lhe o nome de Riscadinho, contou-me a benfeitora. Riscadinho, era mesmo. 

A história de amor entre ela e Riscadinho era comovente. O gato parecia um bebê, que abraçava e a beijava, gordo e peludo. Mas ficou doente dos rins, definhou, e se despediu dela um dia antes de morrer. Notei a tristeza úmida em seus olhos. Ainda bem que o sol ali estava a secar tristezas. Não podia deixar eufemia deprimida. Lasquei: – Tens outros gatos agora? Para a surpresa do vivente que lhes conta a história, ela diz: – Não, agora tenho uma cachorrinha, a Milú! Um sorriso se abriu. 

A sua filha a havia presenteado com a buldogue francês para que a mãe se obrigasse a sair de casa. Eufemia, portanto, saia agora com Milu todos os dias. Pelo visto o calor da alegria voltou, e ela agora mantem o riscadinho somente nas boas memorias. Riscadinho se foi, Milu chegou e faz-lhe companhia. Nos despedimos, lá se foi Eufemia. Quanto a mim fiquei sem o café com bolo, sem o calor do sol, mas com o coração aquecido pela bela história de amor. Eufemia, os gatos, Milu e Riscadinho.  

  • Por Salvador Neto, Portugal, em 30 de abril de 2024 

Minha Crônica: “Pregação”

Barbearias são ótimas fontes de histórias do cotidiano.
Barbearias são ótimas fontes de histórias do cotidiano.

Não ando muito inspirado, e tampouco transpirando muito na produção de novos textos. Mas este saiu para ser publicado na sexta edição da antologia “Letras da Confraria”, produzido e editado pela Associação Confraria das Letras e recentemente lançado em Joinville (SC). E nasce de uma passagem por um barbeiro – sim, eles ainda  existem! -, sempre eles com suas barbearias cheias de histórias. Pregação nasceu em uma delas, confiram:

“Com tempo sobrando para fazer algo que fosse meu – nosso tempo anda mais para os outros hoje em dia do que para a gente mesmo – resolvi chegar ao barbeiro mais próximo de casa. Coisa básica para um calvo cujos ralos cabelos crescem, mas teimam em tentar voltar aos tempos de juventude adolescente, dando voltinhas a buscar cachos que não voltam mais. Caminhei menos de cem metros. No trajeto, dois barbeiros. Um já conheço, o mágico da tesoura. O outro nunca tinha visitado. Como o primeiro enrola muito para aparar meus poucos fios, resolvi conhecer o serviço do outro lado da rua.

A porta estava fechada, com placa de “ar condicionado – entre” pendurada. Dei uma olhadela, lá estava ele, o Angelo Barbeiro, como dizia a placa acima de minha cabeça. Entrei. A televisão ligada, ele sentado em um banco lendo alguma revista. – Boa tarde, falei. Alto, cabelo esbranquiçado, mas bem ajeitado – afinal entende de cabelo – o barbeiro tirou os óculos de leitura e retribuiu o gesto. – Dá para cortar a minha cabeleira agora, puxei assunto, bobo assunto já que somente eu e ele ocupávamos aqueles metros quadrados. Ele respondeu: – Mas é prá já! Arrumou a cadeira famosa dos barbeiros. Sentei. Ele colocou uma espécie de jaleco protetor. Pensei, esse é bom, não fala, vai ser rápido.

– O senhor quer na máquina? Disse que sim, a dois. Aí foi meu erro, quando disse: – Como vai a vida? Pronto. O homem ligou a maquininha, zumm zummm, deu duas rapadas no couro cabeludo (?), e parou. – Olha senhor, a coisa sempre vai bem. O povo hoje reclama muito, não enxerga que temos tudo! Mais umas passadas, zummm para lá, zummm para cá, e mais uma parada. – A gente precisa é entender que não somos deste mundo. Não temos entendimento da vida, conhecer não é bom, tem é de fugir da verdade! A verdade, se a gente fala, a gente some, declarou o barbeiro.

A conversa alongou, e a cada parada no zum zum, ele conversava comigo me olhando no espelho. Quando eu olhava no espelho, ele me olhava nos olhos. A pregação seguiu por mais uns vinte minutos. Passou ao uso da tesoura para ganhar mais um tempinho comigo, claro, arrumou um para ouvir sua pregação, instigante até, mas que me fazia circular o pensamento ora para um tema, ora para outro. Quando eu dizia entender, ele dizia não, não é isso, é aquilo. – Vai a zero na parte de cima? A parte de cima era a calva que ainda tem os heróis da resistência. Concordei, já sem falar, só no manear a cabeça. Acabou. Mais vinte minutos de explicação das energias e vida dele, desde o Egito até aqui. Fui embora atrasado para uma reunião. E sem a zero na calva.

Por Salvador Neto

Minha Crônica: Ao meu pai, Zeny

Uma crônica sobre meu pai como homenagem a todos os pais!
Uma crônica sobre meu pai como homenagem a todos os pais!

Em 2012 eu publiquei essa crônica aqui no Blog, após anos de intenções não concretizadas. Republico hoje com alguma edição necessária ao tempo para homenagear meu pai, seu Zeny Pereira da Costa, em mais um Dia dos Pais que chega e que me traz muitas saudades. E com elas, lembranças.

Ao publicar esse texto, compartilhando com os leitores do Palavra Livre, desejo homenagear também a todos os pais que certamente buscam dar o melhor a seus filhos. Feliz Dia dos Pais, vocês merecem! Boa leitura!

“Ao meu pai, seu Zeny”

A rua Santa Catarina era ainda uma estrada de chão batido, caminho de carroceiros que vinham do planalto norte e seguiam rumo ao sul de Santa Catarina. Áreas essencialmente rurais e ocupadas por descendentes de alemães, que cultivavam a terra, criavam gado, porcos, galinhas, além das famosas arrozeiras que por longos anos produziram o arroz nosso de cada dia. Até na BR 101 existiu a perigosa “curva do arroz” onde muitos se acidentaram e morreram, e onde também está hoje o elevado do Eixo de Acesso Sul a Joinville. Naquela região em 14 de novembro de 1929 nasceu um dos seis filhos de Salvador Thomaz da Costa e Georgina Machado Pereira da Costa, a quem eles deram por nome Zeny Pereira da Costa.

Seu Salvador fazia parte do Exército Brasileiro, e foi lhe dada a missão de manter uma escola no quilômetro sete da então estrada Santa Catarina. Ao mesmo tempo, a família trabalhava cuidando da subsistência familiar na roça. Zeny botou a mão no cabo da enxada desde muito novo, e acompanhou seu pai a ensinar ao povo a escrever, ler, fazer contas. Foi aprendendo junto, pois as aulas eram ministradas na casa de seu Salvador. À medida que foi crescendo, ele queria um futuro melhor, e decidiu então ir para a “cidade”, como hoje se diz que se vai ao centro da cidade. Naqueles tempos, sair daquele ermo para a cidade era uma epopéia! E se virar sozinho então, mais ainda!

Zeny não teve medo. Encarou a Joinville conservadora – muito mais que hoje – de frente. O caboclinho de olhos azuis, cabelos castanhos e crespos, magro como pau de virar tripa, acertou a morada em uma pensão pelos lados da rua Rio Grande do Sul em casa de família. Respeitador e educado, logo conseguiu trabalho na entao fábrica de pentes, cachimbos e leques de João Hansen Júnior, que depois veio a ser a Tigre S/A, fabricante de tubos e conexões reconhecida no mundo inteiro. Trabalhou também na Tricotagem Alfredo Marquardt, e depois na Cipla, onde se aposentou. Com ele era assim: seriedade, contas bem feitas – e de cabeça! – organização, honestidade. O que era dele era dele, e dos outros cuidava melhor que do seu.

Casou cedo com sua primeira esposa, Evoni Hassel, também da região da Anita Garibaldi. Com ela teve cinco filhos: Elzevir, Ernani, Elézio, Eliete e Evelyn. Já morando em uma casa que construiu no Floresta, na rua João Pinheiro 139, Zeny sofreu sua primeira tragédia pessoal: a morte do primogênito, atropelado na rua Santa Catarina nas imediações de onde hoje se localiza a lojas Salfer. Jamais se recuperou do trauma. Mergulhou no trabalho, e nas horas vagas saía a pescar no rio Piraí, e caçar na mesma região onde se criou ao lado do pai e irmãos. Anos depois dessa tragédia, outras viriam. Cuidadoso com seu pai, o trouxe junto com seus irmãos para Joinville, pois o velho Salvador Thomaz sofrera um derrame cerebral e foi parar no fundo de uma cama.

Cuidava de manter as irmãs e seus filhos, que cuidavam no dia a dia do seu pai acamado. Entre 1964 e 1965 perdeu a esposa, a mãe e o pai em um espaço de um ano apenas. Zeny então ficara viúvo e com quatro filhos para cuidar. Não esmoreceu um minuto. Conheceu então a professora de seus filhos que estudavam no colégio estadual João Colin, no bairro Itaum. Dona Isolde Bäher se apaixonou por Zeny. Largou a profissão para assumir um lar que necessitava de uma esposa dedicada. Dessa união nasceram este jornalista, a quem ele deu o nome de seu pai para homenageá-lo, Salvador Tomaz da Costa Neto, e também Zeny Pereira da Costa Júnior, em sua própria homenagem. Para sua tristeza, Júnior nasceu com problemas mentais, um retardo intelectual. Orgulhoso, teve dificuldades de aceitar o fato.

Com todas essas situações dolorosas, duras, Zeny cada vez mais mergulhou no trabalho. Chegou a chefe de custos na Cipla, mas um stress perigoso o levou a ter de se aposentar por problemas de saúde já em 1974. Empreendedor, ele chegou a ser representante da Dudalina, camisaria de Blumenau. Sovina, segurava o dinheiro, mas comprava alguns terrenos na região do Floresta, e teve até um sítio perto de onde seu pai havia vivido. Mais tarde teve outro quando tocou um bar por seis anos, também no bairro Floresta onde viveu até morrer por câncer no estomago em 13 de agosto de 1989 com apenas 59 anos. Com certeza reflexo das emoções e perdas duras que teve, e deixou muitas saudades a todos nós, principalmente para minha mãe, dona Isolde, e seu filho Júnior, que também já nos deixou em 2005 com apenas 33 anos.

Com meu pai aprendi a pegar minhoca para pescar, usar a enxada, a pá, a escolher a forquilha correta nos galhos de goiabeira, para fazer a “xilóida”, a “cetra”, o bodoque para caçar passarinhos. Acompanhei o seu Zeny fazendo gaiolas com gapiruvú, com muita paciência para fazer os furinhos onde colocava as varetas feitas com bambu. Aprendi também a escolher a varinha de bambu certa para fazer a vara de pescaria. E também a usar cipós para trazer o monte de peixes que pescávamos no rio Pirai. Fiz “picada” no mato para chegar aos destinos melhores para caçar e pescar. Carpinei muito terreno na casa, e limpei centenas de vezes o viveiro de pássaros que manteve por longos anos. Até cuidar de uma pequena granja que ele montou eu ajudei. Sempre estive com ele, ao seu lado. O adorava de paixão, mesmo que ele fosse muito machista, duro demais.

Seu Zeny manteve toda a família com muito suor e lutas. Passou ensinamentos a todos igualmente, mas como em todas as famílias, nem todos seguiram seus ensinamentos. Eu segui. Nem todos, mas segui. Com meu pai fui várias vezes votar – ele era Arenista – e também ia a todos os jogos do Caxias que ele me autoriza ir junto, além do Jec no Ernestão. Íamos juntos ao cemitério municipal no dia de Finados, todos os anos, e a pé. Tudo era bacana ao lado dele. Ele não achava legal ganhar beijos e abraços do filho. Mas sempre insisti, beijando sua careca. Ficava ao seu lado quando menino, olhando-o ler o jornal. Peguei gosto pela leitura com ele. Hoje sou jornalista. Ele queria que eu fosse contador, administrador, trabalhasse em escritório. Não me deu apoio ao sonho de ser jogador de futebol. Ele queria o melhor para mim, tenho certeza.

Hoje sou pai de três filhos naturais que tive do meu primeiro casamento, e de uma menina linda da minha mulher e companheira Gi Rabello, que tomei emprestada e quero passar meus princípios, que aprendi com ele, o seu Zeny. Gabriel, João Pedro e Lucas receberam os ensinamentos que aprendi com ele, e espero que seja de muita valia. Infelizmente há tempos eles não falam comigo. Sou um pai órfão dos filhos vivos. Mas esse é assunto para outra crônica. A eles passei a educação que tive, de honradez, integridade, honestidade, respeito ao próximo, de trabalho e luta, de estudos sempre. Tenho certeza que passei o mais importante, e passo ainda hoje com exemplo de vida, dia a dia, como um homem deve ser nesta passagem pela Terra. Aprendi com ele, o seu Zeny, meu pai, grande pai!

Meu pai morreu no Dia dos Pais em 1989. Naquele ano, o dia caiu em um 13 de agosto. Completam-se portanto 25 anos da sua ida ao outro plano, uma grande perda para nossas vidas aqui. Já estamos mais tempo sem ele ao nosso lado do que o tempo que convivemos juntos. Mas a intensidade com que vivemos juntos, mesmo sendo ele um homem de opiniões fortes, conservador, endurecido pelas tragédias pessoais, e da luta pela vida e por um lugar melhor, foi tão forte que ele é presente a todo tempo. A saudade aperta várias vezes meu coração, choro como criança em momentos que lembro dele. Ainda hoje vou ao sítio em que vivemos bons tempos, comendo goiabas, abacates, dormindo no rancho à base de lampião, comendo peixe frito com farinha, e tomando café feito como os tropeiros faziam. Uma forma de nos sentirmos juntos novamente.

Em mais um Dia dos Pais, em que ele nos deixou bem ao meio dia – jamais esquecerei disso – escrevo essa crônica para homenagear a todos os pais, de todos os lugares, classes sociais, raças, credos, enfim, a todos sem distinção. Falar dele é uma honra para eu, seu filho, porque não há nada que o desabone, e sua conduta e exemplo são lembrados até hoje por seus amigos que ainda vivem pelo bairro Floresta e região. Guardo comigo uma foto emblemática do seu amor por mim, e eu por ele. Eu com uma canequinha, enchendo de água e jogando fora – hoje seria enquadrado pelo desperdício! – e seu Zeny ao meu lado, agachado, com a mão sobre minha cabeça. Ao seu jeito, ele foi meu grande amigo e parceiro.

Seu carinho e amor marcaram minha alma, e tento honrá-lo todos os dias, em todos os lugares e todos os momentos. De onde estiver tenho absoluta certeza que está a cuidar de seu filho que escreve essa crônica, da sua nora Gi, da neta Rayssa, dos netos Gabriel, Lucas e João Pedro, e da sua companheira Isolde. Tua luz e teu exemplo ficaram gravados para sempre em nossos corações. Um beijo enorme seu Zeny, meu pai!

Por Salvador Neto

Quero voltar para os meus pais

Juro que não entendo! Quanto mais eu choro, mais eles brigam comigo! Quanto mais me bato, mais me seguram, e quanto mais eu peço para ir com meus pais, eles não deixam! Sinto falta deles, do carinho deles, do meu quarto, meus brinquedos. Da minha vó! Eu quero voltar prá casa, quero voltar para meus pais! O que eu fiz de errado? Desde o dia que me levaram para um lugar chamado de lar, só vejo minha mãe e meu pai uma vez, de vez em quando! Eu quero ir prá casa e ficar lá todo dia!

Sei que às vezes sou levado, e que também fico meio doentinho, mas será que é por isso que não me deixam ir com eles? Ou eles não me querem mais? Só sei que naquele lar não quero mais ficar. Tem gente lá querendo ser meu pai, minha mãe, mas eu não quero isso! Já apanhei, fiquei machucado, e me bato muito porque sinto muito a falta dos meus pais. Nas vezes que me levam para um lugar chato, com gente chata que me perguntam coisas que não entendo, são os piores dias!

Sabe por quê? Porque eu peço as coisas para meus pais, choro, quero brincar com eles, passear com eles, mas tem uma mulher que não deixa! Minha mãe chora, meu pai chora, eu choro, eu pergunto: pai, mãe, porque vocês não me levam com vocês? Eu quero ir, não quero ficar aqui, não quero voltar para aquela casa! Aí essa mulher chata me segura, aí eu grito, grito muito, mas ela não me solta! Meus pais vão embora, e eu estou revoltado! E eles me levam de volta prá onde eu não quero ir… não é minha casa, não são meus pais… e ainda apanho!

Porque essa gente grande não entende que isso não é bom prá mim? Eu já falei para um tal de juiz que eu quero ir prá casa. Mas ele não diz nada, só pergunta, e nada! Só sei de uma coisa: enquanto não me deixarem ir, eu vou ficar ainda mais bravo, vou bater, vou gritar, vou pular até que me deixem ir prá casa, é lá que eu gosto! Tô com saudades da minha vó, da outra vó da outra cidade…

Agora, um dia quando eu crescer, vou descobrir porque estão fazendo isso comigo! Vou saber por que meus pais não me levam. Será que não me amam mais? Será que me trocaram? E quando eu sair desse lugar ruim, um dia eu vou fazer com eles o que eles fazem comigo hoje! Aí eles vão entender que eu só quero ir para casa, quero ir com meus pais…! Gente grande só sabe fazer coisa ruim prá gente… Eu quero é voltar prá casa…

 

  • Essa pequena crônica busca mostrar um pouco da tristeza, do desespero, da desgraça que é afastar filhos de pais com base em laudos pouco confiáveis produzidos para pronunciamentos de juízes de família. Feita com base em fatos reais, essa crônica busca iluminar um pouco o que acontece nas centenas de situações de famílias nos judiciários brasileiros. Este caso, espero, seja solucionado, resolvido, para que a paz e o amor voltem a quem mais precisa: filho, pais e avós.

Por Salvador Neto

Crônicas de pai

dias-dos-paisNo mês de maio, este que vivemos, e exatamente no dia 4 de maio, meu filho mais novo João Pedro completou 13 anos de vida. Já é um moço agora. Como a saudade sempre aperta, e só o tempo poderá remediar o que aconteceu, escrevi duas pequenas crônicas que reproduzo aqui no Blog. É um modo de gravar o meu amor, para que o tempo não apague alguma memória… Curtam

Parabéns em silêncio

Acordei e cantei parabéns prá você, em silêncio. Somente o canto dos pássaros me acompanhou, e senti que estava perto de você, te abraçando… Lembrei das festinhas, das guloseimas, dos amiguinhos. Ainda o silêncio.

De longe, te apertei contra o meu peito, te beijei no rosto, senti teu coração batendo forte. O meu também. E o silêncio. E a distância. Cantei de novo, parabéns prá você. E me despedi, te desejando hoje, no seu aniversário João Pedro, muita saúde, paz, e liberdade prá viver a sua vida.

E o silêncio, ah esse silêncio…. um dia vai se acabar, para o barulho do nosso amor voltar. Beijos meu filho, minhas orações e energias positivas estão sempre com você, te amo!

O tempo voa, o coração chora…

Dizem que o tempo cura as feridas, as coisas mal resolvidas. E que o tempo passa voando, e você por vezes nem vê a vida passar. Eu já vi sim o tempo voando, e vejo ele passando, mas me agarro nele para pensar e fazer o melhor que posso. Neste sábado, 4 de maio, meu filho João Pedro completa 13 anos.
Eu e ele sabemos que o amor entre nós é tão grande, tão grande que é maior que o universo… E que minha vida está eternamente ligada a dele, porque defendi sua vida, e o amo incondicionalmente. O coração chora, e só eu sei porque chora a ponto de inundar meus sentimentos de amargura, alegria, tristeza, felicidades, tudo junto, misturado, para mandar a ele tudo o que sinto. Tudo o que desejei, desejo e desejarei a esse menino mágico, carinhoso, amigo, companheiro, lindo que Deus me deu…
O tempo passa, e lá se vão 13 anos… mas eu não deixo de acreditar que o João Pedro é um bom menino, e será um grande homem! Parabéns meu filho, que Deus lhe acompanhe sempre, que você seja tudo o que quiser, porque mereces tudo de bom. Eu estarei sempre ao seu lado, muito perto, mandando todas as energias positivas… muita saúde, muita paz… te amo eternamente… bjos do pai…

Crônica de uma conversa com seu Aron

aronMistérios da vida. Um dia escrevi sobre pessoas e suas histórias. E por tantas delas, conheci outras. Uma mais interessante que a outra. Cada uma me ensinando um pouco sobre a vida.

Uma dessas pessoas é Aron Slutzky. Aos 85 anos, poliglota, descendentes de russos e alemães, nos conhecemos por indicação do falecido ex-vereador Elmar Zimmermman, ao qual também tive a honra e o prazer de entrevistar.

Do nosso primeiro encontro, ficou uma amizade esplêndida. Vez ou outra ele me chama para um bate-papo cheio de história e vida. Para indicar livros, ou somente saber o que ando inventando.

Nesta sexta-feira esse pequeno imenso senhor me recebeu e me presenteou com um livro de Mary del Priore sobre o episódio histórico que envolveu Dilermando de Assis e Euclides da Cunha – Matar para não morrer. Adorei! Já tenho outro dela e que ganhei da minha Gi Rabello, coincidentemente esta semana pelo meu aniversário. Mistérios?

Aron é uma enciclopédia. Um homem do mundo sem sair de casa, ao lado do rio Morro Alto. Acompanhando mais um passo da história nas obras que prometem acabar com as enchentes que o incomodaram anos a fio.

Ganhei mais alguns anos, cerca de 60 anos, de conhecimento nesta manhã. Sou grato ao Criador por me dar tanto, e tantos amigos especiais como seu Aron. Hoje ganhei meu dia. E já tenho mais indicações de livros para ler e aprender mais sobre a nossa humanidade. Obrigado Aron!

10a. Feira do Livro de Joinville (SC) abre espaço para a produção cultural

Boa notícia para escritores, artistas e produtores culturais interessados em participar da 10ª Feira do Livro de Joinville. A organização do evento, que ocorre de 3 a 14 de abril no complexo do Centreventos Cau Hansen, está recebendo propostas para lançamento de livros, de performances e atividades em geral que possam agregar à programação nos espaços previstos para a feira.

Conforme Sueli Brandão, do Instituto Joinville de Cultura e Educação, a ideia é dar oportunidade para os criativos da região em todas as manifestações e gêneros, contribuindo desta forma para o brilhantismo do evento. Propostas devem ser enviadas para o e-mail feiradolivro@institutofeiradolivro.com.br até o dia 1º de março, para serem avaliadas e, se identificando com o perfil do evento, incluídas na programação geral conforme disponibilidade de data, horário e espaço.

A organização informa que não haverá pagamento de cachê ou qualquer ajuda de custo para os interessados. Informações pelos telefones (47) 3422-1133 e 9972-2204, com a presidente do Instituto e idealizadora da Feira do Livro Sueli Brandão. A Feira do Livro de Joinville é uma realização do Instituto da Cultura, Educação, Esporte e Turismo, com apoio do SESC, Prefeitura Municipal, Fundação Turística, Secretaria de Educação, Fundação Cultural, Associação Nacional de Livrarias, AN Escola, Univille e Proler.

“O bálsamo do labor da cigarra”, crônica do amigo Donald Malschitzky

Com a anuência do amigo, escritor, poeta e confrade das letras, Donald Malschitzky, reproduzo aqui uma de suas crônicas, que publica em jornais de Joinville e de São Bento do Sul, falando de incompreensões, etc…. Sempre eloquente, Donald sempre nos passa toda a crueza da vida em linhas suaves…. Confiram abaixo:

Escrever tem dessas coisas. Mencionei a posição dúbia do papa para com o ecumenismo; leitora escreveu-me que se o papa não aprovava “esse tal de ecumenismo”, coisa boa não era! Obviamente, não tinha a menor noção de seu significado, que vem de “aldeia”, um lugar onde as pessoas convivem e se aceitam sem se acharem superiores às outras. Da outra, disse que o “workalcolic” tinha uma doença que deveria ser tratada. Antes de fazê-lo, pesquisei no são Google e em livros e indaguei especialista. A reação não foi das melhores!

Em “Fogo Pálido”, Vladimir Nabokov (para ajudar: autor de “Lolita”) escreveu: “La Fontaine errou: morta a mandíbula, a canção perdura”. Não foi La Fontaine o autor da fábula, foi Esopo, mas o francês a colocou num poema que todo mundo que um dia estudou a língua teve de aprender. Bilac inventou outra fábula, enaltecendo a canção, e Khalil Gibran chamou de limitado o pensamento que coloca o labor da formiga acima da música da cigarra. Nabokov foi perfeito: a mandíbula um dia para; a canção é perene. Não só a canção: a arte.

Quem montou o primeiro tanque de guerra? E quem compôs a Nona Sinfonia? Quantos sabem a resposta para a primeira pergunta? E para a segunda? Em uma religião, o que vem antes, o templo ou a palavra? Quando os bens acumulados se vão, o assobio não fica guardado e um dia se manifesta e faz carinho no coração? Se, da contemplação da beleza, aparente ou oculta, não nascessem quadros, esculturas, poemas, acordes, seríamos mais ou menos felizes?

O conceito de que fazer arte não é trabalhar tem várias origens, todas elas burras; quem faz arte, normalmente, tem outra visão das coisas, não gosta de caretice, não vê sentido em regras sem sentido e por aí vai, mas trabalha, e muito. Ou pintar a Capela Sistina foi um descanso para Michelangelo? E como podemos classificar o esforço de Beethoven, surdo, mandando cortar as pernas do piano para, pela vibração no solo, melhor identificar as notas? E o escritor que passa dez horas por dia escrevendo e mais um tempo pesquisando? Quantos anos de duro aprendizado precisa a bailarina e, depois, quantas horas de ensaio para minutos de aplausos? Cigarras, sim, que trabalham para que o suor seja mais agradável. E gostam do que fazem. Talvez esteja aí a razão do preconceito”.

Perfil: Raulino Rosskamp – “Do seu aperto de mão, ninguém esquece”

Raulino Rosskamp se notabilizou pelo aperto de mão - Foto de Rogério da Silva/ND

Ele não nega um aperto de mão a qualquer pessoa que cruze o seu caminho, e isso desde que se conhece por gente. Bisneto de imigrantes alemães, Raulino Rosskamp, 72 anos, tem como lema que “cumprimento não se nega a ninguém. E o aperto de mão passa energia, principalmente olhando no olho da pessoa”, afirma ele. O hábito o fez ser conhecido também pelo apelido de “mãozinha”, principalmente por sua atividade na política. Raulino foi vereador por quatro mandatos (1962/1969/1976/1982), e deputado estadual (1986). Incansável, trabalhou também no Banco do Brasil onde se aposentou, e foi professor de faculdades e de cursinhos preparatórios para concursos.

Até completar 25 anos Raulino já era funcionário concursado do Banco do Brasil, tinha sido eleito vereador pela primeira vez, se formado em economia e já lecionava. Depois ainda buscou a formação em direito. “Era solteiro, e enquanto os outros só trabalhavam em um lugar, ou faziam outras atividades, eu estudava e buscava fazer mais”, explica. A política já vinha do pai, que era do PRP – Partido de Representação Popular – e ele acabou gostando e participando do meio. “Filiei-me em 1958. Naquele tempo fazer partido era diferente. Tínhamos debates, saíamos em mutirões para limpar ruas, ajudar na comunidade nas horas de folga, sábados e domingos. Hoje é muito diferente”, diz com ar crítico o veterano da política.

Junto da política, Raulino Rosskamp já fazia nome como professor de cursinhos para concursos, e também para o antigo segundo grau. Começou a preparar as pessoas nas casas, depois alugavam salas. Assim o “professor Raulino” estima ter lecionado para pelo menos 50 mil pessoas entre 1959 e 2000, quando encerrou atividades. “Tive 72 professores, e devemos ter aprovado mais ou menos três mil candidatos”, fala com orgulho. Seu lema no cursinho era “nunca aluno fica sem aula, e nunca aula começa atrasada”. Isso talvez explique a longevidade dos cursos preparatórios de Rosskamp. Muito organizado, ele mantém tudo anotado, preserva fotos, documentos, carteiras de trabalho, entre outras raridades da sua trajetória.

Essa determinação e força de vontade ele credita ao espírito dos imigrantes. “Sou descendente deles, e eles sofreram muito aqui, com doenças, dificuldades. Depois a gente foi proibido de falar alemão, enfim, eu pensei: tenho de fazer valer isso, fazer mais”, conta. Na política levou o mesmo estilo organizado e dedicado. Mantinha tudo anotado e acompanhado em fichas, visitava comunidades. Eleito deputado estadual em 1986 pelo PMDB com quase 29 mil votos, perdeu a próxima eleição e não conseguiu mais novos mandatos. “Faltou assessoria de imprensa, foi meu erro. Trabalhei muito e não divulguei adequadamente”, ensina. Além do PRP, Rosskamp também foi filiado à ARENA e ao PDT.

Da sua atividade na Assembleia Legislativa, o homem da mãozinha lembra de ter aprovado o fundo para a manutençao da Acafe, os trabalhos como deputado constituinte, e o apoio a cerca de tres mil famílias que precisavam regularizar seus lotes que estavam em terras de marinha. “Chegaram até a me acusar de incentivador de ocupaçao de mangues, o que logicamente nao era verdade. O fato era ajudar quem lá estava, e precisava de energia, água, etc.”, recorda Raulino. Com tantas atividades, a família sofreu bastante com seu distanciamento por conta da vida pública. Ele rende homenagens à esposa Carmen, com quem é casado há 46 anos, e aos filhos Maurício, Sandra e Ana Carolina. “A Carmen foi muito importante, ajudou muito”, destaca.

Hoje Raulino dedica seu tempo a familia e Sociedade Cultural Alemã, com atividades diversas. Tem agenda com compromissos já para 2012, tudo anotadinho. Como ex-dirigente do Caxias e fundador do Jec, torce pelo sucesso do clube. Continua fã da escola integral implantada pelo líder do PDT, Leonel Brizola, que espera seja implantada de uma vez por todas. Da política atual, diz que a corrupção está muito fácil, profissionalizada com escritórios de consultorias até. Sem filiação partidária, vai continuar militando na politica como cidadão livre. E continua suas caminhadas cumprimentando a todos que encontra nas ruas. “Agora não tem mais voto nos dedos”, brinca.

* Perfil publicado há um ano, aproximadamente, no jornal Notícias do Dia de Joinville (SC).