Previdência: quase 70% dos domésticos não têm carteira assinada

A comissão especial terá nova reunião na próxima quarta-feira (26).O diretor de Regime Geral da Previdência Social (RGPS), Rogério Nagamine Costanzi, apresentou nesta quarta-feira, na Câmara, dados que mostram que o País tem 7,2 milhões de trabalhadores domésticos, 93% são mulheres e a maioria trabalha sem carteira assinada. “Temos 5,2 milhões desses trabalhadores na informalidade, desses 3,6% ganham menos de um salário mínimo por mês”.

Os números foram apresentados durante audiência pública da comissão especial, criada para discutir e dar parecer à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 478/10, que iguala os direitos dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores.

A presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Rosângela Nassy, destacou ainda que atualmente as principais irregularidades na relação entre os empregados domésticos e os patrões são jornada de trabalho excessiva, descontos indevidos nos salários, além da falta de carteira assinada. “Não temos a menor dúvida de que é chegado o momento de acabar com o parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal, para que possamos igualar esses direitos” assinalou.

Já diretora do CFêmea, Natália Mori Cruz, afirmou que as empregadas domésticas trabalham em média 54 horas semanais, quando a Constituição Federal estabelece o limite máximo de 44. “A Constituição Federal, tida como uma constituição cidadã, permitiu essa desigualdade de direitos. Só essa categoria ficou isenta de uma série de direitos trabalhistas. O que justifica uma categoria não ter uma jornada de trabalho estabelecida?”, questionou.

Rosângela Nassy acrescentou que somente com a aprovação da PEC o Brasil cumprirá efetivamente a Convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da proteção dos direitos humanos e dos princípios e direitos fundamentais do trabalho.

Fonte de custeio
O diretor do RGPS afirmou, no entanto, que, com a aprovação da proposta, o Ministério da Previdência Social vai incorporar no roll dos direitos dos trabalhadores domésticos o salário-família e o seguro-acidente de trabalho, e que é preciso estabelecer a fonte de custeio. “Isso tem que ser estabelecido em lei, e recairia possivelmente sobre o empregador”, destacou.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), relatora da PEC, disse que será necessário ampliar o debate sobre o tema antes de apresentar o relatório. “Ainda temos que ouvir alguns ministros responsáveis pelas áreas ligadas a esse assunto. Todo mundo fala que quer a igualdade de direitos, mas a principal dificuldade é saber quem vai custeá-los. É importante que a gente faça outras audiências públicas. O relatório não pode ser apenas uma letra morta, que seja levado ao arquivo”.

A relatora disse que é importante retirar da Constituição Federal o parágrafo único do art. 7º, mas, ao mesmo tempo, é necessária a aprovação de projetos de lei que regulamentem o exercício dos direitos que serão garantidos os trabalhadores domésticos.

Um novo encontro da comissão especial está marcado para a próxima quarta-feira (26).

Da Agência Câmara

Rendimento de trabalhadores sem carteira cresce mais do que de formais

O crescimento do rendimento médio real do trabalhador que não tem carteira assinada foi bastante superior ao avanço dos rendimentos dos empregados que são oficialmente registrados, mostram dados divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os empregados com carteira, no setor privado, receberam, em média, R$ 1.480,30 em julho, o que representa avanço de 1,3% na comparação com junho, e de 2,5% ante o mesmo mês do ano passado. Já aqueles que não têm carteira assinada receberam, em média, R$ 1.272,30 em julho, e viram seus rendimentos crescerem, 6,9% em relação ao mês anterior, e 12,2% em relação a julho de 2010.

No total do país, o rendimento médio real dos trabalhadores brasileiros alcançou R$ 1.612,90, o que representa avanço de 2,2% frente aos R$ 1.577,89 registrados em junho. Já na comparação anual, a alta de 4%, porque em julho de 2010 a média salarial do país havia ficado em R$ 1.550,26.

Os dados do IBGE mostram que a pressão do custo da mão de obra sobre o setor de serviços prestados a empresas é o maior entre os pesquisados, tendo registrado crescimento de 7,1% em julho sobre junho, chegando à média de R$ 2.072,30, embora na comparação com igual mês do ano passado o valor seja somente 0,3% superior.

Outro setor de destaque é o da construção, cujos salários ficaram 2,3% maiores na passagem de junho para julho, ao alcançarem média de R$ 1.357,20. Na comparação anual, a alta foi de 3,1%.

Em 12 meses, o setor que registrou maior alta média de salários foi o do comércio, com 6,1%, embora em julho, em relação a junho, a alta tenha sido de 0,9%.

Na indústria, os salários registraram alta de 0,5% em relação a junho, e 4,6% na comparação com julho de 2010.

Do Valor Econômico