Feira do Livro de Joinville (SC) é contemplada em edital nacional

A importância da Feira do Livro para a agenda cultural de Joinville já era reconhecida, mas a 12ª edição, simbolicamente, marca um importante capítulo do evento no calendário nacional.

Entre as dezenas de propostas apresentadas no Edital de Apoio ao Circuito Nacional de Feiras de Livros e Eventos Literários, lançado pela Fundação Biblioteca Nacional em 2014, a Feira do Livro de Joinville ficou em oitavo lugar e garantiu um repasse direto de aproximadamente R$ 150 mil.

Para a curadora Maria Antonieta Cunha, é um resultado que deve ser muito comemorado. Segundo ela, o edital, reformulado nessa última edição, é rigoroso em sua proposta: colaborar com eventos que tenham o incentivo à leitura como eixo fundamental.

“Ele é muito concorrido, mas estamos muito seguros em nossa proposta e por isso ficamos à frente de outras feiras e evento que até tem mais poder de fogo”, avalia.

O Edital de Apoio ao Circuito Nacional de Feiras de Livros e Eventos Literários integra o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), do Ministério da Cultura. Entre os eixos apontados como primordiais para a participação no edital está o fomento da circulação, a distribuição e o consumo de livros e outros materiais de leitura nos municípios brasileiros, a contribuição com a sustentabilidade de pequenas e médias editoras e livrarias e o estímulo à formação do leitor e novas práticas de leitura.

A Feira do Livro de Joinville foi a única proposta catarinense aprovada pela Fundação Biblioteca Nacional. Segundo Maria Antonieta, mais de 400 projetos foram inscritos, com 60 habilitados para a segunda fase – destes, o evento joinvilense teve uma das dez melhores pontuações, nota suficiente para garantir o repasse. “Isso mostra que Joinville tem uma feira que verdadeiramente propõe a literatura e suas variadas formas.”

Para a curadora, os convidados são peças importantes no diferencial da Feira de Joinville. “Nossos palestrantes têm trabalhos reflexivos sobre o prazer da leitura, mas sabem falar com o público de maneira abrangente, não apenas com seus pares”, diz.

O resultado, conclui, é uma programação interessante a todos os tipos de público. “Nós temos uma característica difícil de achar: qualquer pessoa que venha a Feira de Joinville vai encontrar algo que goste.”

Sobre a Feira do Livro
A 12ª Feira do Livro de Joinville ocorre de 10 a 19 de abril no Centreventos Cau Hansen (Teatro Juarez Machado e Expocentro Edmundo Doubrawa).

A visitação à feira e participação em todas as atividades é gratuita, de segunda a sábado das 9 às 21 horas e nos domingos das 10 às 20h. Para os espetáculos e palestras há necessidade de retirada de ingressos na secretaria do evento.

Confira a programação completa em www.feiradolivrojoinville.com.br. Informações pelo telefone (47) 3422-1133 ou pelo e-mail agendamento@institutofeiradolivro.com.br.

A  Feira do Livro de Joinville é uma realização do Instituto da Cultura e Educação e Ministério da Cultura (Lei de Incentivo à Cultura), correalização Serviço Social do Comércio (SESC), patrocínio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultural (Simdec), Fundação Cultural de Joinville, Prefeitura de Joinville, e apoio Döhler, Tigre Tubos e Conexões, Instituto Carlos Roberto Hansen, B&L (Buschele & Lepper) Ciser Parafusos, Selbetti, Sicred, Honda Gabivel, Grupo RBS e Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho.

A literatura e o mundo perdem Eduardo Galeano

O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano morreu hoje (13) aos 74 anos, informaram os diários uruguaios El País e Subrayado. Galeano é considerado um dos maiores autores da literatura latino-americana.

Ele estava internado em um hospital em Montevidéu e morreu devido a complicações de um câncer de pulmão, que já havia sido tratado em 2007. Entre suas obras mais famosas estão As Veias Abertas da América LatinaMemórias do FogoOs Dias SeguintesCrônicas Latino-Americanas.

Em suas obras, ele misturou os gêneros de ficção, jornalismo, análise política e histórica. Galeano nasceu em 3 de setembro de 1940 em Montevidéu e começou a escrever aos 14 anos no jornal El Sol. Em 1958, passou também a escrever crônicas de arte. Nos anos 1960, trabalhou como editor do jornal semanal Marcha e no diário Época.

Após o golpe de estado em 1973, Galeano teve de deixar o Uruguai e foi viver na Argentina. Quando voltou ao seu país em 1985, ele fundou o semanário Brecha.

*Com informações da Telesur

Final de semana com muitas atrações na 12a. Feira do Livro de Joinville (SC), confira e participe!

O primeiro fim de semana da 12ª Feira do Livro de Joinville promete ser movimentado. As atrações, que começam na manhã de sábado e seguem até o fim do domingo, contemplam crianças, jovens e velhos leitores, em uma programação eclética que é a cara do evento.

Todas as atividades, que acontecem no Centreventos Cau Hansen, são gratuitas – entre os destaques, as presenças dos convidados Luiz Melo e Bia Bedran.

Nos dois dias, a Feira abre ao público às 9h. No sábado, Bia Bedran apresenta às 10h, no Teatro Juarez Machado, o pocket show “A Arte de Contar e Contar Histórias”, um passeio pelo folclore brasileiro com a companhia de autores ligados à arte, à educação e à música.

“Um evento como a Feira do Livro de Joinville consegue unir as pontas da costura entre os escritores e representantes da cultura da arte de narrar”, frisa a escritora, reconhecida nacionalmente por seu trabalho na contação de histórias.

Ainda no sábado, às 15h, no palco do Expocentro Edmundo Doubrawa haverá o lançamento dos livros “Cidade da Chuva”, de Humberto Soares, “Palavra Presa na Garganta”, de Marisa Toledo, ambos de Joinville, e de “O Canto do Guerreiro”, do pernambucano Fael.

Um dos convidados de honra da 12ª Feira do Livro, Luiz Melo sobe ao palco às 19h de sábado para a leitura dramática de “Navio Negreiro”, do poeta Castro Alves.

Um dos grandes nomes do teatro nacional, tendo trabalhado com o ícone Antunes Filho e responsável por aquela considerada a melhor interpretação de “Macbeth”, de Shakespeare, no Brasil, Luiz Melo tem ainda uma carreira de sucesso na TV, como na série “A Casa das Sete Mulheres”, e no cinema, como na versão de “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes.

Nas atividades de domingo, os escritores radicados em Joinville Bernadete Costa e José Klemann, além do jaraguaense Charles Zimermann, fazem uma sessão de autógrafos às 10h30, no Expocentro.

À tarde, destaque para a sessão de contação de histórias no palco, às 16h, o sarau com o artista local Ricardo Ledoux, às 17, e os lançamentos dos livros “Nossa Família Aumentou”, de Urda Klueger, e “A Cor do Sol”, de Luiz Carlos Amorim, a partir das 18h.

Programação do fim de semana

SÁBADO (11/4)

9h – Abertura

10h – Espetáculo “A Arte de Cantar e Contar Histórias – Bia Bedran (RJ) – Teatro Juarez Machado

10h – Projeto Confraria Literária – Fundação Mauricio Sirotsky Sobrinho – Auditório

11h – Apresentação da Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros – Palco

14h30 – Fórum do setor de Literatura, Livro e Leitura. (CMPC) – Teatro Juarez Machado

15h – Lançamento “Cidade da Chuva” – Humberto Soares – Palco

16h – Lançamento “Palavra presa na Garganta” – Marisa Toledo (Joinville) – Palco

17h30 – Sarau (SESC) “Show Via Láctea, com Silvio Mansani (Florianópolis) – Palco

19h – Leitura dramática “Navio Negreiro”, de Castro Alves – Luiz Melo (SP) – Palco

20h – Lançamento “O canto do guerreiro” – Fael (PE) – Palco

21h – Encerramento
DOMINGO (12/4)

9h – Abertura

10h – Contação de histórias (SESC) “O menino das Nuvens” – Grupo Gats (Jaraguá do Sul) – Palco

10h30 – Sessão de Autógrafos – Bernadéte Costa (Joinville)

11h Sessão de Autógrafos – Charles Zimermann (Jaraguá do Sul)

14h – Sessão de Autógrafos – José Klemann (Joinville)

15h – Espetáculo SESC – “Lá na Lua”, Grupo Dionisos Teatro (Joinville) – Palco

16h – Contação de Histórias – Biblioteca Rofl Colin – Auditório

17h – Música e Poesia (SESC) – “Poemas de Amor e Canções Urbanas” – Ricardo Ledoux (Joinville) – Palco

18h – Lançamento “Nossa família aumentou” – Urda Klueger (Blumenau) – Palco

18h30 – Lançamento “A Cor do Sol – Luiz Carlos Amorim (Florianópolis) – Palco

20h – Encerramento

A 12ª Feira do Livro de Joinville ocorre de 10 a 19 de abril no Centreventos Cau Hansen (Teatro Juarez Machado e Expocentro Edmundo Doubrawa). A visitação à feira e participação em todas as atividades é gratuita, de segunda a sábado das 9 às 21 horas e nos domingos das 10 às 20h.

Para os espetáculos e palestras há necessidade de retirada de ingressos na secretaria do evento. Confira a programação completa em www.feiradolivrojoinville.com.br. Informações pelo telefone (47) 3422-1133 ou pelo e-mail agendamento@institutofeiradolivro.com.br.

Homenagem a Ziraldo marca abertura da 12a. Feira do Livro de Joinville (SC) nesta sexta (10)

Pinto, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor. A história de Ziraldo começou a ser escrita nos anos 60, com o lançamento da primeira revista brasileira em quadrinhos feita por um só autor: “A Turma do Pererê”.

Durante a ditadura militar, fundou com outros humoristas “O Pasquim”, jornal que se tornou ícone do inconformismo reinante contra o regime de exceção imposto pelo militarismo.

Da sátira ao regime, Ziraldo derivou para outros campos, como os quadrinhos para adultos, especialmente com os personagens “The Supermãe” e “Mineirinho – o Comequieto”, ainda na lembrança de muitos leitores que na época formavam a legião de admiradores do desenhista.

Em 1969, Ziraldo publicou o seu primeiro livro infantil, “Flicts”, que conquistou fãs em todo o mundo. A partir de 1979 concentrou-se na produção de livros para crianças, e em 1980 lançou “O Menino Maluquinho”, um dos maiores fenômenos editoriais no Brasil de todos os tempos. O livro já foi adaptado com grande sucesso para teatro, quadrinhos, ópera infantil, videogame, Internet e cinema.

Os trabalhos de Ziraldo já foram traduzidos para diversos idiomas, como inglês, espanhol, alemão, francês, italiano e basco, e representam o talento e o humor brasileiros no mundo. Também ilustrou o primeiro livro infantil brasileiro com versão integral on-line, em uma iniciativa pioneira.

Nesta sexta-feira, 10 de abril, Ziraldo é homenageado pelo Instituto de Cultura e Educação, responsável pela realização da 12ª Feira do Livro de Joinville. Às 15h, participa no palco da feira do momento “Encontro com o escritor”, conversando com o público, e às 19h acompanha a solenidade oficial de abertura do evento.

A 12ª Feira do Livro prossegue até o dia 19. A visitação à área de expositores e venda de livros e a participação em todas as atividades é gratuita, de segunda a sábado das 9 às 21 horas e nos domingos das 10 às 20h – a programação completa pode ser conferida em www.feiradolivrojoinville.com.br.

Escolas, empresas e instituições interessadas em realizar visitas em grupos podem agendar pelo telefone (47) 3422-1133 ou pelo e-mail agendamento@institutofeiradolivro.com.br.

Crianças com deficiência visual têm acesso à clássicos da literatura infantil

Aos 8 anos, Luiz Eduardo já tem seu livro preferido, que leu sozinho: Robin Hood. Ele conta para a família, amigos e colegas de escola a história “de como o Robin se tornou um fora da lei”. Eduardo é cego, aprendeu a ler em braille há dois anos e agora tem acesso a clássicos da literatura infantil produzidos especialmente para crianças cegas ou com pouca visão.

Luiz Eduardo
Depois de ler Robin Hood, Luiz Eduardo pegou emprestado o livro João e Maria em uma biblioteca de Brasília que recebeu exemplares da coleçãoAntonio Cruz/ Agência Brasil

No Dia Internacional do Livro Infantil, lembrado hoje (2), a mãe de Eduardo, Janaina Chaves, comemora a autonomia do filho. “Ele mesmo pega o livro, interpreta, cria suas fantasias. Não precisa de ajuda de ninguém. Pelo contrário, conta a história para nós”. O livro faz parte da coleção Clássicos Acessíveis, produzida pela Fundação Dorina Nowill.

Depois de ler Robin Hood, Luiz Eduardo pegou emprestado o livro João e Maria em uma biblioteca de Brasília que recebeu exemplares da coleção. “Eu ouvia muitas histórias, que outras pessoas liam, mas gosto de ler sozinho. A professora pediu para todos lerem um livro na sala, e eu contei a história do Robin”. Ele cursa o 3º ano em uma escola regular do Distrito Federal.

Pai de uma menina de 6 anos, Edson Pereira é cego desde os 12. Para ele, compatilhar a leitura com a filha, que não é deficiente visual, é o mais importante. “É uma forma de compartilhar as mesmas histórias, os mesmos assuntos com as crianças que enxergam, que estão na sala comum. Eu, como pai cego, posso mostrar a história para minha filha. É um momento único.”

Coordenadora na Fundação Dorina Nowill, Regina Oliveira explica que o objetivo da coleção é fazer com as crianças cegas leiam com amigos e professores e com os pais. Lançados no final de março, os livros foram distribuídos gratuitamente em bibliotecas, escolas públicas e instituições que atuam com o público com deficiência visual em todo o Brasil.

“São dez títulos que todo mundo conhece, que lemos na infância, mas só agora adaptamos em formato acessível. Colocamos ilustrações em relevo e audiodescrição, em um CD, como as informações das cores, dos personagens”, afirmou Regina. Chapeuzinho VermelhoBranca de NeveA Bela AdormecidaCinderelaJoão e o Pé de FeijãoOs Três PorquinhosPeter Pan e Rapunzeltambém foram adaptados.

Ler com a família e amigos, na escola e em casa, é fundamental para a formação de jovens leitores, diz a escritora Alessandra Roscoe. Com 25 livros infantis publicados e mãe de  três filhos, ela acredita que uma relação prazerosa das crianças com a leitura é a principal forma de aproximar os pequenos dos livros.

“A criança tem que ter acesso, poder manusear. Tem de fazer do livro, às vezes, até um brinquedo. Isso cria na criança uma atitude amorosa com a leitura. Uma leitura partilhada, em voz alta, é fundamental, porque é um momento em que o pai está se dedicando ao filho, e a criança sente a importância do momento”, completa a escritora.

Da Ag. Brasil

Minha Crônica: A vida e a morte no meio do caminho

Salvador Neto descreve o encontro com vida e morte  em sua caminhada diária
Salvador Neto descreve o encontro com vida e morte em sua caminhada diária

O despertador toca. Hora de começar a rotina. Acordar, fazer a filha acordar, escola à vista. Após a pressãozinha natural para ela não perder a hora do transporte escolar, vou ao meu ritual. Coloco o café para passar, arrumo a mesa, bebo minha água. Calço o tênis, e junto com ela vou ao portão esperar. Um beijo e lá vai ela, arrumadinha para sua viagem até a escola. É a vida desabrochando. E lá vou eu para a caminhada matinal de todos os dias.

A chuva que caiu forte a noite deixou poças de água em calçadas mal feitas, algumas com areia e barro vermelho a escorrer pelo asfalto debilitado das ruas do meu bairro. Carros vão e vêm, homens, mulheres, crianças caminham aos seus destinos, na frenética corrida do homem para garantir o sustento da família e buscar seu lugar no mundo. Mães levam seus filhos às creches, a pé, de bicicleta. O ar ainda limpo refresca o dia, e o céu ainda clareia mais um dia.

De repente vem do outro lado da rua aquele corredor, fones de ouvido pendurado às orelhas, em minha direção. É o José Eduardo, que há poucos meses quase alcançava um recorde, mas no peso: 157 quilos. Sorridente como poucos, o negro mulato estaca à minha frente com um bom dia de contagiar o mais pessimista dos mortais. Corria à verdureira que tinha ficado para trás em meu trajeto.

Conversamos sobre a mudança de hábitos que lhe deu de volta a qualidade de vida perdida. Conta-me sobre as dores que ainda sente com os exercícios, e com uma festa em que se passou um pouquinho no final de semana. Despedimos-nos, e lá foi ele comprar saúde e depois trabalhar. Na empresa ele motivou mudanças comportamentais e organizacionais com a atitude corajosa de enfrentar a perda da vida que fazia, aos poucos, com má alimentação e o sedentarismo. Eduardo não só mudou a ele mesmo, como muda os demais à sua volta.

Sigo meu roteiro, desviando da água barrenta de um cruzamento, olhando o entra e sai de padarias, bares, postos de gasolina. A cidade acorda aos poucos, e eu a admirar o pulsar dela por todos os espaços. Transpiro, respiro, observando os jardins, os telhados, o mato nos terrenos, os moradores de rua a falar sabe-se lá o que no banco da praça. E vem igreja, e passo o trilho do trem que trouxe e levou riquezas, e ainda leva o progresso. Semáforos não funcionam, a tempestade deixou alguns fora do ar. Nada de guardas a controlar, e cada um ordena seu caminho, combinando marchas e contra marchas no transito da urbanidade.

De repente encontro ambulâncias, duas. Luzes nervosas que não param de piscar. Pessoas aglomeradas na esquina de uma das escolas mais conhecidas, onde estudei até terminar o então segundo grau. Hoje mudada, nem paredes, nem telhados, nada lembra ela daqueles tempos. Chego mais perto e lá está. Envolta em pano branco uma pessoa estava caída na rua, encostada à parede de uma loja. Pergunto o que houve. Diz uma moça: ataque cardíaco, fulminante. Funcionária da escola, ela ia para o trabalho, e a vida parou ali. Na esquina do tempo, do seu tempo. Naquele chão jazia um corpo de mulher.

Outras vidas à olhar aquela vida que não mais estava ali. Apenas um corpo, inerte, pronto para ser colocado em uma maca fria. Sabe-se lá quem a perdeu. Quem vai chorar por ela? Teria pais, teria filhos? Seria avó, tia? Quantos amigos e amigas teria? Qual a história dela, os sonhos, os devaneios. Quantos problemas superou, quantos enfrentou e venceu, ou perdeu? E várias vidas a olhar para quem não mais está ali. Somente um corpo, estendido e coberto. Pensei: será que a via todas as manhas nas caminhadas? Quem sabe não nos olhamos? Será que nos percebemos, dissemos bom dia um ao outro? Mistérios da passagem por aqui.

Retorno ao roteiro mandando bos energias e pensamentos a quem foi, e a quem fica, e repasso a vida de José Eduardo, a minha mesma, e a daquela mulher sob o pano branco, agora apenas matéria. Vi a plenitude da energia de Eduardo, e a cada passada que dava pelas ruas, neste dia, repaginei a minha vida, minha infância e de quantas vezes passei por este caminho. Quantas vidas conheci, quantas já perdi. E reflito sobre a nossa experiência rápida nesta terra, onde caminhamos sem saber até quando nosso roteiro continuará a ser escrito. E do que perdemos com muitas mesquinharias, diferenças, ganancias, revoltas, vinganças, distancias.

Chego em casa, tomo meu café, sigo a vida. Porque é caminhando que nos encontramos todos os dias na efemeridade da vida, o grande mistério da nossa existência.

Escrito por Salvador Neto, jornalista, cronista, editor do Blog Palavra Livre, autor dos livros Na Teia da Mídia e Gente Nossa, além de outros textos publicados na antologia Saganossa (2014) e miniantologias da Associação Confraria das Letras, da qual é diretor de comunicação atualmente.

Literatura: Associação da Confraria das Letras lança novo livro antologia em abril

Vem aí mais um livro-antologia da Associação Confraria das Letras. O primeiro foi o Saganossa, sucesso total de vendas e aceitação do público. Agora a diretoria da Associação Confraria das Letras está convidando a todos os associados e associadas a participar desta edição de 2015, que terá também um novo nome. Segundo o presidente David Gonçalves, a missão de valorizar a literatura não pode parar.

“Nós já conseguimos, com recursos próprios e apoios de alguns patrocinadores, realizar dois grandes encontros literários catarinenses com grandes nomes da literatura em 2013 e 2014. Produzimos um livro antologia, o Saganossa, com 22 autores com textos inéditos que vão da crônica à poesia, e mais sete mini antologias. Isso mostra que temos muitas letras para espalhar por aí ainda”, destaca David.

Para garantir que o processo de escolha dos textos dos associados seja técnico e transparente, a Associação definiu regras claras. Algumas delas são: 1. os associados precisam estar em dia com as contribuições mensais, inclusive as dos três primeiros meses/2015; 2. a antologia será composta nas categorias contos, crônicas e poesias; 3. os textos serão avaliados e revisados por uma comissão composta por quatro escritores. Passarão por análise e, poderão ser arrazoados, sempre tomando por base a busca de apresentarmos um nível de obras inéditas superior ao visto na última produção da Associação.

Mais detalhes das regras podem ser obtidas na página da Associação no Facebook em www.facebook.com/associacaoconfrariadasletras. A data limite para envio dos textos é 28 de fevereiro pelo email associaçãoconfrariadasletras@outlook.com, ou ainda david.goncalves@uol.com.br. “Agora é mãos às canetas, lápis e computadores”, avisa o Presidente. Para se associar basta fazer contato pelos mesmos meios de comunicação.

Novo título
David Gonçalves pede também a participação popular para a definição do nome desta edição do livro/antologia. “Queremos dar um nome inovador, alegre, que motive a leitura e promova o desejo pela obra. Por isso queremos que as pessoas sugiram nomes, que podem ser enviados para os emails que disponibilizamos, e também em nossa fanpages”, convida o Presidente da Associação. Depois do título definido, a arte da capa será outro desafio.

Literatura: Meu primeiro conto – “O reencontro de Natal”

Um conto envolvente, simples e encantador
Um conto envolvente, simples e encantador

Pressionado a escrever um conto ou uma crônica, ou poesia para a sétima mini antologia da Associação Confraria das Letras, o “Letras da Confraria” especial de Natal, ao final de 2014, resolvi arriscar a produzir um conto. Mais complexo que a crônica, que é uma linguagem mais fácil, livre, e leve, o conto exige mais do escritor, algo que ainda persigo.

Por isso publico aqui no Palavra Livre o meu primeiro conto, já que poucos tiveram a oportunidade de lê-lo, apreciando e criticando o conteúdo. É isso que desejo dos amigos leitores. Não o divido em partes para não perder a sequência da história de Fred, Joana, Jujuba e crianças que esperam seus presentes… Aí vai o “Reencontro de Natal”:

“Estavam os três ali, sacolejando ao balanço do caminhão, dentro de um caixote que não parava de pular na carroceria. Pudera, em ruas tão esburacadas como queijo suíço… Fred, um carrinho de madeira, Joana, uma boneca descabelada, e Jujuba, um velho pião com as cordas surradas de tanto rodar por aí, já estavam há dias naquele vai, não vai. Já usados, velhos de tanto brincarem com seus donos, não tinham mais esperanças de voltar às mãos de crianças brincalhonas, arteiras e felizes. Estavam ali entre tantos outros brinquedos abandonados.

É a vida, pensavam os velhos companheiros de tantas crianças! Conheceram várias delas por algumas gerações, doações, mas agora competiam com poderosos concorrentes internacionais que falam, voam, pulam, choram, andam em velocidade sem serem jogados pelas mãozinhas. O Natal estava à porta, e em meio às campanhas solidárias, lá se foram Fred, Joana e Jujuba para uma caixa entre tantas dispostas naquele shopping luxuoso. Sequer tiveram tempo de se despedir de seus donos! E o pior, até ali, ninguém os pegara para cuidar e brincar…

Joana era a mais sentida. Com seus belos olhos azuis, cabelos loiros, já um pouco ralos, sim é verdade, vestida com uns paninhos coloridos e sem sapatinhos, não aceitava a solidão. – Sou muito bela para estar aqui! Mereço uma bela cama com lençóis de seda!, reclamava. Fred, do alto da dureza do seu ser, madeira bruta, apesar de bem arrebentado por muitas corridas e carregamentos de barros e batidas (já não tinha mais a caçamba…), retrucava. – Ora, eu sim, um forte, parceiro para todas as durezas, preciso de quem me valorize, que goste de aventura! E Jujuba… ah, este não tinha ambições.

– Eu quero é girar logo por aí. Sei que perdi um pouco a graça, afinal tem uns novos colegas aí bem mais modernos, mas ainda tenho muito a rodopiar e dar show!, dizia. A verdade é que em meio a tantos outros brinquedos, uns mais quebrados, outros não, a rota do caminhão solidário de Natal dirigido pelo velho voluntário Sebastião estava chegando ao final. Tião, como era conhecido em tantos anos de corridas pelos bairros da cidade, já tinha os ralos cabelos brancos. Se na próxima parada sobrasse algum daqueles brinquedos, o jeito era deixar por aí, ou jogar no lixo. – Tenho pena, quando eu era criança nem tinha um desses para brincar, pensava enquanto dirigia-se ao ultimo ponto de parada.

Nas paradas anteriores a maioria da criançada tinha pegado os brinquedos mais novos, modernos, com menos uso. O que estava ali na carroceria do velho Mercedes cara chata talvez não agradasse aos meninos e meninas que o esperavam nos fundões do Paranaguamirim, bairro da periferia. Afinal, o que sobrara ali eram brinquedos antigos, bem velhinhos e uns tão usados e quebrados que… bom, era melhor não pensar nisso e seguir a missão. Junto com Tião ia João, vestido de vermelho como manda o figurino. Não via a hora de terminar o serviço que durava o dia todo.

Mas lá no Panágua, como o povão chama seu próprio lugar mais ao gosto da simplicidade, a gurizada esperava. Mães e pais também, na esperança de que os filhos ficassem felizes com a chegada do bom velhinho e seus brinquedos. Famílias pobres, lutavam todos os dias para por comida na mesa, e não sobrava para dar brinquedos novos e modernos como os de hoje, que dirá tablets, celulares. Então, aguardavam amontoadas no pátio da igreja, local de encontro daquele ano. Era uma festa. No meio do povo, vendedores ambulantes ofertavam algodão doce, pipoca, doces, também na busca dos últimos trocados para garantir as festas de final de ano.

De repente, lá na esquina surge o cara chata com o bom velhinho acenando! Alvoroço na comunidade. Era só criança correndo para ver quem chegava primeiro para abraçar o Noel, e ver o que podia ganhar. Tião dirige com todo o cuidado, porque nessas horas a multidão não tem controle. Ao parar o caminhão, João Noel desce e distribui balas e doces. Uma alegria só, e um empurra-empurra generalizado! Imagine o desejo infantil do brinquedo adorado, e o sonho de pais em ver seus filhos felizes. De repente o vozeirão avisa: – Atenção! Vamos organizar a fila gente! Era o padre Felício tentando organizar a desorganização de sempre.

O povo o respeitava muito, afinal ele era o homem de Deus na região, e também sabia das coisas. Cobrava das autoridades uma vida melhor para aquele povo. Magro, com seus óculos quadrados, pretos, mas com fala firme e olhar decidido, padre Felício liderava movimentos em favor de mais saúde, infraestrutura, e agora, ajeitava tudo para que não faltassem brinquedos para a criançada. O motorista Tião já sabia que, se faltasse brinquedo ali a bronca seria enorme! No roteiro de visitas pela cidade, cuidava para que nada faltasse até o final no encontro com o padre.

Se o alvoroço era grande lá fora, imagine naquela caixa. Entre os colegas brinquedos, Fred, Joana e Jujuba tentavam se ajeitar para serem notados, afinal, queriam voltar para a alegria das crianças, viver em animação nas ruas, animar histórias nas mãos infantis. E começou a entrega dos brinquedos. Uma a uma as crianças saiam com seus troféus, já a brincar com os coleguinhas. Quase ao final da fila estava José. Com seus dez anos, pequeno para a idade, olhos miúdos e castanhos, cabelos da mesma cor, ondulados, tinha chegado atrasado.

A tristeza já tomava o seu coração. Será que ainda sobraria brinquedos para ele seus irmãos? A cada metro que a fila avançava, mais sua respiração acelerava, parecia que o coração saltaria boca afora. Seu pai e sua mãe garantiam o sustento da casa com a pesca artesanal. Seu atraso se justificava: estava até a pouco cuidando dos manos pequenos. Quando os pais chegaram, ele correu até a igreja. Será que daria certo? Conseguiria ao menos um presente? E a fila andava… e não chegava a sua vez!

E João Noel não aguentava mais de entregar presente para a meninada agitada. Tião preparava o caminhão para ir embora ver a sua família. E o padre avisava a todos que daqui a pouco tinha a missa, não poderiam faltar! Deus não perdoa, dizia ele. Fred se batia ao lado de Jujuba, e aquele barulho de madeira batendo o deixava furioso! Joana, já quase perdendo o vestidinho, lamentava a sua má sorte: nenhuma criança a tinha escolhido! E agora! Será que ficariam sem dono, sem eira nem beira em pleno Natal?

Chegou a vez de José. Ansioso, olha nos olhos do Papai Noel como quem espera o prato de comida. Tião empurra a caixa que ainda tinha algo dentro. – É o que sobrou filho, diz ele a José. Um brilho nos olhos surgiu, e por trás dele, lágrimas de alegria, pois sobraram apenas três brinquedos! Era muita sorte! – Obrigado!, disse José já pegando nas mãos aqueles três brinquedos, exatamente o que precisava para que todos em casa ficassem contentes. Ao espiar cada um deles nos pacotes de presente meio rasgados, parece que via alegria também vinda daqueles brinquedos! Seria possível?

Correu para casa sem parar! O trecho da igreja até a sua pequena casa de madeira que beirava o rio parecia ter milhares de metros, não acabava mais! Os cabelos esvoaçavam ante os ventos do inicio da noite. Fred, Joana e Jujuba percebiam o chacoalhar, diferente dos pulos na carroceria do Mercedes de Tião. O que acontecia, imaginavam. José chegou finalmente. Seu pai e sua mãe o receberam enquanto limpavam seus peixes. A pequena Sara, a caçula, e Mateus, irmão do meio, pularam em sua frente. – O que nós ganhamos, o que veio, gritavam!

José então entregou a cada um o seu presente. Sara não sabia o que dizer da boneca loira que tinha nas mãos… era a mais linda que tinha ganhado, na verdade, inteira, era a única. Mateus pegou o pião nas mãos e saiu a atirar ele ao chão e ver rodar. Já tinha visto os amigos com alguns, mas agora tinha o dele. E José, enfim teve seu caminhão. Faltava a caçamba, mas isso dava para enjambrar. Saiu também a fazer vruummm, vruummm, pelo terreiro da casa. Depois do susto, era a realização de sonhos, sonhos natalinos dele, dos pais, da família. O reencontro da alegria que só o Natal faz.

E Fred, Joana e Jujuba? Bom, eles também se reencontraram com a alegria da brincadeira, dos inventos, e sentiram-se úteis e felizes. No dia seguinte, Fred já tinha sua caçamba feita de casca de ostra. Joana ganhou novo vestido feito pela mãe de Sara, todo florido! E Jujuba, ah, Jujuba agora roda mais forte que nunca! Ganhou uma nova corda reforçada e sai por aí rodando o mundo a partir do Panágua!

* Escrito por Salvador Neto em 8 de dezembro de 2014, especial para a sétima mini antologia Letras da Confraria da Associação Confraria das Letras.