O maior roubo de arte da história – Cinco curiosidades

A maioria das galerias e museus são conhecidos pela arte que lá têm. A National Gallery, em Londres, tem os “Girassóis” de Van Gogh. Já o quadro “A Noite Estrelada”, do mesmo artista, está no Museum of Modern Art em Nova Iorque, bem-acompanhado pelos relógios que derretem de Salvador Dali, das latas de sopa de Andy Warhol e do autorretrato de Frida Kahlo.

Já o Isabella Stewart Gardner Museum em Boston, contudo, é mais conhecido agora pelas obras de arte que não tem. Ou que, pelo menos, já não estão lá.

A 18 de março de 1990, o museu foi alvo do maior roubo de arte da história. Treze obras de arte, avaliadas em mais de 500 milhões de dólares (qualquer coisa como 466 milhões de euros) – incluindo três quadros de Rembrandt e outro de Vermeer – foram roubadas a meio da noite. Os dois seguranças ficaram no porão, amarrados com fita-cola. Um desses homens é Rick Abath, que deu apenas uma entrevista televisiva à CNN, em 2013. Faleceu em fevereiro passado, com 57 anos.

Este roubo está repleto de factos surpreendentes, bem como de reviravoltas inesperadas. Vamos então ver cinco coisas que tornam o Isabella Stewart Gardner Museum – e o seu famoso saque – tão interessante.

A mulher por detrás do edifício

Isabella Stewart Gardner, fundadora do museu a que dá nome, é uma personagem fascinante. Filha de um empresário de sucesso, e viúva de outros dois, Gardner foi uma filantropa e colecionadora de arte que construiu o museu para proteger a sua coleção.

Filantropa e uma das primeiras ativistas pelos direitos das mulheres, Isabella Stewart Gardner construiu um museu de entrada gratuita em Boston para albergar a sua coleção pessoal de arte (Cortesia do Isabella Stewart Gardner Museum, em Boston)

“Quando abriu o museu em 1903, indicou que deveria ser gratuito, para ser apreciado e frequentado por todas as pessoas em Boston”, explica à CNN Stephan Kurkjian, autor de “Master Thieves: The Boston Gangsters Who Pulled Off the World’s Great Art Heist” [“Mestres do Roubo: Os gangsters de Boston que fizeram o maior roubo de arte do mundo”, em tradução livre]. “O museu dela era, naquele tempo, a maior coleção de arte detida a nível individual na América”.

Gardner também tinha ligações às campanhas pelos direitos políticos das mulheres, nos primórdios desta luta. O museu mostra fotografias e cartas da amiga Julia Ward Howe, organizadora de duas sociedades sufragistas, bem como uma gravura de Ethel Smyth, compositora e amiga próxima da sufragista inglesa Emmeline Pankhurst.

Gardner conheceu Smyth através de um amigo comum, o pintor John Singer Sargent, que fez um retrato de Gardner gerador de muito burburinho, devido ao grande decote.

Gardner parecia gostar de estar envolvida em escândalos e mexericos: uma vez chegou a um espetáculo da Orquestra Sinfónica de Boston com um chapéu que tinha uma faixa onde estava estampado o nome da sua equipa favorita de basebol, os Red Sox. Já uma ilustração de janeiro de 1987 no Boston Globa mostrou-a, aparentemente, a passear leões do zoológico de Boston.

Ironicamente, quando a Mona Lisa foi roubada em 1911, Gardner disse aos guardas do seu museu que, se alguém tentasse roubá-los, deviam atirar a matar.

A arte que não foi levada

Estima-se que o saque tenha custado mais de 500 milhões de dólares. Contudo, os ladrões deixaram para trás o artefacto mais valioso: “A Violação da Europa”, de Titian, que Gardner trouxe de uma galeria de arte em Londres em 1986. Na altura, atingiu um valor recorde para uma pintura de um velho mestre.

“A Violação da Europa”, na Sala Titian do Isabella Stewart Gardner Museum em Boston. Deverá ser a obra de arte mais valiosa deste museu. Ainda assim, os ladrões deixaram-na para trás (Sean Dungan/ Cortesia do Isabella Stewart Gardner Museum, em Boston)


Estará a perguntar-se: para quê cometer o maior roubo de arte do mundo sem levar a obra mais valiosa no museu? Bem, o tamanho pode ter tido um papel importante. A maior obra de arte levada foi “Cristo na Tempestade no Mar da Galileia”, de Rembrandt, conhecida por ser a única paisagem marítima do artista, que mede cerca de 1,5 x 1,2 metros. “A Violação da Europa” é maior, com cerca de 1,8 x 2,1 metros.

O factor Napoleão

Em 2005, a investigação sobre as obras de arte roubadas apontou para a Córsega, ilha que pertence a França, no Mar Mediterrâneo. Dois franceses com alegadas ligações à máfia da Córsega, estavam a tentar vender dois quadros: um de Rembrandt, outro de Vermeer. O antigo agente especial do FBI Bob Wittman esteve envolvido numa armadilha montada pelas autoridades, tentando comprá-los. Contudo, a operação acabou por fracassar quando os homens foram detidos por venderem arte levada de um museu de arte moderna e contemporânea de Nice.

Medindo cerca de 1,5 x 1,2 metros, o quadro “Tempestade no Mar da Galileia” foi a maior obra levada no saque (John Wilcox/Boston Herald/Getty Images)

Porque estariam os mafiosos da Córsega interessados em roubar um museu de Boston? A resposta pode estar numa águia de bronze, conhecida como Eagle Finial, um ornamento com cerca de 25 centímetros roubado do topo de uma bandeira napoleónica neste saque.

“Foi uma escolha algo estranha para os ladrões”, afirma Kaye. “Mas acontece que a Córsega é a terra natal de Napoleão”. O imperador francês nasceu naquela ilha em 1769. E há agora um museu nacional na antiga casa de família.

“É uma teoria muito convincente”, diz Kelly Horan, editor do Boston Globe, “que um bando de gangsters da Córsega possa ter tentado roubar a sua bandeira e levado tudo o resto no processo”.

Um suspeito cheio de ‘rock and roll’

O dia 18 de março de 1990 não foi a primeira vez que uma obra de Rembrandt foi roubada de um museu de Boston. Em 1975, Myles Connor, um criminoso de profissão, conhecido por roubar arte, entrou no Museum of Fine Arts de Boston e saiu de lá com um quadro de Rembrandt enfiado no bolso do casaco. Foi o primeiro suspeito do FBI no caso de Gardner. Contudo, as paredes da prisão federal, onde foi preso por tráfico de droga, deram-lhe um álibi bastante forte.

O ladrão de arte Myles Connor foi, inicialmente, apontado como suspeito do roubo no museu de Gardner. As suspeitas foram descartadas quando os detetives souberam que já estava preso por tráfico de droga (George Rizer/Boston Globe/Getty Images)

Quando não estava a retirar famosas obras de arte dos seus respectivos lugares, Myles Connor era músico. Foi por essa via que conheceu Al Dotoli, que trabalhou com estrelas da música como Frank Sinatra ou Liza Minelli.

Em 1976, Connor foi preso à custa de outro roubo de arte levado a cabo no Maine. Na esperança de usar o seu Rembrandt roubado para conseguir uma sentença mais suave, precisou de recorrer a Dotoli – que estava em digressão com Dionne Warwick – para devolver a pintura às autoridades em seu nome.

Um ladrão invisível?

Uma das obras de arte roubadas, “Chez Tortoni” de Édouard Manet, foi levado da Sala Azul, no primeiro andar do museu. A pintura destaca-se por duas razões. A primeira é a moldura. Os ladrões deixaram quase todas as molduras para trás, chegando mesmo a cortar as pinturas pela parte da frente.

“Ao ponto de deixarem restos das pinturas para trás. Foi algo selvagem”, classifica Kelly Horan. “Para mim, é como cortar a garganta a alguém”.

Esta é a moldura, agora vazia, que recebia “Chez Tortoni” de Manet. Foi deixada numa cadeira do gabinete da segurança no piso térreo, o que intrigou os detetives (Ryan McBride/AFP/Getty Images)

A moldura da pintura “Chez Tortoni” foi deixada num lugar inesperado: não na sala de onde a pintura foi roubada, mas antes no gabinete da segurança no piso térreo. O que é ainda mais notável é que nenhum detetor de movimento foi acionado na Sala Azul. Uma vez que os ladrões não podiam ser fantasmas, os detetives questionaram-se se tal não indicaria tratar-se de um trabalho de alguém que pertencia ao próprio museu.

“No FBI descobrimos que cerca de 89% dos assaltos em museus institucionais são trabalhos internos”, diz Bob Wittman. “É assim que estas coisas são roubadas”.

* com informações da CNN Portugal

Poesia – Solitude”

Do primeiro passo, lembrei
Na queda que sobreveio, chorei
Pois, depois, aprendi o equilíbrio
Descobri pra quê, o livre arbítrio

Por entre trilhas, chão batido, asfalto
Lapidei meu espírito livre, e alado
Às sombras, nevoeiros, ventanias
Bebi coragem e mordi sabedorias

Não busquei louros, ouros ou tesouro
A simplicidade me fascina, nascedouro
Daquilo que sonhei e senti, biografia
Porque o caminho, amigo, logo estreita

A jornada há de ser sempre bravura
Não existe espaço, tempo, parada
A vida é confusa, matreira, multidão
Onde o que nos faz fortes, é a solidão

* Por SN, Portugal, julho de 2024

#poema #poesiadodia #literatura #vida #solidão #escritos

10 filmes clássicos sobre o Dia D que deves assistir

A invasão aliada da Normandia em 6 de junho de 1944, conhecida como Dia D, foi um momento extremamente significativo na história da Segunda Guerra Mundial e o Cinema presta-lhe a sua homenagem.

O Dia D chamou a atenção de vários cineastas ao longo dos anos. Eis dez dos melhores filmes sobre o desembarque na Normandia, cada um sugerindo o lugar de destaque da invasão na memória internacional.

1. The True Glory (1945)

Todas as nações envolvidas na Segunda Guerra Mundial produziram propaganda. True Glory é um exemplo notável da abordagem adotada pelos aliados ocidentais.

Um empreendimento anglo-americano combinado (muito parecido com o próprio Dia D), o filme – que foi lançado logo após o fim da guerra – é apresentado pelo General Eisenhower e foi o vencedor do Óscar de melhor documentário em 1945. Começa com os desembarques do Dia D na Normandia e segue depois a marcha do exército aliado pela Europa.

2. Breakthrough (1950)

O filme de guerra emergiu como um género popular na Hollywood do pós-guerra, com vários filmes notáveis ​​produzidos no final dos anos 1940 e início dos anos 1950. The True Glory é um exemplo. Segue um oficial de infantaria recém-formado, o tenente Joe Mallory (interpretado por John Agar), enquanto lidera um pelotão experiente da 1ª Divisão de Infantaria, unidade americana que desempenhou um papel central nos desembarques do Dia D na Praia de Omaha.

3. D-Day: The Sixth of June (1956)

Este filme colocou o Dia D no seu próprio título. Baseado num livro do escritor canadiano Lionel Shapiro, no centro está um triângulo amoroso a envolver um oficial britânico (o tenente-coronel Wynter, interpretado por Richard Todd), um oficial norte-americano (capitão Brad Parker, interpretado por Robert Taylor) e um membro do Serviço Territorial Auxiliar (Valerie Russell, interpretada por Dana Wynter).

O norte-americano e o britânico são membros da Força Especial Seis, unidade fictícia anglo-americana com um papel fundamental nos desembarques na Normandia. Mas competem igualmente pelo coração de Russell. O sucesso do Dia D estará comprometido pelo ciúme ou pela desconfiança?

4. The Longest Day (1962)

Até ao lançamento em 1998 de O Resgate do Soldado Ryan, O Dia Mais Longo foi por muitos anos o filme do Dia D. Baseado num livro de Cornelius Ryan e apresentando quem é quem das celebridades do cinema contemporâneo (incluindo Richard Burton, Robert Mitchum, Sean Connery e John Wayne), o enredo do filme – que se concentra especificamente no próprio 6 de junho – é quase tão vasto quanto a operação original do dia D.

Observe-se particularmente Richard Todd, aqui no seu segundo filme sobre o Dia D. Todd era um veterano do Dia D da vida real, que saltou de paraquedas na Normandia em 6 de junho. Interpreta o Major John Howard, que liderou o famoso ataque de planadores britânicos às pontes sobre o Canal de Caen e o Rio Orne.

5. Overlord (1975)

Tomando o nome da designação militar oficial para a Batalha da Normandia, Operação Overlord, este é um filme bastante incomum e enigmático. Dirigido por Stuart Cooper, segue o jovem Tom (Brian Stirner) desde a vida civil até ao Dia D. Não se trata, porém, de uma celebração de heroísmo marcial; é, antes, uma história triste e sombria que persiste na perda.

6. Big Red One (1980)

Baseando-se nas experiências reais de guerra do seu realizador, Samuel Fuller, o filme centra-se na mesma formação de Breakthrough – a 1ª Divisão de Infantaria (cuja insígnia é “grande e vermelha”).

Segue-se um veterano grisalho interpretado por Lee Marvin enquanto lidera o seu esquadrão de soldados do Norte da África, à Sicília, à Normandia e à Alemanha. Entre eles está um jovem soldado interpretado por Mark Hamill, então no auge de sua fama em Star Wars.

7. Saving Private Ryan (1998)

Talvez o filme do Dia D mais conhecido da era moderna, esta produção de Stephen Spielberg é protagonizado por Tom Hanks como um Ranger do Exército dos EUA numa missão especial. Deve resgatar um paraquedista, o soldado Ryan (Matt Damon), que recebeu uma guia de regresso a casa do alto escalão do exército após a morte em combate dos seus três irmãos.

Comemorado no seu lançamento pela violência visceral das suas cenas de abertura, o filme venceu o Óscar de melhor realizador para Spielberg.

8. Ike: Countdown to D-Day (2004)

A figura do General Eisenhower apareceu em vários filmes do Dia D. Como comandante-geral da operação, era Eisenhower – ou Ike, como era conhecido – quem tinha a responsabilidade final de decidir quando começaria o ataque à Normandia.

As discussões que rodearam esta decisão aparecem com destaque em The Longest Day, mas este filme norte-americano feito para televisão coloca o fardo de Ike no seu centro.

9. Les Femmes De L’Ombre

Os filmes do Dia D tendem a ser centrados nos homens, dando relativamente pouco espaço às contribuições feitas para o sucesso dos desembarques das mulheres.

Este filme francês inverte esta situação e centra-se no papel inestimável desempenhado no esforço de guerra aliado pelas mulheres que serviram no Executivo de Operações Especiais, unidade secreta de espionagem e sabotagem. Segue cinco agentes femininas enquanto ajudam a preparar o terreno na Normandia para o Dia D.

10. The Great Escaper (2023)

Protagonizado Michael Caine no seu último papel no cinema, esta produção é baseada na história real do veterano da Marinha Real Bernard Jordan, que saiu da sua casa de repouso em junho de 2014 para participar das comemorações do 70.º aniversário do Dia D na Normandia.

Curiosamente, outro filme lançado no mesmo ano e interpretado por Pierce Brosnan, The Last Rifleman, também foi inspirado na grande fuga de ‘Bernie’.

Fonte: Impala

A carta de Kafka

A missiva do escritor Franz Kafka, escrita em 1920, está dirigida a um amigo que lhe pediu para que este contribuísse para a sua revista. Na altura, Kafka encontrava-se a ser submetido aos tratamentos de tuberculose.

Uma carta escrita por Franz Kafka vai ser leiloada pela Sotheby’s e é esperado que seja pago um valor entre os 81 mil dólares e os 115 mil dólares (entre 82 mil euros e 106 mil euros). O leilão vai decorrer de 26 de junho a 10 de julho

A correspondência data de 1920, quando o escritor estava a receber tratamentos para a tuberculose, doença diagnosticada três anos antes.

“Não escrevo nada há três anos, e o que está publicado são coisas antigas. Não tenho mais trabalhos, nem mesmo começados”, lamentou o escritor numa carta dirigida a Albert Ehrenstein, poeta austríaco e amigo de Kafka.

Segundo um comunicado publicado pela leiloeira na segunda-feira, a carta em questão foi em resposta ao amigo, que o questionou sobre se ele queria contribuir para a sua revista.

Explicando que estava a passar por um bloqueio, Kafka escreveu: “Quando as preocupações penetram numa certa camada da existência interior, é óbvio que a escrita e as queixas cessam, de facto a minha resistência não era muito forte”.

O convite do amigo para publicar na sua revista foi feito depois de Ehrenstein ver um trabalho publicado de Kafka, provavelmente, segundo a nota, um conto que tinha sido escrito antes

“A vida e trabalho de Franz Kafka dão, desde há muito, uma fonte de fascínio por todo o mundo”, explicou um dos especialistas da leiloeira, Gabriel Heaton.

Heaton deu ainda conta de que a carta em questão mostrava a “exigência que a escrita tinha sobre ele” e quanta força interior era necessária por parte do escritor, face às suas inseguranças. “Podemos estar gratos por Kafka continuar a pegar na caneta apesar do seu bloqueio”.

Na altura em que foi escrita, Kafka também tinha começado uma relação com a escritora Milena Jesenská, que o apoiou e fez com que este começasse a escrever ‘O Artista da Fome’ e ‘ O Castelo’, obras publicadas já depois da morte de Kafka – apesar do seu pedido para que nada fosse publicado depois de morrer

Aldeias de Angola: A longa caminhada da aprendizagem

Doroteia e Isabel seguem lado a lado pela estrada poeirenta e esburacada. Vão demorar mais de duas horas para chegar até à escola mais próxima da sua aldeia, Kawewe, no Bié, no coração de Angola.

Como elas, milhares de alunos angolanos de zonas rurais andam dezenas de quilómetros para ter acesso ao ensino devido à falta de transportes.Muitos cedem ao cansaço e à dureza das caminhadas e abandonam a escola logo nos primeiros anos. Outros prosseguem, mas com baixos níveis de aprendizagem e aproveitamento.

“O setor da educação aqui tem desafios significativos”, desabafa José Edgar, administrador comunal da Chicala, uma das comunas desta província angolana que ocupa uma área equivalente a 80% da superfície de Portugal Continental.

Estamos a 52 quilómetros do Cuíto, capital do Bié, uma vasta extensão de planalto onde a população se dedica sobretudo à agricultura familiar e onde o mau estado da estrada implica perder quase duas horas de carro para chegar.

Nesta comuna, os 18 mil habitantes estão distribuídos por 57 aldeias, todas distantes entre si, sem transportes públicos, sem água, sem eletricidade, sem rede de telemóvel nem Internet, e com um número elevado de jovens em idade escolar.

Com o processo de aglutinação das escolas, por falta de salas de aula, e insuficiência de professores, muitas crianças das aldeias circundantes passaram a ter de se deslocar à Chicala para ir às aulas, para descontentamento dos pais, que, muitas vezes, acabam por preferir manter os filhos consigo nas lavras.

“Os pais veem os filhos a sacrificarem-se, têm baixo aproveitamento, apresentaram-nos essa preocupação”, diz o responsável da comuna que conta com dois centros escolares — um secundário e um primário — para atender uma população estudantil de 350 alunos.

Os quatro professores chegam a ter 80 alunos por turma no início do ano letivo, mas muitos vão ficando pelo caminho. Dos mais de 1.800 alunos matriculados no ano letivo de 2023/2024, cerca de 30% deixaram de ir às aulas. É meio da manhã e ouve-se a partir da janela a toada infantil do bê-a-bá recitado pelos alunos da 2.ª classe.

Os materiais pedagógicos são escassos ou inexistentes e os estudantes, mal alimentados, revelam pouca capacidade de concentração. Quem está a dar a aula de português é Frederico Chipessola, que, pacientemente, vai ensinado o alfabeto.

Pede a uma das crianças para ir fazer a leitura no quadro, mas o rapazinho recusa. “Tenho fome”, justifica, tristonho. As crianças acordam cedo e muitos fazem a longa caminhada de barriga vazia.

Um sacrifício que se estende também aos professores, como Alberto Tiago, de 30 anos, que leciona a 3.ª classe e vai e vem de mota, diariamente, do Cuíto para dar aulas na Chicala.

“Saio às 04:30”, diz, acrescentando que por vezes pernoita na casa dos professores disponível na comuna. O seu aluno Manuel Gueve, de 12 anos, acorda quase à mesma hora para chegar à escola, a pé, a partir da aldeia de Candondo.

Os pais e os irmãos trabalham na lavra e, apesar dos cerca de 20 quilómetros que percorre, Manuel diz que quer continuar a vir às aulas “para aprender”, apesar do cansaço.

Prosseguimos pela tormentosa estrada cavada de sulcos abertos pelas chuvas, cruzando-nos com alguns — poucos — “kaleluias”, as motas de três rodas que servem como principal meio de transportes desta população rural e pobre.

 Por aqui anda-se sobretudo a pé, homens, crianças e mulheres que carregam os filhos nas costas e as bacias à cabeça, postais africanos onde as privações se escondem atrás de sorrisos.

A paisagem, ora descampada, ora povoada por pequenos núcleos de casas de adobe com telhados de colmo ou de chapa presa com pedras, sucede-se por mais uma hora.

Fizemos cerca de 15 quilómetros para chegar à escola n.º 122 de Chilema, que serve sete aldeias, a mais longínqua das quais — Dumba Kalunjololo – a 26 quilómetros.

Dos 68 alunos da Dumba inscritos inicialmente, restam 18, diz Leonardo Chicomo, o diretor desta escola, que gasta também seis horas por dia no percurso escola-casa, no Cuíto, na sua motorizada.

A sala de aulas está instalada num barracão e transforma-se em local de culto aos domingos. Uma solução que as autoridades locais encontraram para colmatar a insuficiência de salas de aula.

Pouco mais de uma dezena de meninos e meninas aconchegam-se em banquinhos nesta igreja que faz de escola, ouvindo distraídos a aula de matemática dada por Miguel da Costa, 26 anos.

Chegou à aldeia há menos de um ano, depois de quatro anos passados na Chicala e ganha cerca de 150 mil kwanzas mensais (162 euros). “O maior problema é a locomoção”, o que o leva a ficar durante a semana na aldeia onde os professores podem pernoitar, lamenta.

Com uma pontinha de orgulho, diz que foi aprendendo a lidar com as outras dificuldades, o isolamento, a vida sem Internet e sem telemóvel: “eu sou escuteiro, a gente acostuma-se”.

Avançamos para a aldeia de Kawewe, onde muitos dos jovens deixaram de ir à escola. Jacinto Bunga, por exemplo. Tem 16 anos e parou na 5.ª classe. Porquê? “As condições”, responde.

Demorava três horas para ir à escola e mais três para voltar e acabou por se dedicar “ao cultivo”, juntando-se à família. Em época de chuvas, a estrada transforma-se num lamaçal e torna-se intransitável, levando ao abandono escolar.

Ernesto Jamba tem dez filhos e diz que os mais novos não têm como ir até à escola. “É uma hora de marcha”, diz. Verónica Capolo tem nove filhos e também ela critica as distâncias que tornam ainda mais difícil a vida destes estudantes.

“Se fosse mais próximo podiam estudar de manhã e de tarde ir à lavra”, ajudar a mãe no cultivo do milho e feijão que servem de sustento à família. Verónica fala e, aos poucos, crianças e adultos vão vencendo a timidez e começam a apontar a lista de necessidades. “Queremos escola, queremos rede, queremos manivela (água), queremos luz, queremos saúde”, pedem.

Voltamos a encontrar Doroteia e Isabel, já de tarde, na escola da Chicala. As duas jovens de Cawewe têm 16 anos e frequentam a 6.ª e a 7.ª classe. Saíram de casa por volta das 10:00 e vão regressar de noite.

No dia seguinte, tudo se repete, serão mais 50 quilómetros para ter acesso à educação, um direito que é garantido, mas que nem todos conseguem exercer quando têm de escolher entre comer ou aprender.

O cenário poderá mudar em breve com a implementação de um projeto-piloto no âmbito da iniciativa “Unidos pela Educação” – que integra o Centro Ufolo, a Fundação Ulwazi e o Ministério da Educação – para formar professores ambulantes e levar uma “escola móvel” até às aldeias.  

O projeto está a ser gizado com as autoridades locais e pretende encontrar soluções logísticas para transportar os professores, estabelecendo parcerias com os mototaxistas locais, e garantir kits pedagóicos e meios audiovisuais, através, por exemplo, de painéis solares portáteis, explica Rafael Marques, do Centro Ufolo.

“A educação tem de ir ao encontro dos alunos”, diz o ativista e jornalista, diretor do site Maka Angola, que espera ter o projeto no terreno já no início do próximo ano letivo.

Fonte: História de Lusa

Uma Poesia – “Horror sem fim?”

Poesia – “Horror sem fim?”

Em terras tão antigas e sagradas,
O sangue dos inocentes é derramado.
A guerra entre irmãos não cessa,
E a desumanidade é o legado.

Hamas e Israel se enfrentam,
Num ciclo de dor e destruição.
Os palestinos sofrem, clamam,
Enquanto o mundo assiste, em inação.

Crianças sem destino, sem lar,
Vidas ceifadas pela crueldade.
Onde está a justiça, onde está a paz?
Neste teatro de brutalidade.

Quebram-se laços, destroem-se esperanças,
Enquanto o ódio cega mentes.
Que se erga a voz dos que se calam,
Para deter esses horrores latentes.

Que a humanidade desperte,
E se una em clamor pela paz.
Que a guerra seja apenas uma lembrança,
E que o amor seja a única pauta capaz.

* por Salvador Neto, Portugal, 13 de maio de 2024

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Prêmios Europa Nostra distinguem 26 projetos no Patrimônio Cultural

Os Prémios Europa Nostra, na área do Património Cultural, distinguiram este ano 26 projetos em cinco categorias, de 18 países, entre eles, uma investigação domínio da Inteligência Artificial, para melhorar o acesso ao património jornalístico europeu.

Os vencedores deste ano exemplificam o dinamismo, a diversidade e a inovação demonstrados em toda a Europa nos esforços para salvaguardar e promover o nosso património”, afirma a organização em comunicado divulgado pelo Centro Nacional de Cultura, representante português no organismo Europa Nostra.

A cerimónia de entrega dos prémios, e onde serão anunciados os vencedores do Grande Prémio e do Prémio “Escolha do Público”, realiza-se no dia 07 de outubro, no Ateneu Romeno, em Bucareste, durante a Cimeira Europeia do Património Cultural, que terá lugar de 06 a 08 de outubro na capital romena.

O Prémio “Escolha do Público” resulta de uma votação “online” – www.europanostra.org – a decorrer até 22 de setembro. Os Prémios Europa Nostra foram criados pela Comissão Europeia em 2002 e têm sido geridos pela organização Europa Nostra, atualmente presidida pela cantora lírica italiana Cecilia Bartoli.

Na categoria “Pesquisa” foi premiado o projeto de investigação “NewsEye: Um Investigador Digital para Jornais Históricos” que “melhora o acesso à imprensa europeia antiga (1850 a 1950), utilizando 15 milhões de páginas digitalizadas pelas bibliotecas nacionais da Áustria, Finlândia e França, desenvolveu ferramentas automáticas de reconhecimento de carateres, análise da estrutura dos jornais e processamento de conteúdos multilingues, com base na inteligência artificial”. Este projeto junta estes três países e ainda a Alemanha.

Na categoria “Conservação e adaptação a novos usos”, foram distinguidos seis projetos, dois deles romenos, o restauro da Igreja Saxónica em Alma Vii, considerada “um marco cultural que simboliza séculos de história e artesanato na aldeia de Alma Vii, na Transilvânia”, e o de outra igreja, a de São Miguel, em Cluj-Napoca, “uma joia da arquitetura gótica europeia”.

Nesta mesma categoria foram também distinguidos os Poços de Neve, na Serra Espuña, em Espanha, datados do século XVI, que “serviam como fábricas de gelo, armazenando a neve do inverno para a produção de gelo no verão”.

Também o edifício Royale Belge, em Bruxelas, um edifício modernista, concluído em 1970 como sede da companhia de seguros Royale Belge, e que “integra atualmente uma mistura de utilizações, incluindo instalações para conferências, escritórios, espaços de ‘co-working’, um ‘health club’ e um hotel”.

Outro projeto premiado é alemão, a Casa Schulenburg, em Gera, construída em 1914 por Henry van de Velde. “O seu projeto de restauro é um exemplo brilhante de conservação da arquitetura do século XX”, refere a organização.

Também premiado o projeto de renovação da mina histórica de Ignacy, em Rybnik, uma mina de carvão, que é “uma das mais antigas da Polónia”, fundada em 1792. O complexo mineiro foi adaptado a novas funções como centro cultural e recreativo e é um “exemplo inspirador para outras minas de carvão na Europa que estão a ser encerradas”.

Na categoria “Educação, formação e competências” foram galardoados cinco projetos entre eles o Centro Cultural Teryan, em Erevan, que desde 2002, “tem-se empenhado no estudo e na preservação da cultura arménia e de Artsakh”.

Também premiado, o coletivo grego Boulouki, pelo seu “Workshop” Itinerante sobre construção tradicional. Boulouki é um coletivo de arquitetos, engenheiros e profissionais do património dedicados à revitalização do artesanato tradicional para as necessidades da construção contemporânea. “A sua abordagem é itinerante, viajando por toda a Grécia, para realizar ‘workshops’ de formação que se inspiram e respondem às características de cada local”.

O Esquema de edifícios agrícolas tradicionais, da República da Irlanda, foi outro premiado, “o principal objetivo deste regime nacional é ajudar os agricultores a reconhecer o valor cultural dos edifícios agrícolas tradicionais”. Os participantes são apoiados na aquisição de competências que lhes permitam realizar reparações para devolver os edifícios ao uso funcional da quinta. Mais de 1.000 edifícios foram reparados desde a criação do esquema em 2008.

Premiado também o Modelo de Revitalização da Associação de Artesãos Serfenta Crafts, em Cieszyn, na Polónia, que foi criado ao longo de 15 anos, tendo como atividade principal a arte da cestaria.

A Escola de Carpintaria Branca, em Narros del Castillo, em Espanha, foi tamb+em distinguida, este “é o único centro de formação no mundo dedicado exclusivamente ao ensino da carpintaria branca”, tendo sido fundado em 2014.

A carpintaria branca é uma técnica que, desde o século XIII até ao século XVIII, que permitiu a construção das asnas de telhado e dos tetos em caixotões de madeira que estão presentes em milhares de edifícios espanhóis.

Na categoria “Envolvimento e sensibilização dos cidadãos” foram distinguidos sete projetos. O “Quilómetro Quadrado”, em Gante, na Bélgica, que premeia o trabalho de uma “historiadora residente” que nos últimos cinco anos, tem percorrido as mais diversas zonas da cidade. “Por ‘quilómetro quadrado’, convidou os habitantes locais a revelar ‘histórias escondidas'”, culminando numa exposição no Museu da Cidade e em guias do património, onde a narração é moldada pelos habitantes locais.

Outro premiado foi da Croácia, “O Silêncio que Derrubou o Monumento”, em Kamenska, onde o monumento anti-fascista, “Monumento à Vitória do Povo da Eslavónia”, criado pelo artista Vojin Bakic, entre 1958 e 1968, foi destruído em 1992, durante as guerras da década de 1990 na ex-Jugoslávia. “Este projeto ressuscitou o monumento através da tecnologia de Realidade Aumentada, uma abordagem pioneira no domínio da conservação do património”.

Distinguida também a preservação dos Salões Comunitários para Atividades da Sociedade Civil Local, na Finlândia que “é um modelo em que os subsídios estatais para reparações e renovações sustentáveis de pavilhões comunitários são atribuídos a associações locais através de uma organização não-governamental.

A Associação dos Castelos Fortificados da Alsácia foi igualmente premiada. Na região francesa da Alsácia há mais de uma centena de ruínas de castelos na vertente alsaciana da cadeia montanhosa de Vosgos. “O objetivo da associação, criada em 2013, é sublinhar a importância deste património notável através de uma série de iniciativas diferentes, como o Percurso dos Castelos Fortificados da Alsácia”.

A reabilitação da Torre Tsiskarauli pelos cidadãos, em Akhieli, na Geórgia, também foi distinguida. Ao longo de três anos, 46 cidadãos georgianos e internacionais trabalharam com peritos técnicos e artesãos tradicionais para restaurar a Torre.

Também premiado foi o Festival Internacional de Teatro Clássico para Jovens, em Siracusa, na Itália. Desde 1991, mais de 50.000 jovens estudantes de todo o mundo reuniram-se no Teatro Grego de Akrai para reinterpretar textos clássicos gregos e romanos, refere a organização, destacando que “este festival anual celebra a rica herança clássica da Europa”.

Outro premiado foi a Fundação para a Conservação do Património Histórico de Ockenburgh, dos Países Baixos. Esta fundação representa mais de 150 voluntários locais que durante dez anos trabalharam para renovar a propriedade de Ockenburgh, em Haia, fundada em 1654.

Outra categoria, que surge pela primeira vez no elenco de galardões, é “Campeões do Património”. Nesta categoria foi premiada a Sociedade dos Amigos das Antiguidades de Dubrovnik, na Croácia, uma associação da sociedade civil fundada em 1952, que “tem financiado e concluído projetos de investigação e conservação dos monumentos de Dubrovnik, incluindo as muralhas da cidade”.

“A Sociedade esteve intimamente envolvida na inclusão da Cidade Velha de Dubrovnik na Lista do Património Mundial da UNESCO em 1979”.

Outra distinção foi para a norueguesa Else “Sprossa” Rønnevig, da cidade de Lillesand. “Ao longo de cinco décadas, Else ‘Sprossa’ Rønnevig liderou o salvamento de janelas antigas, impediu a substituição de janelas históricas valiosas e estabeleceu regulamentos mais claros para a sua proteção, transformando a abordagem da Noruega à preservação cultural”.

Premiado também o arqueólogo polaco Piotr Gerber, que “dedicou a sua vida à proteção do património pós-industrial. Tanto na Polónia como no estrangeiro, e tem desempenhado um papel influente na sensibilização e compreensão do público para a importância do desenvolvimento técnico e tecnológico.

O Reino Unido não é signatário do programa Europa Criativa da União Europeia, mas “quatro dos vencedores deste ano” são britânicos. O Reino Unido é “o país com o maior número de prémios” este ano. Estes vencedores receberão os Prémios Europa Nostra e, são, as Tapeçarias Gideon, em Hardwick Hall, na categoria “Conservação e adaptação a novos usos”, estas tapeçarias “são um documento único da produção de tapeçaria flamenga e do gosto inglês no século XVI, e o maior conjunto de tapeçarias que ainda existe na Grã-Bretanha”.

Outro projeto britânico distinguido, na categoria “Conservação e adaptação a novos usos”, o edifício Shrewsbury Flaxmill Maltings, em Shrewsbury, construído em 1797 e “referido como o ‘avô dos arranha-céus'”. Foi o primeiro edifício do mundo com estrutura de ferro. “O edifício icónico foi trazido de volta à vida como um espaço de trabalho adaptável, um destino de lazer e um centro de empresas sociais”.

Também nesta categoria foi premiado o Westminster Hall, em Londres, classificado como “Grau I” dentro de um Património Mundial, este “é um dos maiores salões medievais da Europa”. Este projeto que durou 10 anos, “conservou o telhado e a alvenaria medievais, melhorou o Hall como local de eventos futuros e criou uma entrada principal para os visitantes do Palácio de Westminster”.

Na categoria “Campeões do Património”, foi distinguido o historiador de arquitetura britânico Marcus Binney, de 79 anos, que “há mais de 50 anos tem sido uma força orientadora na sensibilização do público para o património cultural da Europa”.

A organização realça “a sua influência de grande alcance e a sua liderança inspiradora que revolucionaram a proteção e a conservação do património no Reino Unido e noutros países da Europa e não só”.

Para a organização, “este facto reflete a extraordinária e vasta gama de excelência no domínio do património no Reino Unido, bem como o compromisso da Europa Nostra de reconhecer a excelência em todos os países do Conselho da Europa”.

Os vencedores foram selecionados pelo júri dos prémios, composto por 12 peritos em património de toda a Europa, após a avaliação das candidaturas pelos Comités de Seleção.

Foram apresentadas 206 candidaturas, “tanto por organizações como por pessoas a título individual”, de 38 países europeus.

Fonte: Lusa

94ª Feira do Livro de Lisboa inicia hoje com destaque para programação e acessibilidade

A 94.ª edição da Feira do Livro de Lisboa começa hoje, no Parque Eduardo VII, naquela que será, segundo a organização, a maior de sempre, com um horário alargado e melhorias ao nível da acessibilidade.

Até 16 de junho, 350 pavilhões, com 960 marcas editoriais, representadas por 140 participantes, vão ter disponíveis para venda ao público 85 mil títulos, a que juntarão diversas iniciativas, entre sessões de autógrafos, conversas com escritores, espetáculos de música ou cinema ao ar livre.

Entre os destaques para hoje, conta-se o encontro de autores “Poesia africana”, com Conceição Lima, Ana Paula Tavares, João Melo e Ondjaki, e uma conversa em torno do livro “Oriente Próximo”, com Alexandra Lucas Coelho, Shadd Wadi e a participação especial de Dima Akram.

Fernando Aramburu, Jean-Baptiste Andrea, Jeferson Tenório, Joël Dicker, Leila Slimani e Michael Cunningham são alguns dos autores internacionais que vão passar pela feira, juntando-se a nomes da literatura nacional como Afonso Cruz, António Jorge Gonçalves, Hugo Gonçalves, Joana Bértholo, João Tordo e Lídia Jorge, entre muitos outros.

A edição da Feira do Livro de Lisboa deste ano chegou ao limite máximo da capacidade, com mais 10 pavilhões e duas novas praças, não sendo possível estendê-la mais nos próximos anos, disse à Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), responsável pela organização do evento.

Uma das novidades deste ano é a forte aposta na acessibilidade de pessoas com mobilidade condicionada, graças a um protocolo assinado com a Access Lab (empresa que trabalha a questão da acessibilidade em Portugal, pelo direito à cultura das pessoas com deficiência) para os próximos três anos.

Já nesta edição, haverá mais casas de banho com acesso para pessoas de mobilidade condicionada e haverá também fraldários, em resposta aos pedidos das famílias.

Adicionalmente, as rampas vão estar mais bem sinalizadas e vai haver “uma formação bastante intensa por parte da Access Lab quer ao ‘staff’ da APEL, quer aos participantes, para poderem dar informação adequada às pessoas de mobilidade condicionada”, especificou o presidente da APEL, Pedro Sobral.

A parte da programação também será mais acessível, com uma agenda específica de eventos com língua gestual portuguesa, e a existência de um alfabeto de cores para daltónicos, que, entre outras coisas, ajuda as pessoas a orientarem-se nas praças, que são definidas por cores.

Outra novidade é a antecipação do horário de abertura da feira, que passa a abrir às 12:00 durante a semana, e às 10:00 ao fim de semana e feriados.

O horário de encerramento mantém-se às 22:00, com exceção dos sábados, sextas-feiras e vésperas de feriado, em que fecha às 23:00.

  • Fontes: Sapo24H e ECO

Fora nazifascismo, fora racismo!

“L’amour toujours”: como uma canção de amor se tornou numa canção de ódio da direita na Alemanha.

Uma canção sobre o amor está a tornar-se cada vez mais um modelo para slogans da extrema-direita na Alemanha. Indignação, proibições, consequências legais – o que é que está a correr mal?

O amor é uma dessas coisas, e o amor quotidiano e eterno é ainda mais. O DJ italiano Gigi d’Agostino canta lindamente sobre “l’amour toujours”. E agora a canção está na lista vermelha – ou melhor, no índice castanho.

A medida musical está a ser cumprida na Oktoberfest de Munique – os organizadores querem proibir a canção para evitar os gritos racistas dos visitantes que bebem cerveja. A canção adquiriu uma “conotação de extrema-direita”. O chefe da Oktoberfest, Clemens Baumgärtner (CSU), não mede as palavras: “Não há lugar para todo esse lixo de direita na ‘Wiesn'”.

A Oktoberfest é um evento “leve e bonito” com muitos convidados estrangeiros. De acordo com Baumgärtner, os slogans de direita já foram evitados no passado e também não devem ocorrer no futuro. “O Wiesn é apolítico”.

Slogans nazis ao som de música disco

Todo este escândalo foi desencadeado por um escândalo ocorrido na semana passada na ilha de Sylt, no Mar do Norte. Os clientes do “Pony Bar”, em Kampen, cantaram “Foreigners out” e “Germany to the Germans” ao som de um êxito de discoteca aparentemente inofensivo. Um jovem parece ter imitado a saudação hitleriana. Alguém filmou a cena, que se tornou imediatamente viral na Internet. Agora, a polícia está a investigar.

E porque, como todos sabemos, uma vez nunca é suficiente, os convidados da festa com afinidade para o álcool em Sylt seguiram o exemplo duas vezes. As mesmas vaias, e uma jovem negra foi primeiro insultada racialmente e depois esmurrada na cara.

Tristes atuações de “l’amour toujours” são também relatadas noutros eventos por toda a República Federal da Alemanha, que celebra precisamente nestes dias os 75 anos da Lei Fundamental. A polícia estatal não tem mãos a medir. 

Despedimentos e consequências jurídicas

Do Deutsche Bank à Vodafone, as empresas estão a tomar uma posição contra o racismo. Estão a anunciar consequências para os seus empregados alegadamente envolvidos. Dois empregadores já declararam ter despedido os seus empregados.

O poder judicial também anunciou consequências: Thorkild Petersen-Thrö, do Ministério Público de Flensburg, explicou: “Do nosso ponto de vista, os slogans ‘Alemanha para os alemães’ e ‘Estrangeiros fora’ são puníveis, quanto mais não seja tendo em conta a recente sentença contra Björn Höcke.” Em caso de incitamento ao ódio, é possível uma pena de prisão de pelo menos três meses e de um máximo de cinco anos.

“É tudo sobre o amor”

“A minha canção é sobre um sentimento maravilhoso, grande e intenso que liga as pessoas. É o amor”. É assim que D’Agostino descreve a intenção do seu êxito de festa de 2001, que para ele é sobre o amor pela sua mulher, pela sua família, pela música e pela dança. D’Agostino não aborda os incidentes racistas específicos na sua declaração, escreve a revista “Der Spiegel”. O artista evita assim uma condenação clara da alienação da sua canção. Afirma não ter tido conhecimento dos incidentes.

Ministro do Interior: slogans “profundamente desumanos”

No talk show da ARD “Caren Miosga”, a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, também tomou posição: os slogans gritados eram “profundamente desumanos e racistas”. Temos de ter cuidado para que os valores da nossa democracia não se alterem. No entanto, não ficou verdadeiramente surpreendida com as explosões. Há anos que estudos demonstram que as “ideias de direita” estão profundamente enraizadas no centro da sociedade.

Quando as palavras se tornam atos

“O ventre ainda é fértil”, avisou Bertolt Brecht. Sobretudo quando as palavras se transformam em atos. Gritar slogans nazis pode parecer quase “inofensivo” – mas não é. Em 2019, um extremista de direita assassinou o presidente do distrito de Kassel, Walter Lübcke.

Assista a música clicando neste link.

Uma poesia – “Escutas”

Ouvir coisas que não fazem sentido, faz sentido, porque é melhor que não ter ouvido

Escutar coisas que não fazem sentido, não faz sentido, porque escutar é mais que ouvir, é fazer ao outro, sentido.

* Por SN, Portugal, 23maio2024

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