Crônica – “Sob a luz de Raquel”

Noite passada, arrebataste meu coração, Raquel. 

Por Salvador Neto

Noite passada, arrebataste meu coração, Raquel.

Levaste-me a um mundo onde cada nota e cada movimento teu eram uma promessa de algo mais, algo transcendental. A tua presença magnética fez-me esquecer do mundo ao meu redor, e fui transportado para um universo onde apenas tu e a tua arte existiam.

Eu, que estava prestes a fechar os olhos, mesmo em meio aos sons naquela sala cheia, com pessoas a olhar ecrãs e a embalar conversas fúteis. Mas logo surgiste por detrás do pano, e tudo se iluminou! Não falaste nada, apenas fez-se a mágica de uma mulher cheia de si, com seus cabelos escuros cobertos por um chapéu vermelho.

Aos sons da guitarra portuguesa, observei-te da cabeça aos pés. E sob uma luz indubitavelmente tua, conheci tua voz linda e grave como um trovão de amor que sopravas aos meus ouvidos, sim, somente aos meus, egoísta que fui. A partir dali, durante uma hora e meia, seduziste-me com tuas cordas vocais melodiosas, teu corpo esguio e dançante, com graça e altivez de uma dama que nasceu na também linda e encantadora Lisboa, de seu berço Alfama.

Ah, Raquel, se tu soubesses o quanto me apaixonei por ti neste espaço de tempo tão efémero e fugaz! E quanto abandonado fui ao ver o pano se fechar às tuas costas, e não te sentir inteiramente em mim. Entregaste-te toda a quem lá estava a te esperar, como um caminhante ao deserto encontra água em um oásis. Um oásis, sim, foste meu oásis na secura severa de minha vida. E saibas, Raquel, foste, mas não me deixaste. Tua beleza, tua voz e gracejos, simpatia e presença, ficaram guardados neste simples cronista que, cansado, esteve prestes a fechar os olhos em uma noite tão especial.

Espero-te em breve, fadista incansável, potente voz que deixou a todos naquela sala sem saber exatamente o que havia ocorrido. Aguardo-te para sentir-te e poder caminhar contigo em minha alma, todos os dias até meu ser se desvanecer neste mundo árido de luz e amor que conseguiste entregar. Obrigado, Raquel.


  • O autor foi a um concerto de Raquel Tavares em Alcobaça, Portugal, e, surpreendido por sua força em palco diante de uma multidão de fãs, decidiu eternizar o momento sublime de uma artista e seu público.

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Jornalista e escritor. Criador e Editor do Palavra Livre, cofundador da Associação das Letras com sede no Brasil (SC). Foi criador e apresentador de programas de TV e Rádio como Xeque Mate, Hora do Trabalhador entre outros trabalhos na área. Tem mais de 35 anos de experiência nas áreas de jornalismo, comunicação, assessoria de imprensa, marketing e planejamento. É autor dos livros Na Teia da Mídia (2011), Gente Nossa (2014) e Tinha um AVC no Meio do Caminho (2024). Tem vários textos publicados em antologias da Associação Confraria das Letras, onde foi diretor de comunicação.