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25 de abril, Manuel Alegre, poemas, Revolução dos Cravos
Salvador Neto
2 anos ago
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Trova ao vento que passa, de Manuel Alegre
Vivemos dias loucos, de retornos a passados sombrios, onde fascistas ocupavam estados, e faziam barbaridades em nome de pátria, deus e família. Este blog vem trazer pois a palavra poética que combateu, e combate, ditadores e ditaduras, fascistas e desejosos de poder absoluto. Este poema do português Manuel Alegre é uma amostra do que a palavra escrita pode fazer por nós, humanos muitas vezes desumanos. Curta:
“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
quem vive na servidão.
(…)
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
De Manuel Alegre, Praça da Canção, 1965. Saiba mais sobre este poeta e político no vídeo que segue:
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