Exclusivo! Brasileiros se sentem abandonados na Nova Zelândia e pedem ajuda para retornar ao Brasil

Quase 200 brasileiros, entre eles cerca de 20 catarinenses, se dizem abandonados pelo governo brasileiro e passam sérias dificuldades. O Palavra Livre recebeu mensagens de catarinenses que participam de grupo formado no Facebook para organizar e cobrar urgentes atitudes do Governo. A embaixada brasileira não dá prioridade, e parlamentares catarinenses consultados – pouquíssimos responderam a reportagem – dizem que há recursos e que devem fazer pressão no Governo Federal.

Aproximadamente 200 brasileiros se dizem abandonados pelo Governo Federal na Nova Zelândia. Organizados em um grupo criado no Facebook – veja aqui – por uma brasileira residente há 11 anos e já com cidadania neozelandesa, Luana Karina de Aguiar –
http://www.luanakarina.com/ -, eles cobram a Embaixada brasileira para que providenciem um novo voo de repatriação. Segundo relatos no grupo, confirmados pelo Palavra Livre junto à Luana Karina, há idosos com problemas de saúde, pessoas sofrendo com depressão e síndrome do pânico, entre outros casos sérios. A maioria perdeu seus empregos e trabalhos no país, outros estavam a turismo, e estão sem dinheiro inclusive para morar e se alimentar.

“A situação é muito séria, e a embaixada está fazendo pouco caso”, revela Luana que hoje e empreendedora por lá, e quando imigrou para a Nova Zelândia caiu em um golpe, passou muitas dificuldades e por isso se dedica há oito anos em ajudar imigrantes no país.

Dentre os atuais 183 brasileiros “presos” na Nova Zelândia existem 16 catarinenses na lista organizada por Luana Karina, organizadora do Grupo. São Paulo com 31 pessoas, Rio Grande do Sul com 22 pessoas são os estados com maior número de brasileiros a serem repatriados, e SC fica em terceiro, com Paraná (13) em quarto lugar e Minas Gerais (12) em quinto. Mas há também brasileiros de Sergipe, Rondônia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia e Amazonas. Quando Luana iniciou a organização para apoio, eram 153 pessoas pedindo ajuda. Há quem não tenha se manifestado ou não desejado dar maiores detalhes a ela, neste caso são 62 pessoas com os mais diversos motivos. E a lista pode continuar a crescer.

A Embaixada brasileira organizou um voo para repatriar 180 brasileiros no início de maio, e alega que avisou aos que lá estavam cadastrados via e-mail, e que não tem nenhuma previsão de um novo voo para o Brasil. Luana Karina afirma ter enviado uma carta à Embaixada explicando a situação das pessoas em riscos dos mais diversos, e solicitando um segundo voo. “O embaixador fez um vídeo dizendo que todos foram avisados por email e não compareceram. Eu sou uma cadastrada na embaixada e não recebi. Ele também disse que estão ajudando os brasileiros com recursos financeiros, alimentos, moradia, mas nós não conhecemos nenhum que tenha recebido isso”, acusa.

A reportagem teve acesso à carta e as respostas. O teor da carta da Embaixada não dá esperanças de novo voo, é fria e não estabelece saída alguma para os brasileiros. Para se ter uma ideia, um voo de retorno proposto seria por Doha (Qatar), custaria três vezes mais que o normal, e duraria mais de 50 horas, algo impeditivo para várias pessoas que passam por sérios problemas de saúde, como idosos, grávidas, depressivos e outros.

Entramos em contato com o Itamaraty no Brasil, e recebemos a resposta padrão muito parecida com a que os brasileiros receberam na Nova Zelândia após o apelo. Luana Karina destaca que o governo neozelandês tem sido efetivo em ajudar como pode aos imigrantes, mas ela destaca que a responsabilidade pelos brasileiros é do Governo brasileiro. “Está na Constituição Federal”, aponta. O Palavra Livre reiterou as perguntas sobre o apoio aos brasileiros, respondendo ao Itamaraty. Até a publicação desta reportagem, não recebemos resposta. Esperamos por 48 horas.

A Nova Zelândia se notabilizou no combate à pandemia do coronavírus, criou níveis de fechamento total (lockdown) como estratégia de enfrentamento, o que impossibilitou aos brasileiros e outros imigrantes a inclusive se locomover no país, e inclusive sair do país. Junto disso veio a perda dos empregos, renda e o caos a quem foi buscar uma vida melhor no exterior. O país localizado na Oceania tem pouco mais de 4,4 milhões de habitantes, um fuso horário de 15 horas em relação ao Brasil, foi o primeiro a anunciar ter se livrado do Covid-19, mas os casos retornaram ao país dias atrás, infelizmente. Este retorno do Covid-19 por lá pode complicar ainda mais a vida dos brasileiros que já pedem ajuda.

Parlamentares catarinenses foram questionados
O Palavra Livre apresentou o caso para os parlamentares catarinenses, deputados federais e senadores. Enviamos mensagens por whatsapp diretamente aos contatos deles e também de assessorias. Recebemos retorno apenas do deputado federal Celso Maldaner (MDB), e dos senadores Esperidião Amin (PP) e Dário Berger (MDB). Os demais parlamentares, o senador Jorginho Mello (PL) e os demais 15 deputados federais de SC não retornaram para dizer o que poderiam fazer pelos cidadãos catarinenses que estão passando sérias dificuldades na Nova Zelândia.

Celso Maldaner disse que é um assunto importante e que precisa solução. “Votamos medida provisória que dá recursos para a EMBRATUR para repatriar os brasileiros, tem orçamento para isso”, disse o deputado federal. Questionado quais as ações práticas que poderia tomar, destacou que colocou a sua assessoria para realizar contatos com o Ministério das Relações Exteriores e o Itamaraty. Em seguida enviou áudio de assessora do Itamaraty que repete o que a embaixada escreveu em carta aos brasileiros lá na Nova Zelândia, em que alega que tem que ter formalidades para organizar novo voo, e que não há previsão.

“Existem cerca de três milhões de brasileiros fora do país e não tem como trazer todo mundo de volta”, disse em áudio a funcionária Mariana Marshall do Itamaraty. O grupo “Abandonados na Nova Zelândia” já enviou cartas, tem lista dos brasileiros, mas não tem recebido solidariedade e prioridade por parte da embaixada. Uma atitude, por exemplo, poderia ser destacar um diplomata para centralizar o contato e ajudar o Grupo na busca pela solução, coisa simples de fazer, e obrigação de uma embaixada em favor dos seus cidadãos.

Via assessoria de imprensa, o senador Esperidião Amin afirmou que já interviu em situações como essa e que teve êxito, isso em relação a brasileiros que estavam no Chile e não conseguiam atravessar a fronteira, isso no dia 21 de maio. Aguardamos mais respostas sobre ação efetiva para apoio aos brasileiros para a repatriação, mas até o fechamento da matéria não obtivemos respostas de Amin. O senador Jorginho Mello (PL) também não respondeu aos questionamentos da reportagem, nem via assessoria e tampouco diretamente.

O senador Dário Berger (MDB), via assessoria, disse que “todos os pedidos que recebemos de catarinenses que estão no exterior e que chegam ao gabinete do senador solicitando apoio, são encaminhados ao Itamaraty cobrando uma solução. A orientação é sempre a mesma, de que os interessados procurem os órgãos diplomáticos do país, façam um cadastro e aguardem novas orientações”. Berger destacou também que vai articular uma pressão parlamentar catarinense para que o Itamaraty resolva a questão do novo voo para os brasileiros.

Governo de SC vai apoiar a repatriação
Buscamos também informações junto ao Governo de Santa Catarina, via Secretaria de Articulação Internacional (SAI). O secretário Douglas Gonçalves informou que desde que iniciou o lockdown a secretaria criou um plantão 24 horas por email ou celular onde atende estes casos. “Orientamos e solicitamos todos os dados das pessoas. Com isso alimentamos o banco de dados do Itamaraty. Buscamos como ver os voos, etc, para auxiliar os catarinenses”. Desta forma, segundo o Secretário, cerca de 90 catarinenses já foram repatriados, e existiriam cerca de 30 ainda em busca de repatriação.

Sobre os cerca de 20 catarinenses na Nova Zelândia, Douglas Gonçalves vai fazer contato com a organizadora que apoia os brasileiros, e aí os catarinenses, para articular o retorno ao país. “Primeiro passo é colocar via secretaria oficialmente esse povo lá no Itamaraty, e vamos cobrar esta solução com rapidez”, destacou o Secretário. O número de contato do Plantão SAI para estes casos de apoio aos brasileiros no exterior é +55 48 98801.6570. A Secretaria de Articulação Internacional do Governo de SC já conseguiu repatriar brasileiros, articulando com o Governo Federal, Ministério das Relações Exteriores e Itamaraty, vindos dos EUA, Bolívia e Chile. Em princípio esta repatriação da Nova Zelândia seria a primeira ação de apoio fora da América Latina a ser realizada pela SAI.

Da lista de catarinenses há cidadãos de Jaraguá do Sul, Navegantes, São Francisco do Sul, Itajaí, Rio Negrinho, que declararam as cidades de origem no Brasil, coisa que nem todos informaram ao Grupo.

Solidariedade e responsabilidade governamental
O Governo Brasileiro, o Governo de Santa Catarina e demais governos estaduais com cidadãos em busca de repatriação da Nova Zelândia precisam se posicionar, cobrar e exigir do Itamaraty a organização de um novo voo urgente para trazer os brasileiros de volta. Os parlamentares, aqui em especial aos parlamentares catarinenses – o Palavra Livre é sediado em SC – devem unir esforços e pressionar os órgãos competentes e autoridades para que tragam de volta estes brasileiros, pois é papel deles defender os direitos dos catarinenses e cidadãos brasileiros. Espera-se que a bancada federal catarinense se reúna e dê respostas ao pleito dos brasileiros na Nova Zelândia.

O Palavra Livre vai continuar cobrando dos parlamentares e governo o andamento desta repatriação de brasileiros, e catarinenses, até que a solução aconteça, e pede a todos os colegas de imprensa que façam o mesmo, porque juntos conseguimos fazer a pressão necessária em apoio e solidariedade a quem precisa.

Para saber mais sobre o grupo “Brasileiros abandonados na Nova Zelândia”, acesse – https://www.facebook.com/groups/391528548433104/about/

O grupo é aberto. Com ajuda de amigos, Luana Karina também fez um vídeo (clique aqui para assistir) onde ela explica o que fez, os contatos com a embaixada brasileira, e tem alguns depoimentos de pessoas com suas dificuldades e pedindo ajuda, como dois idosos de 85 anos com problemas de saúde, etc.

A Secretaria de Estado da Articulação Internacional (SAI) mantém um Plantão para apoio aos catarinenses no exterior, número inclusive que dá para contatar via WhatsApp – +55 48 988016570.

O Ministério das Relações Exteriores tem site para apoio aos brasileiros no exterior – clique aqui.

Autor: Salvador Neto

Jornalista e escritor. Criador e Editor do Palavra Livre, co-fundador da Associação das Letras com sede no Brasil na cidade de Joinville (SC). Foi criador e apresentador de programas de TV e Rádio como Xeque Mate, Hora do Trabalhador entre outros trabalhos na área. Tem mais de 30 anos de experiência nas áreas de jornalismo, comunicação, marketing e planejamento. É autor dos livros Na Teia da Mídia (2011) e Gente Nossa (2014). Tem vários textos publicados em antologias da Associação Confraria das Letras, onde foi diretor de comunicação.

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