Crise Política – Movimentos Sociais, populares e sindicais se mobilizam contra o que consideram golpe

O mandado de prisão expedido por determinação do Ministério Público do Estado de São Paulo, na tarde desta quinta-feira, foi lido por movimentos populares e centrais sindicais, em todo o país, como um novo passo na direção do golpe de Estado em curso, no país.
A ordem envolve, ainda, a mulher do ex-presidente, Dnª Mariza Letícia e o filho mais velho, Fábio Luiz Lula da Silva.Segundo advogados do líder petista, a tendência é que a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, negue nas próximas horas o pedido do MP “por absoluta falta de provas”, segundo afirmou um dos defensores.
Tão logo anunciada a medida coercitiva, Lula e líderes da Central Única dos Trabalhadores entraram em modo de alerta contra a ameaça.
Um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o economista João Pedro Stedile distribuiu nota, nesta tarde, após o encontro entre Lula e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, na capital paulista, na qual relata que os movimentos sociais estão mobilizados.
— A CUT está chamando uma reunião de emergência com militantes, na quadra dos bancários — disse Stedile. Para um dos líderes sindicais presentes ao encontro, “é para todo mundo estar em estado de alerta mesmo e pronto para qualquer coisa”.
“Essa ação do MP foi feita, estrategicamente, não visando necessariamente prender o Lula, mas encher a manifestação do dia 13 no Brasil inteiro. Cumpre à nossa militância organizar-se, pois essa próxima semana será decisiva”, acrescentou, em mensagem pelas redes sociais.
No Rio, a Frente Brasil Popular (FBP) estabeleceu um calendário de lutas, em todo o país, no sentido de preservar a democracia. A partir de hoje, já haverá uma vigília em frente à casa do ex-presidente e do MP paulista.
Nesta sexta-feira, às 9h, estão marcadas reuniões da CUT, da FBP e dos coletivos mobilizados tanto no Rio quanto nas principais cidades paulistas.
Durante todo o fim de semana e ao longo dos próximos dias há atividades programadas nos centros urbanos. Neste domingo, dia das manifestações da extrema direita marcadas na tentativa de consolidar o golpe de Estado, haverá uma concentração no Parque Madureira, às 14h, em contraponto ao ato golpista.
Ao mesmo tempo, segue uma possível intervenção no triplex atribuído às Organizações Globo, em Paraty, por manifestantes localizados na região, com o apoio do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Na sexta-feira da semana que vem, dia 18, prossegue a organização para um grande ato público em favor das instituições democráticas na Praça XV, Centro do Rio.
Ainda nesta tarde, o Instituto Lula divulgou nota na qual afirma que o pedido de prisão é “mais uma prova de sua parcialidade” por parte de setores da Justiça, ligadas às forças de ultradireita:
“O promotor paulista que antecipou sua decisão de denunciar Luiz Inácio Lula da Silva antes mesmo de ouvir o ex-presidente dá mais uma prova de sua parcialidade ao pedir a prisão preventiva de Lula. Cássio Conserino, que não é o promotor natural deste caso, possui documentos que provam que o ex-presidente Lula não é proprietário nem de triplex no Guarujá nem de sítio em Atibaia, e tampouco cometeu qualquer ilegalidade. Mesmo assim, solicita medida cautelar contra o ex-presidente em mais uma triste tentativa de usar seu cargo para fins políticos”, afirma o documento.
Nota da Fenaj contra o golpe
Diante do quadro de instabilidade política, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) emitiu uma nota, nesta tarde, na qual revela uma profunda preocupação com a segurança institucional, no país.
De acordo com a nota, a ação contra o ex-presidente Lula, no último dia 4, teve caráter de espetacularização midiática onde as empresas macularam o compromisso ético da profissão. Para a Fenaj, a imprensa brasileira tem abdicado de fazer jornalismo. Leia, adiante, a íntegra da nota pública:
Em defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade de imprensa
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) vem a público para defender a democracia, as garantias individuais previstas no Estado de Direito e a liberdade de imprensa e de expressão.
A FENAJ dirige-se à sociedade, e em especial à categoria dos jornalistas, para condenar a espetacularização midiática, que desinforma em vez de informar, macula o compromisso ético da profissão, que é a busca da verdade, causando graves prejuízos ao exercício da cidadania.
A democracia brasileira foi duramente conquistada no passado recente, com luta e sangue de milhares de brasileiros, entre eles, centenas de jornalistas.
Por isso, a FENAJ afirma que o compromisso com a democracia deve nortear as posições e ações das instituições nacionais. Lembra que as liberdades de expressão e de imprensa são fundamentais para sua constituição e aperfeiçoamento, como forma de organização política social, na qual o pluralismo de vozes é uma condição, assim como o respeito às decisões da maioria.
Diante dos acontecimentos do último dia 4 – quando o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima de um ato de espetacularização midiática de uma decisão que deveria ter sido judicial, mas não escondeu seu caráter eminentemente político -, a FENAJ novamente afirma que a democracia e os verdadeiros interesses da população brasileira estão ameaçados e que é preciso reagir às tentativas autoritárias de ruptura democrática que, claramente, caracterizam-se como golpe político.
A Federação dos Jornalistas lembra também que grande parte da imprensa brasileira tem abdicado do fazer jornalístico para se comportar como partido de oposição ao governo federal e que, na ânsia de derrotar o partido do governo, tem se colocado a serviço da construção social da aceitação do golpe.
Sem fazer a defesa apriorística do Governo Dilma ou do ex-presidente Lula, a FENAJ reitera que a técnica e a ética jornalísticas não estão sendo observadas e respeitadas na abordagem dos fatos, o que tem ocasionado, inclusive, atos de violência contra jornalistas.
A FENAJ condena toda e qualquer forma de violência contra os profissionais da comunicação, conclama a população brasileira a respeitar a categoria e, ao mesmo tempo, pede às empresas de comunicação a retomada do Jornalismo.
Ainda que o profissional jornalista não possa ser confundido com a empresa em que trabalha, inegavelmente, a manipulação da informação tem contribuído para a perda da credibilidade de parte das empresas de comunicação e também para o desrespeito aos profissionais.
Entidade máxima de representação dos jornalistas brasileiros, a FENAJ novamente condena os setores da mídia nacional que conspiram contra a democracia, ao mesmo tempo em que conclama a categoria a resistir e defender a responsabilidade e a ética no Jornalismo.
Os jornalistas (voluntariamente ou não) estão no centro da atual crise política, pelo papel que os meios de comunicação assumiram. Por isso, não podem se furtar a exercer o seu ofício, que é o de levar informação veraz à sociedade.
A FENAJ lembra que esta crise foi cuidadosamente planejada e que Poder Judiciário e meios de comunicação têm sido atores centrais para seu aguçamento.
Por isso, a Federação dos Jornalistas conclama as entidades e todos cidadãos e cidadãs brasileiros que têm apreço pela democracia e não querem retrocessos políticos e sociais a defender a democracia.
Para essa defesa propomos a valorização da verdadeira informação jornalística e o amplo debate público sobre o papel do Judiciário e dos poderes constituídos, dos meios de comunicação, das instituições e dos movimentos sociais na construção do futuro do país e de seu povo.
Desde já, é preciso dar um basta às ações e movimentos autoritários, de quem quer que seja, e afirmar que não aceitaremos golpes.
Diretoria da FENAJ
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