Esta semana, o Instituto Tolerância, voltado à promoção de debate crítico, promoveu em Porto Alegre, uma aula pública sobre a redução da maioridade penal, polêmica que tem tomado o debate nos últimos dias, após a aprovação da PEC pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
Como resultado da aula pública, o Instituto divulgou 18 motivos para ser contra à redução da maioridade penal.
- No Brasil, os jovens, desde os 12 anos, podem ser responsabilizados por infrações à lei. Todos os crimes e contravenções penais cometidos por esses jovens são chamados de “atos infracionais”.
- Esses jovens respondem processos e, se condenados, recebem punições, chamadas de “medidas socioeducativas”. Atualmente o Brasil tem cerca de 110 mil adolescentes cumprindo medidas socioeducativas.
- A diferença básica entre as sanções de jovens e adultos é que na dos jovens ainda se procura manter a finalidade de reinserção social e educação, motivo pelo qual é importante mantê-las separadas.
- Por suas características, as sanções aplicadas aos jovens resultam num baixo índice de reincidência quando comparadas às penas aplicadas aos adultos.
- A internação é uma medida socioeducativa que priva o jovem da liberdade. As casas de detenção dos jovens se assemelham a prisões e a taxa média de ocupação das instituições para jovens é de 102%.
- Tal como ocorre nos processos penais de adultos, os jovens também estão sujeitos a internações provisórias. Ou seja, não existe o “não dá nada”.
- Diversas ciências, entidades profissionais, além de organismos e pactos internacionais, indicam que os adolescentes até os 18 anos são sujeitos em desenvolvimento e por isso recomendam a existência de um sistema de justiça especializado para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos, o qual deve ser elaborado a partir de uma perspectiva educadora, tanto do ponto de vista emocional como social.
- Os 18 anos são critérios de desenvolvimento pleno em muitos outros contextos da vida social. Somente com 18 anos, um jovem pode se alistar no exército; pode trabalhar em condições perigosas e insalubres; pode comprar bebidas e cigarros; pode ter habilitação para dirigir; pode ser jurado. E, apesar de ter a faculdade de votar, o jovem de 16 anos não pode ser votado.
- No que importa ao fenômeno criminal, os jovens com idade entre 16 e 18 anos são responsáveis por menos de 1% do total de crimes cometidos no Brasil. Daqui já se torna óbvio que a exceção não pode pautar a definição da política criminal do país.
- Os crimes mais cometidos por jovens são crimes contra o patrimônio, seguidos pelo crime de tráfico de drogas. Isso representa mais de 70% dos crimes cometidos por eles.
- As pesquisas realizadas tanto por órgãos do governo quanto por organismos independentes revelam que, na última década, tanto os crimes patrimoniais quanto os crimes de homicídio estão diminuindo. O crime que mais cresce entre a população jovem é o tráfico de drogas.
- Crimes contra a pessoa cometidos por jovens, em geral, decorrem de guerra do tráfico de drogas. Há uma coincidência do grupo que comete o crime e o grupo que é vitimizado. Quase 20 mil jovens são assassinados todo ano no Brasil. Ou seja, eles são 10 vezes mais vítimas do que homicidas.
- Anualmente, a polícia brasileira mata mais do que jovens de 16 a 18 anos. Todo ano, o trânsito brasileiro mata 24 vezes mais do que jovens de 16 a 18 anos.
- Quando se compara o Brasil com outros países, é necessário ter a cautela ao pensar que todo sistema jurídico estrangeiro é modelo de excelência e que será perfeitamente aplicável aqui. Cada país possui características sociais e culturais próprias e isso impede qualquer comparação simplificadora.
- Além disso, há um comum equívoco nas listas dos critérios etários de responsabilização criminal: a nossa responsabilização começa aos 12 anos de idade com as medidas socioeducativas; aos 18 anos, vira pena.
- Portanto, existe legislação suficiente aplicável aos jovens que cometem crimes. Há instituições que, apesar de suas precariedades, obtêm razoável sucesso na reconstrução desses jovens para a vida adulta e responsável. Então, a solução não está no sistema penal. Políticas públicas de educação, assistência e trabalho ainda são os recursos mais eficientes.
- O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo e é notória a falência dessa política no combate à criminalidade. A redução da maioridade levará os jovens mais cedo para um sistema prisional podre e superlotado (com atual déficit de 210 mil vagas), decretando o fracasso de nossa sociedade em prover oportunidades de vida digna para nossa juventude.
- Desistir dos jovens é negligenciar o presente. Desistir dos jovens é desistir do futuro.
Pesquisa e redação original: Jader Marques, Leandro Ayres França e Clara Moura Masiero.