Minha crônica – Carta ao menino que amo

Oi menino, como vai você? Não te assustes, nem te desesperes, não pretendo me estender por essas linhas, não quero te aborrecer. Não te chateie, sou do tempo da carta escrita a mão, em papel pautado com linhas, e colocado em envelope. Destinatário na frente, remetente no verso. Coisa antiga. Hoje é email, face, twitter. Escrevo-te de meu notebook. Em outros tempos poderia até ter datilografado para ficar mais bonito… mas deixa isso prá lá. Já disse que não quero te aborrecer com pouca coisa.

Te escrevo menino meu, porque morro de saudades! Desde nosso primeiro contato, do primeiro olhar, do abraço em que te envolvi, do cheirinho seu, esse é o maior tempo que fiquei longe de ti! Não bastasse a falta de tocar em você, não ouço mais tua voz, nem te carrego para qualquer lugar onde pudéssemos nos divertir. Tampouco ligas para mim, me deixas surdo de tanto silêncio. Será que estás mais alto, mais magro, mais forte talvez… E teus cabelos, lisos, castanhos, que tantos penteados já recebeu, moicano, com franja, surfista, como estarão hoje?

Olha, por essas linhas tento chegar de novo ao seu coração. Sim, tenho medo que me rejeites, que não me ames mais! A tua negação ao meu amor, assim, mais uma vez, me arderia como fogo na pele, como um corte profundo que insistiria em não cicatrizar. Ah, se pelo menos cicatrizasse essa ferida da tua falta. Porque me negas teu carinho, qual a causa de tanto desalinho quanto a mim? Que fiz para você me deixar pelo caminho, logo agora que temos tanto para fazer juntos! Ah menino, te disse não querer entediar tua vida, mas meu amor por você é infinito, sua fonte não seca, é perene!

Pensa, relembra nossos momentos de amor! Quando sorrias para mim parecíamos um só. Não feliz por te levar na escola todos os dias, ia te buscar alegremente. Saber de tudo, me embriagar das tuas coisas! Galo na cabeça do tamanho de uma bola, bola que você sempre adorou, a correr pelos campos e quadras por aí afora. A emoção de te ver correndo atrás do gol em campeonatos, de aparar tuas lágrimas na derrota, e alegria no gol marcado… menino, ah menino, como te amo! Não, não pare de ler agora, não jogue essa carta no lixo, por favor!

Aqui comigo tenho coisas tuas, coisas nossas. A cada palavra que preenche a tela em branco, levanto os olhos e vejo teu quadro, obra de arte da pequena infância. Abro gavetas e lá estão eles, os teus bonequinhos do forte apache. Teus desenhos, formosos, com dedicatória e tudo! Aí pego uma caneta, e lá está meu nome, presente teu! Como faço para te esquecer, se não posso, não quero e jamais vou te esquecer? Vivo assim com esse amor todo para te dar, mas… onde está você menino? Venha, saia dessas sombras, dessa tristeza, vem cá me dar teu abraço!

Sei, sei, já te canso com tantas linhas em tempos de 140 caracteres, mas sou assim, emoção, sou assim, escritor das vidas, de outras vidas, de tantas vidas, de nossas vidas… Lembra do tanto que fomos felizes, do tanto que nos demos um ao outro, das dores que passamos juntos, das felicidades, do colo, do abraço, do beijo na bochecha, das aventuras, brigas, brincadeiras, decepções, desilusões.

Escrever é meu bálsamo para matar a distancia, a saudade. Enquanto digito, lágrimas vêm e vão, lavam minha alma ferida, mas não molham nenhum papel. Encharcam meus pensamentos de esperança no reencontro contigo. Recorda, menino, acorda, meu filho, seja muito feliz. Saiba sempre que te amo João Pedro, meu menino. Feliz aniversário em teus 12 anos! Dia desses a gente se vê por essa vida, o tempo há de fazer isso por nós. Milhões de beijos e abraços de quem sempre vai te esperar e torcer por ti. Com carinho, amor e paixão eternas, teu pai.

* crônica para meu filho João Pedro, que completa 12 anos nesta sexta-feira, 4 de maio.

Autor: Salvador Neto

Jornalista e escritor. Criador e Editor do Palavra Livre, co-fundador da Associação das Letras com sede no Brasil na cidade de Joinville (SC). Foi criador e apresentador de programas de TV e Rádio como Xeque Mate, Hora do Trabalhador entre outros trabalhos na área. Tem mais de 30 anos de experiência nas áreas de jornalismo, comunicação, marketing e planejamento. É autor dos livros Na Teia da Mídia (2011) e Gente Nossa (2014). Tem vários textos publicados em antologias da Associação Confraria das Letras, onde foi diretor de comunicação.

10 comentários em “Minha crônica – Carta ao menino que amo”

  1. Jéssica, você é testemunha do meu amor por meus filhos. Eu também tenho certeza disso, e por isso não desespero. A verdade prevalece, e meu amor também prevalecerá sempre por eles, para eles. Obrigado pela companhia no café de ontem, e agora aqui participando do Blog, muito bacana amigona… abraço!!

  2. Puxa Salva, dificil acreditar que vcs ñ estão se vendo, sempre vi muito amor envolvido com vcs, os olhos de seus filhos brilhavam ao vê-lo e os seus chegavam a encher de lagrimas de tamanha alegria de tê-los por perto. Sinto muito que ainda exista nesse mundo, nos dias de hoje algo que possa afastar pais e filhos. Mas tenho certeza de que isso nada mais é do que uma fase que vcs precisam passar por alguma razão, que ninguém consegue explicar, para que qdo estiverem juntos a relação seja muito mais madura e ai nada mais os separa.

  3. Obrigado amigo Valter, companheiro de tantas batalhas, de boas conversas, de amizade verdadeira e duradoura. Beijos no teu coração também, como diz o nosso mestre Samuca… abraços irmão!

  4. Salvador. Outro dia conversamos longamente sobre esse assunto. Hoje, me deparo com esse belo texto de um pai amoroso. Filhos são “para sempre”, enquanto durar nossa permanência sobre a terra, portanto, aí esta mais uma razão para o amor e o companheirismo. No entanto, forças avassaladoras e descontroladas, impedem, momentaneamente, essa relação única, que nasceu para ser duradoura. Sementes plantadas com carinho, amor e respeito, germinarão ao seu tempo. Tenho a mais clara convicção, conhecendo esse amigo guerreiro, que você semeou muito bem. Portanto, será uma questão de tempo. Mais uma vez, em futuro não muito distante, assistirei ao seu triunfo de pai e amigo de seus filhos. Como diz um grande amigo nosso (meu e seu). “Beijos no coração”. Valter F. Bustos.

  5. Também espero Eliana, também espero que o amor que lhe dei ainda esteja com ele, e o amor que ainda lhe mando à distância o faça uma pessoa cada vez melhor. Tudo fica com a gente não é mesmo? Obrigado por participar, e pelos elogios.

  6. Obrigado Jeferson Corrêa, as palavras são meu refúgio e minhas armas contra a saudade. Meu filho é especial, e sei que um dia haveremos de nos reencontrar com ternura e amor tal qual tentei exprimir na crônica. Obrigado pela participação e apoio!

  7. Obrigado Jura, grande amigo, poeta, é verdade, coloquei toda a emoção que pude, e tenha a certeza, as palavras estão impregnadas também das minhas lágrimas. Valeu o apoio!

  8. Lindo texto, me revi nele todo o tempo. Serve para todos nós, pais e mães que vemos nossos filhos indo para a vida e as coisas deles ficam conosco – materiais sentimentais.
    Parabéns! Seu filho deve amar o pai que tem, é sentimento puro.

  9. Palavras cheias de sinceridade. Reconhecer a ausência é uma pomada para justificar e tentar curar a ferida do tempo distante.
    Parabéns pelo texto e pelo seu filho.

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