A meta da ONU, de reduzir pela metade o analfabetismo no mundo até 2015, está longe de ser alcançada. Entre os 53 países que estão distantes do objetivo, está o Brasil.
Educação para todos: há dez anos, no Fórum Mundial de Educação, em Dacar, 164 países assumiram o compromisso de garantir o acesso de mais pessoas ao mundo das letras. Mas o último relatório da Unesco revelou que há muito o que ser feito: existem ainda 760 milhões de analfabetos no mundo.
Segundo o estudo, a África, o Oeste e o Sul Asiático concentram o maior número de pessoas que não sabem ler e escrever. Quase a metade dos analfabetos do mundo vive nos quatro países mais populosos, como Bangladesh, China, Índia e Paquistão. Diante desses dados, é possível dizer que houve avanços nos últimos dez anos?
Para Katja Römer, do escritório alemão da Unesco, em Bonn, não restam dúvidas de que houve progresso. Desde 2000, houve uma diminuição em 103 milhões no número de analfabetos. A taxa de adultos alfabetizados, por exemplo, subiu em 10% no mundo todo, chegando a 85%.
Os avanços mais notáveis foram registrados no Leste Asiático e na região do Pacífico. A China, por exemplo, alfabetizou mais de 100 milhões de cidadãos em duas décadas. Por outro lado, o Sudeste Asiático continua sendo uma das regiões mais problemáticas – o crescimento da população praticamente anulou os progressos alcançados. Outras regiões como a África subsaariana e os países árabes registraram uma queda na taxa de alfabetização.
Falta vontade
As Nações Unidas ainda estão distantes do objetivo proposto: reduzir pela metade a taxa de analfabetismo entre os adultos. O principal motivo para esse prognóstico, segundo Römer, é a falta de vontade política: “Muitos governos não consideram que os esforços em alfabetização possam contribuir também para o aumento da produtividade e para a prosperidade em alguns países.”
As pessoas que não sabem ler e escrever pertencem às camadas mais pobres da população e, geralmente, precisam lutar diariamente para sobreviver. No entanto, esse círculo vicioso da pobreza poderia ser rompido por meio de políticas e investimentos em educação, defende Caroline Pearce, da ONG Oxfam. “A longo prazo, os investimentos em educação para o crescimento econômico de um país e para sua estabilidade são três vezes mais importantes do que os investimentos em infraestrutura.”
E as mulheres correspondem a 66% dos analfabetos em todo o mundo. “As mulheres são marginalizadas em muitas sociedades. Isso se reflete certamente nas taxas de alfabetização”, diz Katja Römer. O número de mulheres que não lêem ou escrevem é especialmente alto nos países árabes, na região subsaariana e no Sudoeste Africano.
No Brasil
Segundo a Unesco, o Brasil está entre os 53 países que ainda não atingiram e nem estão perto de atingir os objetivos do programa Educação para Todos até 2015. A organização destaca, no entanto, que foram registrados importantes avanços ao longo das duas últimas décadas.
Ainda assim, a taxa de analfabetismo no Brasil reduziu lentamente: 2,9% em sete anos. Numericamente, os analfabetos representavam, em 2006, 10,5% da população. A maioria vive em zonas rurais (24,2%) e na região Nordeste (20,8%).
Problema também dos países ricos
O analfabetismo não é apenas um problema nos países em desenvolvimento: as nações ricas também têm alguns pontos fracos. No Reino Unido, por exemplo, 15% da população escrevem e lêem como um escolar de 11 anos.
Os dados da Unesco também mostram que, nos Estados Unidos, 14% da população adulta não conseguem compreender artigos de jornais ou um manual de instruções. E na Alemanha também é verificada uma tendência semelhante, embora não haja números precisos.
A Índia é um dos países onde o analfabetismo foi combatido com mais sucesso. Ainda em meados dos anos 1980, mais da metade dos cidadãos eram analfabetos. De lá para cá, o número de pessoas capazes de ler e escrever subiu para quase 70% da população.
“Isso se deve aos intensos esforços do governo, segundo a porta-voz da Unesco. A chamada ‘missão nacional de alfabetização’ em muitos estados se voltou exatamente para aqueles que eram mais atingidos pelo analfabetismo e para qual público deveria ser abordado. As medidas adotadas então provocaram esse efeito”, explica Katja Römer, que vê no caso indiano a confirmação de seu argumento. “Vontade política, como foi mostrada nesse caso, é realmente essencial quando se fala em redução do analfabetismo.”
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