Minha Crônica: “Isolde” em homenagem aos 74 anos de minha mãe

Atrasado, mas ainda valendo, segue abaixo uma pequena crônica que tenta passar a força que tem essa mulher, minha mãe, Isolde da Costa. Escrita para homenagear os seus 74 anos completados dia 6 de junho, espero que seja boa leitura para todos e todas que acessam diariamente o Blog. Então, é só ler…

Eu não sei o que seria de mim sem Isolde. Melhor. Eu sequer estaria aqui para encher a paciência dos leitores com escritos por vezes ácidos, ou sem sal. Por ela vim ao mundo “bem gordo”, segundo suas próprias palavras. Com menos de um metro e meio, essa pequena brasileira com sangue de ascendentes alemães não só deu conta de gerar este jornalista, mas ainda criou os quatro “Ês” do primeiro casamento de meu pai: Ernani, Elézio, Eliete e Evelyn que ficaram órfãos de mãe ainda pequenos. Antes de casar, Isolde ainda ajudava os pais Helmut e Mercedes em casa com os irmãos Nelson, Dionísio e Lurdes. Estudou em colégio de freiras, hoje Santos Anjos, formou-se professora e chegou a ser diretora do Colégio Estadual João Colin no velho Itaum. Só parou porque casou.

A força interior, a calma combinada com firmeza, e a vontade que vem de sua alma, de servir, a fizeram deixar o seu amor pela educação pelo amor ao marido Zeny Pereira da Costa, viúvo e com os quatro filhos por criar. Eles não poderiam ter ganho mãe melhor, e meu pai, companheira melhor. Imagino com a minha chegada qual foi o peso de trabalho que essa mulher sustentou. Logo depois veio meu irmão Zeny Junior, que chegou ao mundo com problemas mentais por conta de complicações no parto. Partos, tanto meu quanto de Junior que ela enfrentou em casa com a parteira famosa, dona Helena. Que seria de mim e de Junior sem Isolde? Que seriam dos “Es” sem ela?

Junior tinha ataques de epilepsia, tinha crises em que por vezes se autoflagelava. E Isolde estava lá ao seu lado. Buscou recuperá-lo de todas as formas. Lutou por espaço em escolas onde o preconceito imperava forte na sempre provincial Joinville. Buscou apoios para tratamento psicológico, e conseguiu. Lutou por terapia ocupacional para Junior. Conseguiu. Lutou por trabalho para ele, conseguiu! Só não conseguiu deter aquela que vem sem avisar e nos leva o que temos de mais precioso, a dona morte. Contra ela, Isolde não teve como vencer. Ela, essa ceifadora de almas silenciosa, levou seu marido, levou seu enteado Elézio, levou seu pai, sua mãe, e até Junior, por quem ela daria até sua vida. Em todas as perdas, ela estava ali, firme, lutando. Eita mulher guerreira!

Eu não sei o que seria de tanta gente sem Isolde! No meio disso tudo ela encontrou algo a mais para atuar, sempre a fim de servir ao outro. Foi participar do projeto social conhecido como Cerj, atendendo crianças e adolescentes para ingresso no mercado de trabalho. Ao longo de 20 anos essa pequenina fez coisas! Empregou milhares de adolescentes em convênios que arrumava via Prefeitura com Banco do Brasil, Correios, Akros e tantos outros. Dedicou-se tanto que esqueceu de si mesma. Dois anos após perder seu amado filho Junior, toda essa força empregada para ajudar aos outros não impediu outro ceifador de vidas silencioso, o AVC, comparecesse e a tentasse levar para outra dimensão. Mas não conseguiu. Passou 30 dias acamada no Zequinha, mas saiu dessa.

O que seria de mim sem Isolde? Acompanhei toda a sua luta de perto junto com muita gente boa como dona Marli, tia Ilse, a enfermeira Emidia, Ana, a prima Andreia, tia Lurdes, e ela ressurgiu como a Fênix. Acolheu-me em casa após minha separação, e lentamente junto com seus netos Gabriel, Lucas e João Pedro, foi se recuperando pouco a pouco. Com seus ensinamentos, fui redescobrindo o caminho que sempre deveria ter seguido, que era meu. Com a chegada de minha amada Gi e sua filha Rayssa, as melhoras foram cada vez mais significativas, e hoje ela já passa roupa, lava louça, faz pão e bolinho de banana, e até sopa já rolou pela cozinha!

Essa é minha mãe, Isolde, que me orgulha a cada dia, mesmo com suas manias no alto de seus 74 anos, muito bem vividos a cada etapa. Com coragem, força, determinação e sabedoria, ainda vai deixar muita coisa boa prá gente! Afinal, o que seria de nós sem Isolde?”

Morre Maria Laura Eleotério – Homenagem do Blog com o seu perfil, sua história

Maria Laura marcou época por suas posições fortes na educação, política e no movimento afrodescente

Acabei de receber a notícia da morte da sempre professora e diretora da Escola Básica João Colin, no bairro Itaum em Joinville (SC), Maria Laura Cardoso Eleotério, que também se notabilizou por ações junto ao movimento afro, no sesquicentenário da cidade, deixando marcas importantes para a sociedade. Tive o prazer de conviver com ela na política – quando assessor – e vivenciei a sua luta pelas mulheres, pelo movimento afro, sempre batendo de porta em porta, buscando apoios, recursos, e fazendo acontecer.

Escrevi seu perfil, um pouquinho da sua grande história, para o jornal Notícias do Dia. A matéria foi publicada no final de 2011. Nossa conversa foi longa, fui recebido com café, bolo, refrigerante, e muito carinho. Ela tinha muito orgulho dos seus feitos, e sempre estava maquiada, arrumada e perfumada. Para tirar a sua foto, a editora Loreni Franck teve de batalhar muito! Mas, ao final, conseguimos fazer e marcar a trajetória dela na educaçao e na vida comunitária. Com certeza ao lado do Criador, ela vai continuar a contribuir com boas energias para um mundo mais justo, solidário e humano. Aos seus familiares, os meus sinceros sentimentos. E para os leitores do Blog, segue o texto original que foi para o Notícias do Dia. Confiram, pois essa é a homenagem que o Blog presta a Maria Laura:

“Uma negra de fibra, baluarte da educação e do movimento afro”

Ela foi aluna dedicada, e depois professora exigente, diretora competente e fazia até o papel de polícia quando preciso para defender seus alunos da Escola Básica João Colin, onde trabalhou entre 1958 e 1987 e na qual foi diretora por 25 anos. Atuante nos bastidores da política, chegou a ser candidata ao senado como suplente em 2006. Não bastasse isso, fundou o Instituto Afro Brasileiro de Joinville para resgatar e manter viva a cultura dos afro descendentes do município que já teve a grande maioria da sua gente da raça alemã, suíça, norueguesa quando da imigração que formou a cidade. Essa é Maria Laura Cardoso Eleotério, 72 anos de vida de luta desde o Bucarein, onde nasceu.

Um pouco abatida pelo diabetes e um AVC, Maria Laura concedeu a entrevista na mesma casa em que nasceu, e mora até hoje. Mais magra, e com voz mais baixa, ela mantém a elegância que sempre a marcou, e se orgulha dos feitos como professora, diretora e fundadora do Instituto que ainda é presidente, mas que está passando o bastão para a filha e também professora Mariane Acácia Eleotério. O filho Edmilson é eletricista e funcionário público, e a filha mais nova, Biana, logo se forma em direito. “Eu nasci aqui, mas vivi muito junto da minha mãe lá no Palácio – onde hoje é o Museu da Imigração na rua Rio Branco -, já que ela era cozinheira da casa”, observa ela.

O pai morreu quando ela tinha apenas três anos. Logo cedo a menina Maria Laura foi estudar no colégio Rui Barbosa, onde as lendárias professoras Erondina Vieira e Maria Amin Ghanem marcaram época. Começou a trabalhar aos 14 anos, na biblioteca e já lecionando, substituindo uma professora. “Eu queria trabalhar, ter meu dinheiro. E queria comprar três coisas com meu salário: um batom, um sapato de salto alto e um óculos”, conta a ainda vaidosa senhora. Dava aula para turma de repetentes e outra turma melhor, diz. “Sou grata a essas professoras, pois na época só podiam dar aulas as concursadas, e elas ficaram firmes e me mantiveram”, destaca.

O Colégio João Colin entrou na vida de Maria Laura em 1958, quando segundo ela, a professora Lacy Cruz Flores veio para o Rui Barbosa e ocupou a vaga. “Devo também a dona Erondina a vaga no João Colin. Em 1962 assumi a direção e só parei em 1987. Fui eleita três vezes pela comunidade, votada”, comenta a educadora. Ela lembra das várias conquistas da sua gestão, como segundo grau, a quadra de esportes e outros. “O João Colin foi considerado o melhor colégio, tinha os melhores professores, muitos profissionais e lideres foram forjados lá”, diz orgulhosa Maria Laura. Nem as dificuldades com drogas e marginalidade que rondavam a escola nem o incêndio que a atingiu reduziram a vontade da diretora. “Sempre combati, e quem fez já pagou pelo que fez”, afirma.

Depois de aposentada, passou um tempo na praia em Ubatuba, e quando voltou criou o Instituto Afro Brasileiro de Joinville no sesquicentenário da cidade. A igualdade e oportunidade para os afros passaram a ser mais ainda a sua bandeira. Até hoje há atividades, e dona Maria Laura não descuida de nada. “Fizemos grande trabalho, são 45 mil negros na cidade, fizemos intercâmbios sociais, criamos o Museu da Mulher, enfim, muita coisa. Agora minha filha vai assumir e continuar a luta”, explica Maria Laura. Ela guarda fotos, placas, documentos e vídeos desse trabalho, lembra de cada um dos momentos. Jandira Reschiliani, 65 anos, é ex-aluna e exalta a mestra: “Ela ajudou muita gente, de forma desprendida, e até minha filha foi aluna nos tempos dela”, confirma. Agora chegou a hora de Maria Laura Cardoso Eleotério descansar, e receber as homenagens merecidas. Quem se habilita?”

Memória: João Colin 100 anos, o tributo de uma filha

Estátua do ex-prefeito João Colin está instalada no final da rua que leva seu nome, em uma praça que por vezes é até abandonada

Essa matéria eu produzi para o jornal Notícias do Dia em 2011, e sei que causou boa repercussão pelas lembranças do grande prefeito de Joinville, João Colin, marcando os 100 anos de seu nascimento caso ainda estivesse entre nós. Meus agradecimentos especiais para a senhor Rose-Marie Colin Storrer, e seu marido Edson Storrer, que abriram não só a casa e documentos antigos, mas também o coração para conversar comigo. Com muito orgulho do trabalho jornalístico, compartilho com os leitores essa bela história de gente que fez pela maior cidade de Santa Catarina:

“João Colin 100 anos – o tributo de uma filha”
Rose-Marie Colin Storrer mantém vivas as lembranças do pai no ano que marca o centenário de seu nascimento

Dia 12 de dezembro de 1957, dez horas e vinte minutos de uma noite em que o sono insistia em não chegar para Rose-Marie. O relógio de cabeceira faz um barulho alto e pára, tirando a adolescente da cama em um salto. “Acordei e vi meu pai na minha frente dizendo ‘estou indo’, e me assustei! Falei para minha tia: o pai morreu. Ela não acreditou, mas minutos depois tocou o telefone. Era de São Paulo, o hospital avisando que ele tinha acabado de falecer”, recorda a filha, emocionada mesmo após 54 anos da perda do seu ídolo, amigo, professor, João Herbert Érico Colin, ou simplesmente João Colin, um dos maiores prefeitos que Joinville já conheceu.

Rose tinha entao apenas 14 anos, e a perda prematura do pai a marcou muito. “Ele não foi só meu pai. Foi meu amigo, meu professor, e quando morreu eu fiquei completamente sem chão. Tenho saudades dele até hoje”, comenta ela sentada na mesma poltrona que João Colin sentava em sua casa, na sala de estar. Aliás, Rose e seu marido Edison Storrer fizeram questão de manter a residência exatamente como o líder político e empresarial a construiu, e mais, com móveis também da época, um verdadeiro museu histórico com livros, estantes, mesas, relógios, fogão à lenha onde muitas refeições foram produzidas, um ambiente que remete à Joinville da década de 1940.

Nascido em 2 de agosto de 1911, o único filho homem de Otto Colin e Ingeborg Hermann Colin – eles tiveram mais duas filhas, Inge Colin que também foi deputado estadual, e Hertha – João Colin estudou na Deutsche Schule, antiga Escola Alemã, onde hoje funciona o Colégio Bom Jesus. Muito ativo, falante e com raciocínio rápido o jovem João já se destacava como líder, e recebeu algumas horas de “castigo”, confirma a filha Rose-Marie. Complementou os primeiros estudos no Colégio Catarinense em Florianópolis, e dali foi para o Rio de Janeiro estudar direito na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, onde se formou em 1933 como o primeiro aluno da turma. Voltou a Joinville e exerceu a advocacia até quando foi convidado a assumir o comando das empresas da família que incluíam Indústrias Colin e Cia, Fiação Joinvilense, Ambalit, Cotonifício, e depois, uma indústria de felpudos, como conta Rose.

“Os familiares pediram muito a ele para assumir os negócios, que passavam por dificuldades. Meu pai tinha comando, tino para os negócios, para administrar e colocou as empresas como das maiores da cidade”, afirma ela com orgulho. Agitado e ansioso em realizar, João Colin dormia pouco, entre quatro e cinco horas somente, e fumava de quatro a cinco carteiras de cigarros ao dia. “Cinco horas da manha ele já estava na firma, na troca de turno. Tratava os operários com respeito e atenção, não diferenciava pessoas”, conta Rose. Suas paixões eram automóveis – “teve Buicks, Pontiacs, todos pretos e sempre com placas de numero 33, que ele dizia que lhe davam sorte” diz ela – o futebol com o Caxias, artes e a sua cidade.

João Colin foi presidente do Caxias, e injetava recursos até para que o clube desfilasse no carnaval. O perfil corajoso e solidário é lembrado pela filha e o marido Edison em uma passagem na entao fechadíssima Harmonia Lyra: “Só entravam doutores, a alta sociedade. Ele decidiu que o seu amigão, o negro Benedito, ia almoçar com ele lá. Os dois foram de terno, entraram com todo mundo olhando. Benedito falava alemão, pediram os pratos, e depois saíram. Ninguém falou nada”, contam às risadas. Esse lado social marcou muito a entao pequena Rose-Marie em visita ao Lar Abdon Batista. “Eu tinhas uns quatro ou cinco anos. Ele chorava de ver o lugar onde as crianças ficavam. E decidiu que ia reconstruir e dar dignidade a elas. E fez. Durante muitos anos até a morte dele as crianças e as irmãs vinham aqui em casa cantar o coral para ele”, recorda.

Com a redemocratização do país após a queda do ditador Getúlio Vargas em 1945, o empresário vitorioso entrou na política. Fundou em Joinville a União Democrática Nacional, a UDN em 1946. Foi eleito vereador, Prefeito por duas vezes (1947-1950 e 1956-1957), deputado estadual (1951-1955), e foi também Secretário de Obras e Viação do Governo de Irineu Bornhausen (1951-1955) por curto período. “Meu pai era pavio curtinho, curtinho! Bateu de frente com a turma da Ilha, e não deu outra. Decidiu voltar a Joinville, onde dizia, tinha muito a fazer”, conta Rose. Seus grandes adversários políticos eram Nereu Ramos (PSD) no estado, e Jota Gonçalves na cidade.

A popularidade de João Colin, seu estilo de estar sempre próximo ao povo o fez vencer a primeira eleição para Prefeito com sobras. A filha lembra que alguém disse a ele que se vencesse, pegaria um abacaxi. “Quando ele ganhou, eu disse a ele: pai, cadê o abacaxi”, relembra com saudades. A força política de João Colin o fez ser o deputado estadual mais votado do estado, levando consigo mais três deputados para a Assembleia Legislativa. Segundo dados do TER/SC, o deputado eleito conquistou 7.807 votos, o dobro dos demais eleitos, no tempo em que apenas 279 mil votaram para a assembleia legislativa. Foi ele quem lançou na política o primo Rolf Colin, que foi vereador e prefeito, e também Curt Alvino Monich (vereador), Nilson Bender e Helmut Falgatter, ex-prefeitos, os três seguidores da linha política de Colin.

Rose-Marie lembra do quanto a casa deles era agitada e movimentada. Entre tantas figuras ilustres, destaques para o governador de São Paulo, Adhemar de Barros, o governador Jorge Lacerda, entre tantos personagens ilustres. “O Adhemar ficava hospedado em nossa casa. Fritava ovo de manha cedo, era pessoa simples. O Lacerda, meu pai era primeiro adversário político, e depois o ajudou a ser governador”, destaca. Quando João Colin morreu no dia 12 de dezembro de 1957 no Hospital 9 de Julho em São Paulo, Adhemar de Barros mandou batedores pararem o transito para o traslado do corpo até o aeroporto, confirma Edison Storrer. E Jorge Lacerda insistiu para que adiassem o enterro até que ele pudesse ver João antes. Pedido atendido pela família.

A filha e o marido lembram de outra passagem engraçada que envolveu o João Colin e mostra o seu estilo peculiar. O embaixador da Alemanha veio à cidade e queria falar com o prefeito. Chegou na frente da Fiação Joinvilense e falou com um homem que estava sobre um trator, manobrando e aterrando um terreno. “Era o João Colin, mas ele não sabia. Meu pai disse a ele que era só entrar que o João Colin o atenderia. Quando o homem olhou e viu que era o mesmo, não acreditou”, diz Rose. Era homem de estar nos bairros, ao lado da população. Ajudou muitas pessoas, mas pedia anonimato às mesmas, não sem antes fazer um teatro negando o pedido. Detestava paletó e gravata, preferia andar casualmente, e de preferência com mangas arregaçadas. Aliás, seu mantra era “de mangas arregaçadas pelo bem e pela grandeza de Joinville”.

Homem público de visão, João Colin marcou sua passagem administrativa na Prefeitura pela pavimentação com paralelepípedos, iniciando um processo irreversível de desenvolvimento da infraestrutura de Joinville. Ruas como Duque de Caxias (hoje João Colin em sua homenagem), Nove de Março e 15 de Novembro. Abriu ruas e espalhou a cidade para o norte, sul, leste e oeste. Melhorou o abastecimento de água da cidade, deixou projetos para novas adutoras como a do Piraí, e tinha até projeto para que o município tivesse o seu aeroporto internacional, com acesso por avenida com quatro pistas, toda ornamentada nas laterais por lírios, conforme recorda Rose-Marie. “Ele tinha uma inteligência enorme, difícil de acompanhar. Era um homem à frente de seu tempo”, elogia ela.

Até no casamento João Colin foi determinado. Rose conta que o pai lhe dizia que ao ver a futura esposa, Paula, em seu escritório a procura de trabalho decidiu: vou casar com ela. Casou mesmo em 1941, e colocou seu nome no filho de Paula do primeiro casamento, do qual era viúva: Pedro Colin, já com 14 anos. Pedro teve destacada trajetória política sendo deputado estadual por duas vezes, presidente da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, quatro vezes deputado federal, além de ocupar vários cargos políticos. Pedro morreu em 2008 nos EUA.

Já Rose-Marie nasce em 1943, e é hoje a fonte viva dos fatos que marcaram a vida de João Colin. Ela estudou no Mackenzie em São Paulo após a morte do pai, morou um ano nos EUA, e voltou para Joinville para ficar ao lado da mãe. Casou com Edison Zadrozny Storrer aos 18 anos, ele tinha 19. Hoje vivem lado a lado administrando a Rádio Colon AM, outra luta de seu pai que só se concretizou após seu falecimento, em maio de 1958. Edison com a área financeira e administrativa, e ela tocando a programação. Rose tem os traços parecidos com seu pai, e também o temperamento agitado que a fez trabalhar em quase todas as campanhas do irmão Pedro Colin, ao lado do marido Edison.

“Puxei meu pai, mas não entrei na política como candidata não. Minha filha também é assim, e hoje até se arrepende de não ter entrado na política”, comenta Rose sobre a filha Ana Cristina Colin Storrer, psicóloga, casada com Jean Lischka, que lhe deu o único neto. O nome? João Colin. “O sonho de meu pai era ter um neto que levasse o seu nome à frente. O João tem seis anos, e tem verdadeira adoração pelo bisavô, pela história que contamos. Até os taxistas que ficam na Praça (início da Santos Dumont) já o conhecem. Que ele seja bom no que ele quiser ser, esse é o meu desejo”, afirma a avó coruja.

Sobre as causas da morte precoce de João Colin, Rose-Marie não gosta de comentar. Assinala apenas que foi provocada por depressão profunda fruto de um desgosto com negócios familiares. “Ele teve um infarto na própria empresa, e dali para frente vieram sete úlceras no estomago, e por fim a pneumonia que o tirou de nosso convívio. Não guardei fotos do seu enterro e velório, não gosto de lembrar. Ele foi tudo para mim. Mas penso hoje que há pessoas que vem para cumprir uma missão, realizam e vão embora, e ele foi assim. Mas nunca o esqueceremos”, afirma. Seu funeral foi um acontecimento histórico em Joinville. Milhares passaram em seu velório, realizado em sua casa – “pessoas se atiravam no caixão”, e também no enterro no Cemitério Municipal. A mãe Paula Colin morreu em 1973.

No centenário de seu nascimento, o resgate da história marcante desse industrial e político joinvilense relembra o mito que empresta seu nome a uma das principais vias da cidade, a rua João Colin, e a uma praça com um busto de sua imagem produzido pelo amigo Fritz Alt no final da mesma rua, volta e meia fica abandonada pelo poder público. Sua trajetória meteórica deixou um legado de talento administrativo e político exemplar, e de honestidade e popularidade ainda hoje lembrados.

Isolde da Costa: há 50 anos era nomeada diretora da escola João Colin

IMG_7896Uma portaria da Secretaria de Educação e Cultura do Governo do Estado de Santa Catarina, datada de 20 de abril de 1961. Papel já amarelado pelo tempo, datilografado (alguém lembra o que é isso?), e assinado pelo então governador Celso Ramos de próprio punho, nomeava a então professora normalista Isolde Bäer para o cargo de Diretora do Grupo Escolar Prefeito João Colin a contar do dia 1o. de março de 1961. Que achado! Esse documento foi guardado por minha mãe, a dona Isolde Bäer, hoje Isolde da Costa, uma das primeiras diretoras daquela escola joinvilense que homenageia o ex-prefeito de Joinville (SC), João Colin.

Pesquisando um pouco na internete achei um vídeo no Youtube dos formandos da escola em 2008, quando completou 50 anos de fundação, e o que encontrei? Um documento, logo no início, com o nome dela! Que fantástico ver um pouco da obra dessa guerreira que é a dona Isolde. Veja o vídeo no link .

Ela nasceu exatamente na cidade de Ilhota, mais precisamente no distrito do Alto Baú, o mesmo que foi diluído nas enchentes do final de 2008, lembram? Pois é, de lá ela e seus pais Helmuth Bäer e Mercedes Bäer rumaram para Jaraguá do Sul para tentar vida melhor. Pouco tempo depois já estavam, ela, seus pais e seus irmãos Nelson, Dionísio e Lurdes em Joinville, onde fincaram raízes. Isolde correu atrás. Com o pai sem recursos financeiros para manter a todos em casa, ela foi estudar no internato, à época conhecido como Ginásio São Vicente de Paula, hoje Colégio dos Santos Anjos. Ali estudou até 1957, quando se formou professora normalista, denominação que se dava naqueles anos.

No ano seguinte o governador Jorge Lacerda inaugurava então o Colégio João Colin, no velho Itaum, berço de grandes nomes da cidade, mas naqueles idos, um lugar perigoso e ainda pouco habitado. Isolde não hesitou em aceitar a vaga no João Colin, que poucos queriam. Três anos depois já era nomeada diretora, e fez um trabalho que é reconhecido até hoje. Alunos dela ainda se lembram da sua dureza parar ensinar, e da sua vocação para fazer acontecer, formando várias gerações. Infelizmente, ela deixou o magistério em 1966 antes deste jornalista nascer, a pedido do marido, para cuidar da casa e dos filhos dele (era viúvo), e deste que vos escreve, que chegaria ao mundo um ano depois. Acabou ali uma carreira que certamente seria digna de homenagens.

Grande mãe, guerreira, trabalhadora e inteligente, anos depois após perder o marido, e com o segundo filho nascido com problemas de deficiência intelectual, Isolde voltou à luta na Associação de Pais, Funcionários e Amigos do CERJ, Centro de Educação e Recreação Juvenil, onde seu filho pode ter educação para o trabalho, e onde ficou como presidente até 2009, quando deixou seu último mandato devido a ter sofrido um acidente vascular cerebral em 2007, no dia da sua posse para esse último mandato.

Ver uma figura tão pequena quanto ela em estatura física, mas tão grande em estrutura moral, me deixa orgulhoso. Viúva há 22 anos, dedicou sua vida a cuidar dos outros, solidária como é até hoje. Parabéns Isolde, minha mãe, eterna educadora prestes a completar 73 anos. Preservarei para sempre a sua memória quando um dia o Criador decidir lhe convocar para novas missões.