Enchentes, política e falta de educação e cultura

Infelizmente vemos novamente o filme que até os imigrantes viram ao chegar por essas bandas de Joinville, antiga Colônia Dona Francisca: cheias e mais cheias. Desde a decisão em construir aqui suas vidas, os imigrantes inicialmente, depois os migrantes e os nascidos na cidade, conviveram, convivem e sabem que conviverão com calamidades maiores ou menores que essas. Afinal em Joinville era tudo manguezais, banhados, e no centro da cidade ficamos ao nível do mar, o que faz com que os efeitos das marés venham a inundar as ruas até durante dias de sol.

Tantos e tantos governos se passaram, e nenhum deles teve a capacidade, competência, dinheiro ou vontade política para peitar os avanços imobiliários, industriais e também de residências em áreas passíveis de cheias e também deslizamentos. Claro que há pelo menos cinquenta anos atrás não se tinha a visão ambiental que temos hoje, ou melhor, que deveríamos ter. O fato é que para resolver esse grave problema das cheias, empreendimentos imobiliários que ocuparam áreas alagáveis com a complacência do poder público, deveriam ser responsabilizados e dar sua contribuição agora para a resolução dos problemas.

Todos sabemos, e andamos por lugares, em que há prédios, casas, ginásios de esportes e até shopping centers construídos por sobre rios no centro da cidade, que dirá nos bairros. Some-se a esse conhecimento, e omissão da sociedade, a falta de educação e cultura de um povo que joga móveis e lixo nas ruas, rios, córregos todos os dias, como se o lixo fosse para algum lugar e nunca mais voltasse, o resultado é o que temos.

Há que se ter coragem para enfrentar tudo isso, e dinheiro, muito dinheiro, sem o quê vamos ver esse filme repetidas vezes sem ter nunca uma solução. A sociedade tem de deixar de hipocrisia e de olhar para seu umbigo e partir para o que é preciso: retirar casas de onde não deve – onde ainda isso for possível, claro – e investir em conscientização, cultura, educação do nosso povo. E obras, muitas obras, para reduzir riscos e minimizar danos como os que vemos repetidas vezes.

Ah, e para finalizar: os políticos pararem de fazer uso político de um problema antigo e tão sério, culpando apenas o atual Prefeito pelo caos em vários bairros. Ocupantes anteriores da mesma cadeira pouco ou nada fizeram, inclusive vereadores, deputados e senadores atuantes e aposentados. É hora de fazer política com seriedade, de verdade.

Autor: Salvador Neto

Jornalista e escritor. Criador e Editor do Palavra Livre, co-fundador da Associação das Letras com sede no Brasil na cidade de Joinville (SC). Foi criador e apresentador de programas de TV e Rádio como Xeque Mate, Hora do Trabalhador entre outros trabalhos na área. Tem mais de 30 anos de experiência nas áreas de jornalismo, comunicação, marketing e planejamento. É autor dos livros Na Teia da Mídia (2011) e Gente Nossa (2014). Tem vários textos publicados em antologias da Associação Confraria das Letras, onde foi diretor de comunicação.

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